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Mostra SP 2020| Nadando até o mar se tornar azul (Swimming out till the sea turns blue, 2020)

 



Mostra SP 2020 - 22 de Outubro a 04 de Novembro



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Viva à permanência da Mostra SP em 2020!



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação




Com um título tão inspirador, bonito e poético "Nadando até o mar se tornar azul", o documentário do Cineasta Chinês Jia Zhang-Ke, presente na Mostra SP desse ano, é um evocativo retrato social da China Contemporânea desenvolvido a partir de relatos de escritores e acadêmicos Chineses de como se deu a construção dessa civilização. Situado em um vilarejo que concentra a vida provinciana de Shanxi, cidade natal do cineasta, o documentário entrecruza Literatura, História e Cinema na sua concepção e desenvolvimento.







Jia Pingwa e  Yu Hua





Jia Zhang-ke serve-se de uma sequência cronológica com registro histórico mas também preserva o reconhecimento das subjetividades sobre a China, utilizando o recurso memorialístico na narrativa. Ao convidar os escritores Jia Pingwa, Yu Hua e Liang Hong, ele assume uma direção que amplia o olhar sob essas experiências de formação da sociedade, abrangendo os anos 50, 60 e 70. É uma trajetória que se concebe através do percurso entre diferentes gerações, evidência que valoriza ainda mais a transversalidade entre memória, História e Literatura.












Levando em conta a China como atual gigante econômico, político e financeiro no mundo contemporâneo competitivo, o documentário se estabelece como um resgaste da simplicidade do interior e povo Chinês, e como essas bases ancestrais de disciplina, força e superação em meio à miséria e às dificuldades das famílias fazem parte do alicerce sobre o qual se estruturou e se fortaleceu a nação. É muito mais um documentário de homenagem à História e Cultura de um povo que não pode se esquecer de suas origens. Retornar à  infância e a juventude, percorrendo memórias literárias e históricas, é uma preservação do legado Chinês e uma inspiração renovadora para as atuais e futuras gerações.






O diferencial do documentário, além da experiência do consagrado diretor como um grande regente das imagens e das entrevistas, está relacionado à sua excelente capacidade de dar voz a autores literários que, através da Literatura, também ajudaram a formar o imaginário, a oralidade, a tradição e a história da China. A Literatura, como campo plural, simbólico e social, tanto  das subjetividades como também das experiências e relações dos sujeitos e grupos, se realiza a partir da construção de sentidos do leitor, assim, a Literatura  está em contínuo diálogo com o povo, sua história e cultura, e precisa dele para a sua preservação. Jia Zhang-ke  utiliza muito bem essa inter-relação ao longo da não - ficção, por isso, os escritores presentes são protagonistas especiais como exímios contadores de histórias.










Nesse sentido, um dos momentos mais belos é o relato da escritora  Liang Hong. Como uma mulher nascida na década de 70, mais contemporânea, seu depoimento é pleno de emoção sobre as memórias dos pais, da irmã, da vida rural e pobre. São lembranças tão vitais, mas também dolorosas, que ela mesma tem dificuldades para contar sobre a mãe doente e os esforços da irmã como arrimo da casa. É um relato honesto que encontrou, na Literatura e no Cinema, a importância da preservação da identidade, das raízes, da família e da memória.  Isso explica também porque o desfecho tinha que ter uma boa surpresa, refletindo as novas gerações Chinesas.






Assim é o documentário, preservar a memória, a História e a cultura, continuamente e profundamente, nadando até o mar se tornar azul.






(3,5)




Foto: uma cortesia Reprodução Mostra SP para imprensa credenciada.

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