Heloísa Passos - Eu e João começamos fazendo testes para descobrir que câmera usaríamos no filme. Buscávamos algo capaz de imprimir com fidelidade a pele – afinal é um filme onde o movimento está na respiração de cada palavra. Depois de testarmos as câmeras digitais do mercado, não conseguimos pensar em outra coisa a não ser o suporte do negativo 16mm.
A minha narrativa fotográfica neste filme entra quando consigo junto com o diretor/ produtor propor entrelaçamento da porosidade da pele com o grão do negativo. Decidi, então, pelo negativo asa 500, e batalhei muito para um jogo de lentes com ótica, que alia uma belíssima definição a uma impressão suave.
Atriz Julia Lemmertz em fotografia de Heloisa Passos
Como foi a experiência de trabalhar com atores e ter os movimentos de câmera “tolhidos” pela estética econômica do documentário? Dentro desse contexto, que critérios você adotou para “tirar leite de pedra” e chegar aonde queria?
Heloisa Passos - Amor? é um filme palavra/sentimento, onde o movimento está na respiração de cada ator. O quadro estático e a proximidade dos atores com a câmera frontal me levou a entender, de imediato, que eu estava trabalhando com intérpretes de uma presença intensa e única. Não posso deixar de registrar aqui que foi um privilégio trabalhar com os atores com que trabalhei.
Nos depoimentos, trabalhamos com duas câmeras super 16mm – a frontal que citei acima e uma segunda câmera que fazia o perfil dos atores sem preocupação com o eixo, em tomadas que chamávamos de ‘esfinge’. A câmera frontal rodava o tempo todo e a do perfil rodava partes fundamentais para a montagem do filme. A Kika operou de forma magistral esta segunda câmera, que trabalhava com uma zoom onde os quadros variavam de fechados para super fechados. E é claro que o João tinha o comando de rodar e cortar esta câmera. A câmera frontal, que eu operava fazendo movimentos quase imperceptíveis, funcionou como o que eu chamo de “câmera de composição”. Escolher uma lente grande angular e estar a 90cm da Julia Lemmertz foi uma experiência inesquecível. Ou melhor, uma experiência cinematográfica para sempre. Quando fui marcar a luz do filme, pude entender a coragem dos atores e a nossa própria coragem de respirar tão visceralmente o filme com eles.
Fonte: Entrevista via PressBook - Amor O Filme?
Créditos Fotos: Heloísa Passos
Acompanhe o especial Amor? com informações sobre esse excelente trabalho de João Jardim.
Em breve, resenha do filme por MaDame Lumière
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Cristiane Costa, MaDame Lumière