Mostra SP 2020 - 22 de Outubro a 04 de Novembro
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
As veias do mundo (Veins in the world, 2020) tem uma atmosfera graciosa, ainda que traga a triste realidade da ação das grandes empresas mineradoras nas estepes da Mongólia. É uma narrativa que reúne a infância, o amadurecimento e a relação entre pais e filhos com o drama de ver o lar sob a constante ameaça de desaparecer frente a ação destrutiva do meio ambiente pelos conglomerados industriais. Com tão delicado olhar, a direção é assinada por uma mulher, a cineasta Byambasuren Davaa.
Grande parte da graciosidade da obra está relacionada ao centro familiar do menino Amra, de 11 anos (Bat-Ireedui Batmunkh), em especial, sua delicadeza e inocência no primeiro ato, quando ele sonha em apresentar-se em uma competição musical na TV e tem, na figura paterna, um incentivador e um amigo. Em meio às belíssimas paisagens naturais da Mongólia, um cenário de encantamento pela terra e valorização das ancestralidades, Amra representa a futura geração que, a partir das experiências da infância, também precisa reconhecer o valor da identidade, da terra e da família.
Após um momento de luto, o jovem Amra passa por um processo de mudanças que não lhe tiram totalmente a doçura, mas é visível sua revolta. A fofurice cede mais lugar a um menino engajado que começa a se envolver na defesa da terra. Nesse ponto, a narrativa começa a desenvolver um tímido arco dramático no personagem, uma vez que passa por um processo de amadurecimento que, ainda que não seja tão aprofundado na direção, apresenta ao espectador a importância de não desistir das próprias raízes.
Recorrer a uma criança nessa dinâmica que envolve ancestralidade, família, casa, elementos internos como marcas identitárias de Amra e, paralelamente, denunciar a exploração das terras pelas mineradoras na Mongólia, faz um bom contraponto entre a ação interna, da defesa das raízes, das terras e do pertencimento ao lar, e a ação externa, que é o antagonista presente nas terras que, aqui, não é personificado em um personagem, mas através de outras imagens de exploração do meio-ambiente.
É um filme que conquista pela simplicidade, beleza e sinceridade, em especial, porque há uma perda que , a princípio , desfavorece a resistência sob a perspectiva da força, exemplo e liderança, porém, mais adiante, é visível que, o futuro do planeta depende das crianças e dos jovens, de como eles se organizam, aprendem com os mais velhos, não desistem dos sonhos e do amor às suas referências familiares, nacionais, culturais.
(3,5)
Fotos: uma cortesia Reprodução Mostra SP, via assessoria para imprensa credenciada.





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Cristiane Costa, MaDame Lumière