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Depois da estreia de Bruna Surfistinha , dirigido por Marcus Baldini, novato em longas metragem, agora é a vez de mais um egresso do merca...

VIPS (2010)





Depois da estreia de Bruna Surfistinha, dirigido por Marcus Baldini, novato em longas metragem, agora é a vez de mais um egresso do mercado de publicidade assumir a direção de um longa. O cineasta Toniko Melo realiza uma ótima estreia com VIPS, adaptado do livro VIPS: Histórias Reais de um mentiroso, de Mariana Caltabiano e conta com presenças competentes: o ator Wagner Moura, o diretor de fotografia Marco Pinheiro Jr, a produção da O2 de Fernando Meirelles e os roteiristas Bráulio Mantovani e Thiago Dottori. O resultado é um filme descontraído, divertido, psicologicamente leve e interessante, e que esbanja o talento e a versatilidade de Wagner Moura, em definitivo, um dos melhores e mais carismáticos atores do Cinema Nacional.





A história de VIPS gira em torno de Marcelo da Rocha, um jovem que vive no seu próprio mundo, pertubado e solitário, que tem problemas para aceitar quem é. A realidade lhe é fugaz, ele tem uma necessidade contínua de mentir e de se transformar em outras pessoas, criando novas identidades. Embora a história não adentre em detalhes profundos de seus problemas psíquicos, Marcelo indica claramente que tem a cabeça fora do ar e que suas contravenções o tornam mais vítima do que um golpista do mau. Na verdade, Marcelo é esperto mas desconhece ou não tem a racionalidade para a busca de seu autoconhecimento e sua verdadeira identidade. A partir desse drama pessoal, a vontade de ser piloto e a ausência do pai, ele constrói o seu mundo paralelo com mentiras, fraudes e aventuras como ser o dono da aviação Gol em um Carnaval em Receife, ser piloto de aviação sem qualificação e horas de vôo e envolver-se com o tráfico de drogas. Tudo isso em situações mais cômicas do que dramáticas. O filme não o julga e a índole do personagem é amenizada por uma construção ficcional de Marcelo, por isso o público aceita seus engraçados golpes na mais natural das amoralidades mesmo sabendo que existe um real Marcelo da Rocha que está na cadeia. O roteiro tem um viés argumentativo que é mostrar para o público o Marcelo ficcional e estabelece sua linha narrativa e directiva sob esse olhar.





A direção de Toniko Melo é linear, tem agilidade e um frescor que, conjuntamente com um roteiro mais ficcional que cria um elo divertido entre o público e Marcelo, transforma VIPS em um despojado e agradável entretenimento. Em nenhum momento, Marcelo é o vilão da história, pelo contrário, a relação de 96 minutos entre a audiência e o personagem é de flerte, carisma, sensibilidade , pois Marcelo é um mentiroso simpático e perdido na vida, que desperta a vontade de conhecê-lo, rir com ele, viajar no mundo da lua com ele, pedir para que ele seja o que queremos, e principalmente, ajudá-lo a se encontrar. Há uma conexão imediata com Marcelo, acelerada pelo desejo de conhecer sua subjetividade e esse desejo não é só do público, mas de outros personagens do filme que gostam de estar em sua presença ou se sentem atraídos por sua persona, basta notar os comportamentos da mãe dele, dos traficantes, dos policiais, dos seus affairs. Wagner Moura está excelente nos trejeitos e na caracterização de Marcelo, da cabeleira lambida passando pela oxigenada, e muito do sucesso de Marcelo como personagem advém do carisma e competência do ator perante o público. Wagner Moura segura o filme como ninguém e, dada a vulnerabilidade psicológica de seu personagem, ele realiza um sensível trabalho de falar atráves do seu sorriso e dos seus olhos, fato que desperta ainda mais a aproximação ao personagem e a inevitável empatia por ele.




Merecidamente vencedor de melhor filme do Festival do Rio, VIPS conta com vigorosas fotografia e direção, a começar o início da película, com uma bela áerea de um resort em Recife e seu Carnaval, além de tiradas cômicas como a de Marcelo com os policiais e a de performance musical ao som de Legião Urbana. Vale ressaltar a excelente escolha e direção de elenco, principalmente nas interpretações de Gisele Froes (mãe) e Arieta Côrrea (Affair) que, mesmo ao lado do brilhante Wagner Moura, demonstram que têm luz própria em poucas tomadas e agregam bastante valor nas interações com Marcelo. VIPS é um filme que conquista pelo personagem e, para o Cinema Nacional, essa é uma grata surpresa pois o desenvolve na forma de contar histórias ficcionais que não fogem à realidade dos dramas pessoais.


Avaliação MaDame Lumière




Título Original: VIPS Origem: Brasil Gênero(s): Drama Duração: 96 min Diretor(a): Toniko Melo Roteirista(s): Braulio Mantovani, Thiago Dottori Elenco: Wagner Moura, Gisele Froes, Arieta Correa, etc.

2 comentários:

  1. O que mais me interessou neste filme foi a dualidade do personagem principal, que acha que é melhor ser os outros do que ser ele mesmo. Acho que esse conflito dele foi bem passado pelo diretor. E o Wagner Moura é o ator certo pra isso. Ele é camaleônico desse jeito mesmo!

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  2. Oi Kamila,

    A forma como o personagem foi criado é bem interesante porque ele (sendo outras pessoas) se acha melhor do que os outros também, mesmo não sendo ele mesmo. Engraçado!

    Bjs

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