Mostra SP 2020 - 22 de Outubro a 04 de Novembro
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Sob uma perspectiva bem feminina, há filmes que funcionam muito bem quando unem uma mulher na direção e outra talentosa atriz como protagonista que, juntas, conseguem narrar as nuances dramáticas dos conflitos da personagem. É o que ocorre na coprodução Alemanha e Grécia, Irmãs Separadas (Sisters Apart, 2020), drama sobre Rojda, uma jovem soldado Alemã com família originária do Curdistão, que decide procurar pela irmã Dilan em Erbil no Iraque. Com a excelente performance de Almila Bagriacik, o longa traduz bem o conflito de Rojda, dividida entre dois mundos, o Curdo-Iraquiano e o Alemão.
É uma narrativa em que a guerra, costumeiramente destrutiva, entra nas esferas pessoais dos personagens e se desdobra em ausências e perdas. Rodja é a irmã que, desde a infância, mora na Alemanha e tem o passaporte Europeu. Após buscar a sua mãe, Ferhat (Maryam Boubani), em um campo de refugiados na Grécia, Rodja tem a frustrante notícia de que sua irmã Dilan (Gonca de Haas) ainda encontra no meio dos combates curdo-iraquianos. É uma triste história de destinos separados pelos conflitos geopolíticos.
É comovente perceber que, mesmo que Rodja tenha um passaporte Alemão, viva confortavelmente em seu apartamento e tenha uma profissão de prestígio no exército do país, ela tem um conflito de identidade com relação às motivações curdas no Iraque e de como isso impacta a sua esfera familiar. Para ela, não vale a pena tanto perigo e morte por causa da terra, ainda assim, ela se sensibiliza com os sentimentos de uma mãe refugiada. É uma personagem que, no transcorrer da narrativa, entra em conflito e vai mesclando a postura racional com as emoções.
Indubitavelmente, os conflitos de Rodja são comuns em qualquer refugiado de guerra ou ascendente de nações em zonas de conflitos que, por uma escolha e/ou destino, estão vivendo como estrangeiros em países Europeus. Atualmente, a Alemanha é um dos países que mais receberam imigrantes nos últimos quatro anos, e especificamente, muitos são de países do Oriente Médio.
Assim, o duplo conflito da personagem é real: viver bem em uma nação desenvolvida como cidadã, e ver a família separada e o povo Curdo na miséria sob o risco de extermínio. Pelo menos no plano da ficção, Rodja é uma privilegiada que conseguiu crescer na Alemanha desde pequena e ter melhores oportunidades, porém, de maneira geral, nem todos os imigrantes vivem essa realidade tanto dentro como fora da Europa. Dilan é uma delas.
A performance de Almila Bagriacik é o ponto alto da história. Sem essa naturalidade dela, entre ser uma soldado centrada e áspera e uma irmã emotiva, o filme não teria o mesmo efeito dramatúrgico. Em um das cenas mais marcantes, ela explode em emoção, na zona de guerra, com a sonoridade dos cantos femininos do Oriente. Belo momento!
Ademais, a realização de uma perspectiva feminina na guerra é bem equilibrada com a presença da força militar Alemã, de maioria masculina. Rodja conta com a ajuda de dois soldados Alemães para treinar mulheres curdas em Erbil, entre elas, Berivan (Zübeyde Bulut). Ainda assim, são as mulheres como ela, Rodja, Dilan e Ferhat que transformam o filme em uma experiência de sororidade, presenteando o público com momentos comoventes de como elas reagem às perdas femininas e de como ainda é possível sobreviver com a irmandade e os afetos.
Fotos: uma cortesia Reprodução Mostra SP para imprensa credenciada.




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