Estar sozinho não é um problema. Há momentos em que a solidão é um convidado especial, daqueles que a gente arruma a sala para ele entrar, prepara um chá ou café, abre um livro ou escolhe um filme e silencia a alma. A solidão é bem vinda quando ela preserva um território íntimo para dar fôlego, recuperar as forças, brindar um tempo a si mesmo. Por outro lado, quando ela se integra tanto ao cotidiano, cinza, angustiante, dolorosamente sentida, ela é dilacerante. Qualquer fio de amor e esperança é como uma salvação, mesmo que o sonho se transforme em desilusão. Certamente Setsuko de "Oh Lucy" compreende a solidão da pior forma: a solidão com momentos de fuga e desespero.
Interpretada por Shinobu Terajima, Setsuko é uma mulher de meia idade que vive sozinha em Tóquio e trabalha em um escritório com várias pessoas falsas e desprezíveis. Sua vida entediante vai além da porta de seu apartamento bagunçado. Ela não tem amigos. Seus colegas de trabalho são aquelas relações corporativas frágeis, vazias. Sua única irmã não lhe tem afeto. Sua sobrinha é uma daquelas jovens cheia de vida e ideias focadas em suas próprias aventuras. Setsuko é solitária. Certo dia, ela tem uma surpresa que funciona como um antidepressivo: frequentar as aulas de inglês com o professor americano John (Josh Hartnett). Adepto a uma estratégia de dar nomes americanos aos alunos, ele começa a chama-la de Lucy.
O que seria uma simples aula de inglês, transforma-se no único apego de Lucy para uma rotina menos ordinária. Carismático, alto e boa pinta, John é o sonho americano que seduz e desaparece de um dia para o outro. Lucy inicia uma jornada em busca dele. Assim, ela vive uma grande ilusão, similar àquelas situações nos quais uma pessoa deposita sua felicidade integralmente em uma pessoa. Nesse sentido, as circunstâncias da narrativa são construídas muito mais para combinar o sonho e a realidade e evocar um momento emocional de uma busca desesperada pelo afeto.
Com essa dualidade sonho - realidade, Oh Lucy é um doce conto sobre a solidão. Começou a partir do curta de mesmo título realizado em 2014 e a diretora Atsuko Hirayanagi decidiu retomá-lo em longa - metragem. Ela investe em mostrar a solidão de uma maneira fugaz, ilusória e tragicômica. Nessa perspectiva está uma de suas forças emotivas como Cinema: a história é sincera assim como as atitudes espontâneas de Lucy. Impregnado de fantasia e ingenuidade diante das relações fragilizadas do mundo urbano contemporâneo, o filme tem essa beleza de falar de coisas sérias como a solidão, o suicídio, a rejeição sem perder a ternura.
As boas atuações de Shinobu Terajima, Josh Hartnett , Kaho Mihani e Koji Yakusho reforçam que todos os personagens lidam com a solidão de diferentes formas, como o professor mentiroso e loser que não se fixa em um relacionamento, a irmã que critica a outra irmã e é incapaz de olhar a própria vida vazia, o homem maduro que permanece em luto mas que carrega uma energia otimista. São formas distintas de vivenciar a solidão que apoiam o protagonismo de Lucy e corroboram o realismo da história.
Desse modo, comédias dramáticas como Lucy são como um conforto para os ânimos fragilizados. São realizadas para mostrar que todos são solitários, de uma forma ou de outra, e não há vergonha em realizar uma loucura para buscar a felicidade e partir em uma jornada que coloque o lado depressivo da vida em segundo plano. Finalmente, não há vergonha em assumir o "sou solitário(a) e preciso fazer algo que me arranque dessa solidão. Pelo menos, preciso tentar fazer algo."
Desse modo, comédias dramáticas como Lucy são como um conforto para os ânimos fragilizados. São realizadas para mostrar que todos são solitários, de uma forma ou de outra, e não há vergonha em realizar uma loucura para buscar a felicidade e partir em uma jornada que coloque o lado depressivo da vida em segundo plano. Finalmente, não há vergonha em assumir o "sou solitário(a) e preciso fazer algo que me arranque dessa solidão. Pelo menos, preciso tentar fazer algo."
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Cristiane Costa, MaDame Lumière