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Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação O risco de realizar um remak...

Fahrenheit 451 (2018)







Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação




O risco de realizar um remake de uma icônica obra é não conseguir superar-se na própria proposta de releitura contemporânea. Logo, o problema principal não é superar o clássico, mas trazer um diferencial que justifique todo o trabalho realizado na nova produção.


É o que acontece com "Fahrenheit 451" (2018), dirigido pelo jovem Ramin Baharni, uma adaptação do romance de Ray Bradbury, obra que também foi adaptada para os Cinemas por François Truffaut em 1966. Na história situada no futuro, um bombeiro começa a questionar o porquê tem que destruir os livros. Para encabeçar o elenco, dois atores muito interessantes: Michael B Jordan e Michael Shannon. 


Na execução do filme, o design de produção e fotografia oferecem uma boa ambientação sci-fi, um toque de Blade Runner, outra de Vingador de Futuro, entretanto um filme é muito mais do que o visual. 

Esse Fahrenheit 451 se escora significativamente no visual. Fato! A narrativa não tem densidade o suficiente que possibilite os atores trabalharem minimamente com o riquíssimo valor simbólico da obra. Como o roteiro não desenvolve muito bem os atos e não aproveita os coadjuvantes da Resistência, chega uma hora que o filme apenas gasta metragem e nada mais.




Mesmo que Shannon comprove ser um baita ator capaz de hipnotizar o público em mais um vilão, até mesmo ele encontra dificuldades para transitar em um longa que pouco intensifica as reflexões distópicas, políticas e filosóficas em questão. Como a personagem de Montag (Jordan) esconde o seu incômodo com relação à tarefa de queimar livros e não permitir que o conhecimento chegue às pessoas, os dois atores principais pouco interagem, como consequência, os dois acabam ficando isolados. 

Michael B Jordan, uma estrela emergente que ainda precisa ter um bom diretor que o faça voar na atuação, fica em uma situação bastante delicada entre cenas. Ao realizar o papel do bombeiro Guy Montag, o conflito e a responsabilidade dramatúrgica cai consideravelmente sobre ele. 

Mesmo que Jordan seja competente e tenha forte potencial para novas produções no cinema, é perceptível que Baharni não tem sólida experiência como diretor de atores para esse tipo de gênero, então, Jordan permanece solitário e com o peso sobre os ombros. Nesse contexto, restou-lhe ou atear fogo nos livros ou aprender um pouco mais com Shannon. Em determinadas cenas, ele demonstra insegurança em como tornar seu personagem mais profundo, uma preocupação que transcende o caos sofrido por seu personagem.

Sob a perspectiva de uma contação de histórias, seja ela qual for, o filme também tem problemas de foco e de entregar ao público uma boa experiência para pensar o simbólico e atemporalidade da obra. Se a intenção era deixar o roteiro mais solto, certamente, para optar por essa estratégia de não dizer tudo que é preciso, é necessário saber como deixar a obra audiovisual se completar na experiência e olhar de cada um. Nitidamente, Fahreiheit 451 demonstra não ter uma intenção muito clara, em como se dirigir e/ou se posicionar ao público. Acaba focando demais no fogo aos livros, nos conflitos de Montag, tudo a um nível superficial.





Não há dúvidas que a premissa de Bradbury é bastante complexa e dá muito pano para manga para questões políticas, filosóficas, sociais, existenciais, assim, dificilmente o livro será superado e nem o Cinema tem essa responsabilidade. O grande problema é que Baharni não foi o diretor mais adequado para uma obra dessa magnitude.


Basta recordar que o cineasta Denis Villeneuve, ao realizar a versão contemporânea de "Blade Runner" tinha bastante estrada. Já tinha comprovado que tinha repertório e competência para rodar um sci-fi, fato que pôde ser visto em A chegada (The arrival, 2016). 


Pode parecer uma atitude cruel de exclusão dizer que há filmes que merecem determinados diretores, mas essa é uma afirmação necessária. Cabe reforçar: nem todos os filmes funcionam com certos cineastas.





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