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Um cartaz bem elaborado de um filme torna-se muito mais do que um simples instrumento de divulgação de uma produção cinematográfica. Ele se ...

Semiótica Visual no Cinema: Cartazes dos Filmes de Hitchcock - parte 1





Um cartaz bem elaborado de um filme torna-se muito mais do que um simples instrumento de divulgação de uma produção cinematográfica. Ele se torna um objeto de significação que expressa e valoriza a 'alma' do filme, a sua razão de existir, o seu diferencial de expressar o trabalho e a autoria do cineasta, a sua singularidade de despertar a curiosidade e o desejo do público em assistí-lo. Um excelente cartaz é a representação da película, um representar que, ainda que seja uma parte do filme, provê o tom certo que inicia a relação do público com aquele trabalho, por isso, a elaboração de um cartaz não pode ser negligenciada, há de ser bem planejada e realizada para antecipar visualmente a experiência cinematográfica que a audiência terá. O cartaz de Cinema não precisa sugerir tudo o que o filme aborda, mas ele tem que sugerir uma proposta visual materializada através de simples detalhes nos seus signos que fazem o público indagar: "Uau!Que grande sacada! Que magnífica concepção de arte visual! O que será que acontece nesse filme?Preciso assistí-lo o quanto antes"!




Se há um cineasta cujos filmes têm primorosos cartazes, esse cineasta é Alfred Hitchcock. Assim como ele fez pontas em alguns de seus filmes, ele exercitou seu conhecido ego ao participar de alguns cartazes, com senso de humor sádico que lhe era tão natural e, portanto, é um deleite contemplar o quão trágico-cômico era vê-lo com suas hilárias caras e bocas, como a expressa no pôster acima. De maneira geral, os cartazes dos filmes do Mestre do Suspense expressam tanto o trabalho do diretor e são tão bem elaborados que eles são um espetáculo à parte, um prazeiroso exercício de voyeurismo a la Hitchcock. Confira agora no MaDame Lumière um compilado com breves observações acerca de 20 Cartazes de filmes de Hitchcock, cuidadosamente e especialmente selecionados para celebrar o primor semiótico e estético que eles representam e que embelezam a Sétima Arte.




Intriga Internacional (North by Northwest, 1959)


Uma das melhores cenas de Intriga Internacional, um dos filmes mais americanos de Alfred Hitchcock é a que Cary Grant está em um inóspito campo de milharal e, de repente, se vê perseguido por um avião. A idéia de retratar perfeitamente essa cena nesse cartaz é primorosa porque antecipa o espetáculo desse filme: a texturização da cores que combinam com a roupa do ator, a reconstituição corporal de como ele corre na perseguição, o excelente design do avião que recupera o efeito da sua hélice e do pó que se levanta na sequência, e para finalizar com a marca do cineasta, o nome de Hitchcock no meio do cartaz.


Psicose (Psycho, 1960)


Nesse clássico cartaz, a expressão corporal de cada personagem e a atmosfera de mistério criam o suspense. Através de quatro visões diferentes expressões: uma mulher que grita com olhos esbugalhados, um homem que tem a boca fechada por uma mão e mostra abertamente a outra, uma mulher em trajes íntimos que olha para-não-sabemos-aonde e um homem sem camisa que também olha para-não-sabemos-aonde, o público é provocado a bisbilhotar mais um filme do mestre do suspense, exatamente como Hitchcock queria.




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The Paradine Case, 1947

Um cartaz muito interessante na medida que projeta um triângulo em cena e utiliza mãos que parecem pertencer a juízes ou advogados (percebam o detalhe da vestimenta alongada próxima às mãos), as quais apontam para esses personagens de forma acusatória. Além disso, o que chama a atenção são os olhares que, no Cinema de Hitchcock, são essenciais para traçar um perfil de cada persona. Serão esses os culpados? Qualquer um pode sê-lo.





O Homem Errado (The Wrong Man, 1956)

Um trabalho excelente na concepção desse cartaz que coloca em evidencia os objetos simples usados por Hitchcock que são detalhes que não podem passar desapercebidos . O retrovisor que mostra um casal é uma ótima sacada. Quem é esse casal? Porque esse homem misterioso do qual somente uma mão é mostrada os está observando? Além disso, o efeito urbano do cartaz com carro e os prédios altos deixam o rastro das inglesas referências das cidades do Cinema Hitchockiano.





Sabotador (Saboteur, 1942)

Um pôster bem realista como ver o filme diante dos olhos é o diferencial dessa Arte. A expressão desesperada da mulher, encurralada e calada por um homem com cara de mal enquanto um corpo caí de uma ponte. Dentre as primeiras perguntas ao contemplar a Arte estão: Tudo isso acontece ao mesmo tempo? Quem jogou o corpo do homem? O que acontecerá com essa mulher?






Ladrão de Casaca (To catch a thief, 1955)


Um dos mais bem elaborados cartazes Hitchcockianos, esse se diferencia pela fusão de elementos e cores, um amálgama estético. Perceba o cabelo louro de Grace Kelly e sua blusa azul forma a arquitetura do pôster em uma bela mescla das cores. A figura do casal se equilibra com a do homem misterioso, virado de costas, que parece assustado e/ou sem saída, como que prestes a pular de um teto.





Interludio (Notorious, 1946)

Um belo cartaz film-noir com a intensidade do vermelho e preto, a sensualidade de Ingrid Bergman e de Cary Grant em cena. O efeito passional e marcante do abraço é de uma beleza visual ímpar porque ela curva o rosto sobre a mão dele e fecha os olhos, enquanto ele faz o contrário: mantém um semblante facial misterioso, com o olho aberto e bem marcado.





Pavor nos Bastidores (Stage Fright, 1950)


Hitchcock sempre soube utilizar muito bem os closes, tanto que muitos deles se tornaram emblemáticos em sua filmografia como de Jane Wyman em Pavor nos Bastidores. O rosto assustado da atriz protagoniza a cena de suspense. O que será que a aterroriza? Ao mesmo tempo, o público é seduzido por outros elementos do cartaz: Marlene Dietrich reina misteriosa e sofisticada e a curiosidade é despertada pelo dual jogo de sombra e luz de um misterioso homem nos bastidores.



A Tortura do Silêncio (I Confess, 1953)

Esse cartaz sugere uma metalinguística abordagem entre a palavra escrita, o título do filme "Eu confesso" e a imagem visual, a mulher que se rasteja no chão e curva a cabeça. Será que ela confessou algo? Qual o segredo que está ocultado nessa imagem? É de uma magnífica dicotomia a austera e imóvel posição do homem enquanto a mulher se agarra à ponta de seu paletó, caída no chão, sem mostrar a face.





Sob o Signo de Capricórnio (Under Capricorn, 1949)

A forma como as mãos dela e as mãos dele aparecem no cartaz torna-o um deslumbre visual e trazem à tona a curiosidade de como é a relação deles no filme. Enquanto que as mãos dela o abraçam em uma posição de submissão e dependência, curvadas para baixo, as dele agarram o seu rosto e sugerem paixão, virilidade e violência. Será que ele esmagará a cabeça dela ou lhe dará um intenso cinematográfico beijo?



Não perca a parte 2 desse especial!

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