Lançamento disponível na plataforma Edit TV
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Lançado em 25 de Novembro na plataforma Edit TV, Trilha sonora da cidade (2020), documentário de Edu e Gab Felistoque, resulta em uma bela homenagem aos músicos e artistas de rua. Ambientado em São Paulo, o longa-metragem rompe a barreira do culto ao show business alimentado pelo establisment na elite cultural e traz à cena a potência da música que nasce de outras narrativas urbanas, subjetivas e sociais em espaços públicos.
Com uma excelente montagem e uma condução ampla e exemplar das entrevistas, o documentário dá voz aos que não precisam estar em um palco alto para mostrar a cultura do Brasil e suas múltiplas linguagens em uma das maiores metrópoles do mundo. Os documentaristas entrevistam vários músicos, para citar alguns: Teko Porã, Grande Grupo Viajante, Lamppi e Lilian Jardim que, como cidadãos e artistas autênticos, têm o direito ao trabalho, à liberdade de expressão e a difusão da cultura.
Neste sentido, como é compor suas próprias letras e realizar performances nas ruas e metrô? Como é montar o som em uma esquina ou praça e lidar com os desafios do cotidiano para quem vive de Arte? Quais são as reações relacionadas à recepção do público? Quais são as experiências de artistas cheios de conhecimento, sonhos e sensibilidade? O documentário é completo nesta valorização de vozes artísticas.
"Todos têm um estilo próprio, músicas autorais, vão para a rua com suas composições e ali entendem a recepção do público. São cabeças e pensamentos distintos. Alguns passam propostas ideológicas, outros estão ali porque curtem a ideia de se apresentar na rua”, reflete Edu sobre os personagens de seu filme."
O principal mérito do filme está inserido no próprio título da obra: trilha sonora da cidade. É sobre ocupar a cidade com música e arte, com poesia e existência. Ocupar São Paulo e tantas outras cidades do país é um ato de resistência e um direito do cidadão. É permitir-se interagir com os espaços públicos e as pessoas e aceitar o outro como um semelhante mesmo em suas diferenças. É escolher seguir um caminho diferente do mainstream e da banalização musical.
Com locações na Avenida Paulista, Metrô Vila Madalena, Praças Roosevelt e Antonio Prado, Avenida Faria Lima, Paraisópolis, além das tomadas internas nos espaços intimistas dos músicos, os cineastas realizam um documentário agradável e envolvente, como um bom bate papo com um copo de cerveja em um boteco no Centro da Cidade. Aqui, o espectador como o da rua, pode deixar de lado a massiva celebração da indústria cultural de consumo e as viciantes diversões em You Tubes, Spotify e Deezer e passa a ouvir as histórias construídas por amor à Música.
Dentre estas virtudes, a direção coopera muito para valorizar estas vozes pois é fluída, espontânea, mediadora. Sem egos e frescuras. Há o direito à palavra e à canção. Na experiência como Cinema, fascina a coragem e resiliência dos músicos em ocupar a cidade com sua música em um país que nem sempre valoriza ótimos artistas como eles na forma que merecem, porém, não há vitimismo. O que há é o direito de ser, existir e trabalhar fazendo o que se gosta. Verdadeiramente, estes artistas de rua confiam na recepção do povo.
O mais bonito no documentário é perceber que o artista de rua possibilita uma reflexão sobre a horizontalidade das relações humanas e o que efetivamente consumimos como cultura Brasileira. É um filme de escuta no qual o espectador é convidado a ouvir estes artistas, suas histórias e percepções sobre música e experiência. Através deles, a interação é legítima, afetiva, igualitária. O público não precisa deixar de idolatrar deuses vaidosos em palcos high tech, mas é preciso valorizar a boa música onde quer que ela esteja. Muitas vezes, ela está no espaço mais improvável, em ambientes aconchegantes ou abertos, livres.
Assim, entre os sofisticados e modernos prédios, o agito dos vagões de trem e metrôs e a simplicidade das pracinhas tradicionais, em algum cantinho ou esquina, sem estes músicos de rua, a cidade seria cinza e triste demais.
Fotos e citação do diretor, uma cortesia Assessoria de imprensa.
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