O roteiro de The Walking Dead não é nada ingênuo, pelo contrário, ele é muito bem elaborado a partir de como os planos cênicos realistas se misturam à visceralidade zumbilesca e a carga emocional que move os humanos sobreviventes. Tudo ali foi pensado com um propósito a ser desenvolvido em episódios posteriores. Rick tem um amigo policial Shane (Jon Bernthal) com o qual troca confidências sobre o casamento. Rick tem uma esposa com a qual discute antes de ser hospitalizado. Rick participa de uma cena dramática ao encontrar uma garota Zumbi. A partir destes elementos relacionados ao xerife, já é possível compreender o porquê ele é o líder da série e tem uma ação protagonista que promete colocá-lo no clímax dos principais dilemas. Neste formidável piloto, os Zumbis entram pela porta da frente como todo piloto deveria ser. Com uma maquiagem fantástica, não é o horror visual em si que desperta ambíguas sensações entre o terror e o riso, mas por trás dos Zumbis, há um sentimento de comiseração que nos atinge em cheio. Eles são mortos vivos que tinham vivacidade. Eles tinham uma família. Eram pais, filhos, mães, irmãos. O roteiro não deixa isso de lado, e entrega em algumas cenas o apelo emocional de Zumbis que simplesmente foram fatalizados pelo azar de se tornarem quem são. Em duas imperdíveis cenas, com Morgan Jones (Lennie James) enfrentando o passado familiar que ele deve deixar para trás, e com as palavras de Rick a um Zumbi que se arrasta pelo chão, fica claro que, emocionalmente, The Walking Dead é uma produção Zombie diferenciada, e com um elenco talentoso e bem preparado. São cenas de clímax dramático para arrebentar o nosso coração como se fosse a cabeça de um pobre Zumbi.
Mesmo que The Walking Dead esteja dando seus primeiros passos, o seu diferencial é o competente trabalho de câmera, o olhar directivo que conduz muito bem os planos em detalhes, seja nos longos silêncios, seja nos in(tensos) momentos de suspense, e que é bem apoiado pela fotografia e a cenografia. Considerando o tempo de duração de um episódio (no máximo uma hora), a produção é harmônica e amarra todas as arestas com um roteiro conciso e eficaz. Somos impulsionados a adentrar este aprisionante mundo pós-apocalíptico que não oferece nenhuma escapatória, e ele se torna uma realidade para nós. Ninguém precisa gostar de Zumbis para reconhecer e aplaudir o cuidadoso trabalho de filmagem da série. Fantásticos enquadramentos da câmera com câmeras altas e baixas e close-ups marcantes que, qualquer bom cinéfilo deve conferir, mesmo que não seja um maníaco por séries.
Dirigido por Frank Darabont. Com Andrew Lincoln, Jon Bernthal, Sarah Wayne Callies, Laurie Holden. Roteiro de Frank Darabont. Baseado na HQ The Walking Dead de Robert Kirkman, Tony Moore e Charlie Adlard.
Esse primeiro episódio dirigido pelo Frank Darabont é espetacular! Tenho certeza que ele levará o Emmy de direção por este aqui.
ResponderExcluirPerfeitas e pontuais as observações acerca da estética, da técnica e da qualidade de The walkind dead madame. Entretanto, sou obrigado a admitir um receio: Acho que a segunda temporada, recentemente confirmada pelo AMC, não manterá o mesmo nível. Vale lembrar que The walkind dead foi concebida como uma minissérie de 6 episódios. Dilatá-la pode não ser uma boa idéia. O que aconteceu com Roma é um bom exemplo disso...
Beijos