Destaque no Cesar Awards com o prêmio de revelação dado à atriz e cantora Camélia Jordana, nova estrela do Cinema Francês, o longa-metragem de Yvan Attal "O Orgulho" (Le Brio, 2017) entrou em cartaz nos Cinemas Brasileiros este mês. Aborda temas bem contemporâneos na França: um novo perfil das juventudes francesas, a originária de imigrantes, pobre e moradora das periferias, além do preconceito e a construção da linguagem na retórica. Temas que estão em linha a este controverso contexto.
Com a participação de Daniel Auteuil, o filme reúne uma emergente atriz francesa de ascendência Algeriana com um experiente ator francês nascido na década de 50 e de extensa filmografia. No plano da historia, uma mistura de atrito entre a geração Y e a baby boomer, o novo e o conservador, o pobre e o rico, o jovem e o velho, o francês de família estrangeira e o francês classe média purista e privilegiado. Por outro lado, a historia possibilita ganho e troca de experiências entre um ator já estabelecido no Cinema Francês e uma nova estrela.
No início da historia, o primeiro choque: o professor Pierre Mazard (Auteuil) mostra seu comportamento arrogante, racista e controverso ao expor e agredir verbalmente a aluna de origem árabe , Neila Salah (Jordana), em um amplo auditório cheio de alunos. Ela não baixa a guarda e nem ele, dessa forma, a historia segue para uma outra alternativa construtiva na qual eles aprendem a conviver um com outro. Para não ser demitido, Mazard recebe a responsabilidade de ser o mentor de Neila. Ela é aspirante à advogada. Ele vai prepara-la para um concurso de eloquência.
Desde esse primeiro momento, estamos diante de um filme ame ou odeie. Também tem a terceira posição: o público vir a nem amá-lo e nem odiá-lo, apenas naturalizar as escolhas do diretor e entrar no clima do humor cômico dramático. A recepção do longa depende muito de como cada espectador recebe essas decisões tomadas pelo cineasta, afinal, Attal não teve muito tato no primeiro conflito entre os personagens e a execução irregular dá muito espaço para críticas negativas.
O diretor optou por uma escolha extremista ao colocar Pierre Mazard como um homem intelectual sem papas na língua e vazio em espírito solidário, sem qualquer respeito e educação com um aluno. Decisão bem radical que acaba criando uma cena mais expositiva do que sugestiva, mais explícita do que implícita. E, no Cinema, o poder da sugestão é muito mais eficiente do que o choque pelo choque. Na maioria das vezes, o preconceito social e racial ocorre de forma muito mais cínica e violenta. Attal opta por várias situações nas quais ele expõe quem fala fora da língua padrão ao ridículo, como por exemplo, o namorado de Neila que, em distintas situações, é corrigido pela namorada.
Bem rapidamente, a narrativa se posiciona de forma a desenvolver essa relação amistosa entre Pierre e Neyla, a do homem branco privilegiado que ajuda a filha de imigrantes da periferia de Créteil. Essa escolha tem uma fronteira tênue que transita entre acreditar na confiança que ambos estabelecem ou simplesmente achar que a relação é uma grande enganação. Tudo isso faz parte da construção dessa linguagem, da retórica que constrói a própria narrativa. No roteiro, optaram por dar uma chance para um homem racista, como se ele pudesse mudar da água para o vinho em pouco tempo. Tal decisão, aos olhos dos espectadores mais realistas, certamente gera incômodo.
O Orgulho é cheio de boas intenções, mas "o inferno está cheio de boas intenções". Assim, o filme perde em qualidade e credibilidade ao não se posicionar de maneira realista e não conformista. Pelo desenvolvimento, ele se assemelha a um faz de conta francês no qual o rico ajuda o pobre e ambos ganham. Até aí não havia tanto problema e era possível acreditar na boa intencionalidade dos momentos inspiradores como o desenvolvimento do potencial de Neila e a possibilidade de construir uma relação amistosa.
Mas, é exatamente o último ato que toma uma direção frustrante, pois reproduz a velha fórmula de como as coisas são e é natural as pessoas usarem umas as outras. Com essas escolhas, o longa mostra como a persuasão vale mais do que a justiça e a honestidade. Daniel Auteuil performa um personagem desagradável com maestria, Camélia Jordana tem carisma e é envolvente na atuação. Seus personagens seduzem com a construção dessa linguagem. Nesse ponto, o filme é funcional e merece algum crédito. Sua eloquência permanece como um discurso construído para mostrar como a França ainda é conservadora.
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