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Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação Sedutora e deslumbrante. Uma mu...

Eu te matarei, querida (My cousin Rachel, 1952)





Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Sedutora e deslumbrante. Uma mulher dúbia em uma das mais elegantes e trágicas aparições de uma mulher no Cinema. Essa é Olivia de Havilland em "Eu te matarei, querida" (My cousin Rachel, 1952) ao lado de Richard Burton. Ela, a misteriosa prima Raquel cujo marido, Ambrose Ashley, faleceu de um tumor cerebral em circunstâncias duvidosas. Ele, o jovem Philip Ashley, sobrinho de Ambrose, que recebe cartas do tio cheias de ódio contra Rachel. 







Nesse obscuro contexto de luto e desconfiança, Rachel e Philip se conhecem. Ela passa a viver na casa do jovem primo. Ao conhecer essa bela, delicada e refinada mulher, a fúria de Philip contra ela fica em segundo plano. Ele se apaixona perdidamente pela misteriosa e hipnotizante prima. Para o jovem, antes ela era uma interesseira na fortuna da família e suposta assassina. Mais tarde, a mulher com quem ele deseja legitimar um matrimônio.


Dirigido por Henry Koster, o filme é uma harmônica joia concebida como um romance gótico.  Toda a trama de paixão, ciúmes e mistério é envolvente e descontrola a relação de ambos. Ao mesmo tempo que se aproximam, há continuamente elementos de instabilidade no relacionamento, nos diálogos, nos silêncios, gestos e olhares, nas ações intempestivas e viradas emocionais. A paixão e o desprezo estão lado a lado nas fronteiras das emoções e expõe a dualidade do conflito. 





A construção de uma mise en scène mais centrada no casarão de Philip oferece uma ótima ambientação obscura, com jogo de sombras, presença de espelhos e uso dos dormitórios na calada da noite. A movimentação dos atores em cena apresenta momentos bem românticos como declaração de amor na frente de uma sacada, visitas noturnas nos quartos, conversas a sós e cuidados com a saúde no leito de desfalecimento, mas também uma dramaturgia acentuada na passionalidade, em especial na brilhante performance de Richard Burton, emotivo à flor da pele, doente de amor. Essa primorosa atuação lhe rendeu uma nominação ao Oscar de melhor ator coadjuvante e o prêmio de melhor ator revelação no Globo de Ouro (1953).


Tanto Havilland como Burton estão bem calibrados na performance, então, ainda que não seja um clássico tão valorizado como outros, se torna um filme que vale ser observado pelo conjunto das atuações. Cada personagem é bem distinto e é exatamente essa diferença que traz um elemento de forte conflito. Rachel é uma mulher elegante e madura. Pouco se sabe sobre seu passado, mas sua fala é articulada, expansiva, sociável. É aquela mulher que se deixa notar e ficar curioso(a) a respeito.  Ela pode ser uma assassina ou não. Por outro lado, Burton dá uma força dramatúrgica bem coerente ao jovem Philip. Ele é cheio de vida, mas imaturo e inseguro. Tão instável que suas feições chegam a envelhecê-lo e reforçar o peso de seu ciúmes e agitação. Definitivamente, a performance do duo é o diferencial do longa.






Ano passado essa obra foi adaptada aos Cinemas por Roger Michell. Rachel Weisz como Rachel e Sam Claflin como Philip realizaram um trabalho regular. O resultado não chega nem aos pés do clássico porque esse estilo romântico em preto e branco em plena década de 50 tem muito mais a ver com a atmosfera gótica dos turbulentos romances. Talvez Guilhermo del Toro seria um bom diretor para a combinação romance e mistério. 


Por agora, o melhor a fazer é o espectador contemplar a magnífica atuação de Burton e Havilland, sabendo que, como é uma obra misteriosa, a narrativa deixa o espectador pensar o que quiser, portanto, o desfecho povoa a mente com dúvida e firma mais um belo e atemporal mistério.









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