Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Missão Impossível 2 foi lançado em 2000, quatro anos após o debut da franquia. Sua execução evidencia uma clara mudança de prioridade narrativa: mais ação e menos suspense. Se o primeiro filme dirigido por Brian de Palma entrega uma experiência alicerçada no suspense e ação que encontram eco no estilo do diretor e em linha com a década de 90, em MI-2 John Woo realiza exatamente o que sabe fazer: a espetacularização da ação.
Sua experiência como diretor em uma geografia asiática que tem tradição na coreografia de lutas, sequências de ação e violência interessaram ao projeto de continuidade da franquia que se encontrava em um divisor de águas. Dar sequência a um blockbuster de atenção às massas significava arriscar no espetáculo considerando que o primeiro mantinha uma estilização maior do thriller de espionagem. Nesse sentido, Tom Cruise muda sua imagem e investe em um filme explosivo. Aparece mais cabeludo, bronzeado e sarado. Logo de cara, ele introduz o filme escalando como um guerreiro imortal que acabou de voltar de uma viagem de férias de aventura.
O segundo filme é o mais frágil de todos embora preserve uma boa dose de agilidade e adrenalina na ação. Apesar de ser um entretenimento meramente visual, ele faz parte de um importante processo de aprendizagem da franquia que, felizmente, mudou a rota da linha dramática a partir do terceiro filme. Além do mais, John Woo estava ampliando a internacionalização de sua carreira nos Estados Unidos. Após realizar filmes com Nicolas Cage e John Travolta (A outra face, A Última Ameaça) e Jean Claude Van Dame (O Alvo), era consideravelmente expressivo trabalhar com um astro Tom Cruise em uma exponencial marca fílmica como MI, com alto orçamento e maior plateia.
Aqui, o fio narrativo de Missão Impossível é desconfigurado por uma temporada. Se antes Ethan Hunt preservava o trabalho em equipe alinhado a IMF e com participação de outros agentes secretos para o desenvolvimento de uma missão, em MI-2, ele é transformado em uma arma única, age mais sozinho e isolado. Fatalmente, essa característica do roteiro fragiliza a relação de Ethan Hunt com os demais personagens e com os conflitos.
Mesmo escrito pelo experiente Robert Towne (de Chinatown), o roteiro é raso em vários sentidos, com escolhas que enfraqueceram a narrativa: a missão é bem simples, mais do mesmo; um vilão inexpressivo e caricatural, Sean Ambrose, (Dougray Scott), uma amante para a qual é dado um papel subserviente para atender os interesses dos homens da história (Thandie Newton). Para fragilizar ainda mais a figura da mulher, em determinadas falas dos personagens de Scott e Anthony Hopkins, há um tom machista, como se ela servisse apenas para seduzir o apaixonado Ethan Hunt e o medíocre vilão. Usada como uma isca.
Ethan Hunt recruta a bela ladra Nyah (Newton), se envolve sexualmente com ela e a partir de então, a rivalidade entre ele e o vilão é agravada. O que deveria ser um assunto meramente do serviço secreto e para proteger a humanidade se desenvolve para um assunto pessoal entre homens. Várias cenas são elaboradas para romantizar a situação: o encontro ao som da música flamenca, a sequência de perseguição com os carros e a libido entre Nyah e Hunt, a imediata paixão entre eles, o ciúmes dos homens. Ironicamente, mesmo que Nyah seja o ponto em comum entre Hunt e Ambrose, ela não é uma personagem feminina valorizada pelo roteiro.
As motivações de Ethan Hunt acabam sendo romantizadas e não combinam tanto com o IMF. Elementos do suspense, do imprevisível, da sugestão são deixados de lado. Thandie Newton é subutilizada, o que mostra um conservadorismo na sua permanência, sem muito poder de ação. Para o bem dos fãs, a mulher na franquia ganhou um contorno mais ativo, inteligente e relevante nos filmes vindouros.
Diante de tanta problemática, Missão: Impossível 2 deve ser encarado como uma experiência de espetáculo. Apenas pura diversão, com o benefício de ter excelente trilha sonora do genial Hans Zimmer! O longa reafirma que John Woo sabe fazer ação, inclusive as mais impensadas e improváveis. Ele exagera pra valer como se Ethan Hunt fosse indestrutível. De fato, há um ligeiro humor nessa ação exacerbada e historia fica em segundo plano. Tom Cruise se fortalece como um excepcional ator de ação. Eles cumprem bem esse papel, assim, os admiradores de Cinema de ação se divertem sem esperar muito da linha dramática.
Sob a perspectiva de um agente secreto que age como um exército de um homem só, restou apenas a John Woo e equipe trabalhar com os aspectos técnicos da decupagem das sequências de ações. O lado bom é que, a tempo, foi possível melhor os filmes posteriores do MI e consolidar o sucesso da franquia.
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