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Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação A velha expressão "Vingan...

Amaldiçoada (2016)







Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação




A velha expressão "Vingança é um prato que se come frio" não se encaixa em "Amaldiçoada" (Brimstone, 2016), uma combinação de western , thriller e horror psicológico dirigido pelo holandês Martin Koolhoven. O filme é uma dilacerante jornada ao inferno no qual a vingança seria tudo a ser evitado se os males encarnados pelo ser humano não levassem vidas à desgraça, porém, ela é uma consequência irremediável para um almejado encontro da sobrevivência e da paz.  


Com uma narrativa que segue uma montagem recortada por livros bíblicos (Revelações, Êxodo, Gênesis) e Retribuição,  o longa apresenta como se dá a origem dos conflitos entre a jovem Liz (Dakota Fanning) e o Reverendo (Guy Pearce).  A construção   coopera para adicionar elementos biográficos que são revelados ao longo da história como um infortúnio que a protagonista está condenada a vivenciar.  


Caracterizada por ser discreta e misteriosa, Liz é muda e vive com seu esposo e filha em uma cidade interiorana. A chegada do macabro Reverendo provoca-lhe um profundo incômodo, dessa forma, a história é desenvolvida de forma a criar tensão em cena, em perversidades que, pouco a pouco, se alargam em ações cruéis de intenso apelo audiovisual que cercam a vida de Liz.  







Dakota Fanning tem um estilo de atuação centrado e equilibrado que combina com a tragédia de seu personagem, corroborando que Liz não tem escapatória do mal que lhe acomete. Guy Pearce, acostumado a personagens estranhos, encarna o próprio mal na figura de um reverendo que mais é o próprio demônio a vagar pela terra. Sua atuação tem um efeito simbólico desagradável onde quer que ele caminhe, como a representação da própria maldição. 


Em uma participação especial está Kit Harrigton, entretanto, pouco significativa, e reforça que ele ainda não foi bem utilizado em longas  metragem. Entre coadjuvantes, destaque para a jovem Emilia Jones, seu frescor em cena em meio a uma parte pesada do drama é notável. Com pequena ponta, Carice Van Houten (Melisandre de Game of Thrones) performa bem um dramático papel como a esposa do Reverendo e é uma atriz que deveria integrar mais elencos no Cinema.





Koolhoven harmoniza bem três questões chave para essa boa produção: o desenvolvimento do sofrimento de Liz, como uma ideia de julgamento e condenação remetendo à ideia do enxofre (Brimstone, termo bíblico em inglês); a estranha obsessão do Reverendo por ela; e uma direção que revela o inferno de uma maneira intensamente sádica que chega a ser incompreensível como os mistérios do bem e do mal. 


Em diferentes cenas, o longa é opressivo não apenas no trato com as mulheres, o que era comum em westerns, um gênero e ambiente cinematográfico bastante masculinos na tradição, mas também porque Koolhoven orquestra uma atmosfera macabra na mise en scène, que retoma referências pagãs de como mulheres eram perseguidas em suas escolhas, violentadas, castigadas e condenadas como prostitutas e bruxas, feridas no corpo e na alma. Desde como a violência se dá no ambiente familiar, como também em um clima de horror que se aproxima de filmes como "A bruxa", Koolhoven é eficiente e não compromete o argumento.


Levando em conta toda essa  combinação de opressiva saga familiar e drama individual em um brutal westernAmaldiçoada é um filme bastante perturbador. Demasiado cruel. Oportunamente simbólico e contemporâneo.  Como uma das interpretações possíveis, ele revela que o mal está no cotidiano a partir de homens que são falsos profetas e que, de uma forma ou outra, são os homens que infernizam seus semelhantes. Fatalmente, o ser humano pode ser benção ou maldição. 







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