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Mostra SP 2020| EYIMOFE (Esse é o meu desejo, 2020)

 






Mostra SP 2020 - 22 de Outubro a 04 de Novembro



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Viva à permanência da Mostra SP em 2020!



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação




Exibido no Festival de Berlim, Eyimofe (This is my desire, 2020) apresenta o vigoroso Cinema Africano ao narrar  duas histórias de moradores de Lagos,  na Nigéria, cujos sonhos de imigração são viver na Europa. Dirigido por Arie e Chuko Esiri, o roteiro foi desenvolvido com uma visão de como os personagens experienciam as dificuldades nas dimensões de emprego, moradia, relacionamentos e demais condições básicas para a sobrevivência e mantêm as aspirações de conseguir dinheiro e passaporte. Os sonhos persistem, porém a realidade é cruel e desmotivadora.








Jude Akuwudike, excelente performance. O ator têm experiência no teatro.





A definição de um roteiro com duas histórias que geram uma aproximação com relação ao sonho imigratório favorece a observação de distintas experiências dos personagens sob uma perspectiva de gênero e geracional. Dividida em 2 capítulos e um epílogo e ambientada em Lagos, a narrativa apresenta Mofe (Jude Akuwudike), um homem de meia-idade, funcionário de uma fábrica e eletricista, que deseja ir a Espanha; e Rosa (Temi Ami-Williams), uma jovem, bartender e cabelereira, que sonha em morar na Itália. São pessoas bem diferentes que enfrentam as lutas diárias que pouco facilitam a viabilidade de conquistas.







Arie e Chuko



São variados aspectos da vida em Lagos que são  contadas com um realismo impressionante presente na linguagem cinematográfica vívida. Do belíssimo multicolorido do figurino e desenho de produção a composição dos planos, enquadramentos, fotografia e locações, com uma qualidade excepcional, os diretores expõem o cotidiano da cidade e seus habitantes, inserindo o espectador nas áreas periféricas, em grande parte dos espaços. O cuidado com cada detalhe na decupagem agrega um frescor cinematográfico que chega a se aproximar de um registro documental, certamente, como uma inspiração do Neorrealismo Italiano.







É uma rica narrativa bem estruturada que funciona muito bem como denúncia da realidade de Lagos, porém, denunciar essas batalhas funcionam mais como meios de apresentar a condição de homens e mulheres do que propriamente o objetivo fim do longa. A direção não mostra os problemas sociais de uma maneira superficialmente expositiva e amplificada apenas para explorar a pobreza Africana, mas eles estão dizendo coisas sérias que circulam no cotidiano de Mofe e Rosa, como por exemplo, uma chefia de fábrica que prefere deixar o eletricista emendar uma tortuosa rede de  fios a ponto de causar uma explosão no local e está pouco preocupada com as condições de segurança de trabalho; e uma mulher estilo "gângster" oportunista que, para obter lucro, é capaz de pedir o filho de uma adolescente grávida, assim, servindo a práticas de tráfico humano.








Nesse sentido, os sonhos de Mofe e Rosa vão sendo podados por essas situações desagradáveis nas quais o dinheiro é o mestre. Em várias situações, os oportunistas que, inclusive, também sobrevivem com seus negócios ilegais, oferecem serviços com valores sobrelevados para Mofe e Rosa.  O passaporte torna-se mais caro, a venda de documentos falsos, idem. Nem um enterro sai barato com o alto custo dos túmulos.  O capitalismo selvagem se torna ainda mais impiedoso nesse contexto, logo, o longa deixa nítido como a falta de dinheiro endurece demais a vida e a realização dos sonhos.








Temi Ami-Williams, papel de Rosa, traz questões de gênero, raça e sexualidade






Em outras circunstâncias, desafios transversais de gênero, raça e sexualidade são bem visíveis na história de  Rosa. No caso dela, uma mulher atraente, surge a problemática do corpo negro feminino como desejo  e objeto. Nesse ponto, o filme traz questões sexistas, infelizmente, realistas, entre as quais: Rosa conhece um estrangeiro, Americano, que lhe proporciona alguns momentos em lugares nos quais ela não teria condições de pagar; e seu inquilino,   um senhor de meia-idade e com melhor poder aquisitivo, vive stalkeando a  jovem, oferecendo descontos no aluguel e disposto a mantê-la em troca de sexo ou casamento.  Tanto um com o outro são homens que reproduzem a objetificação dos corpos negros na forma como são apresentados na narrativa, mesmo que, na aparência, sejam "carinhosos". Rosa, sem muita opção, acaba cedendo à ajuda.






À Rosa também cabe a criação e educação da irmã menor, com isso, ela é também a mulher que não tem a liberdade que tanto deseja, que desempenha um duplo papel, irmã e mãe de Grace (Cynthia Ebijie), constatação que, além de ser arrimo da casa, ela não tem a mínima condição de sustentar as duas. Os trabalhos autônomos de Rosa, como cabelereira, bartender e revendedora de suas roupas, sapatos e perfumes, dão uma ideia triste de que, nesse contexto, não importa a identidade e realização profissional, o que importa é conseguir o dinheiro para a comida e o aluguel. 







Apesar de todos esses aspectos e desafios no cotidiano de Mofe e Rosa que, seguramente, poderiam deixá-los com o coração duro e com atitudes de revolta e violência, o oposto ocorre na narrativa e isso é muito bom de ver. Eles valorizam a integridade: lutam para pagar as despesas médicas, ajudam os mais jovens, trabalham como autônomo. Como uma reconfortante virtude desses personagens, eles não perdem a tranquilidade, a esperança e os afetos. 






Eyimofe (esse é o meu desejo) é sobre sonhos e frustrações, mas também é sobre sacrifícios que fazem parte da sobrevivência em uma realidade hostil. Nem sempre imigrar com dignidade será possível. Não fazê-lo não impede de ressignificar a própria vida.










Fotos: Uma cortesia Reprodução Mostra SP 

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