Sou uma amante confessa da Literatura Latino Americana, de Gabriel García Marquez e Isabel Allende, passando por Vargas Llosa , Laura Esquivel e Ángeles Mastretta até beijar as palavras de Mario Benedetti, por isso quando vejo adaptações dessa Literatura no Cinema, eu saboreio cada película como um doce chocolate. Um dos filmes mais deliciosos que mistura o deleite do feminino, do erotismo, da culinário, do amor e do trágico no cinematográfico é Como Agua para Chocolate, best seller da escritora mexicana Laura Esquivel, dirigido pelo também mexicano Alfredo Arau. O longa-metragem, considerado o filme estrangeiro de maior bilheteria nos USA em 1993, é uma história de amor proibido entre os jovens Pedro e Tita, respectivamente interpretados por Marco Leonardi (de Cinema Paradiso; em Como Água para Chocolate, ele está deliciosamente latino e lindo) e Lumi Cavazos. Ambos encenam uma tórrida paixão que confirma a velha citação de que"tudo que é proibido é mais gostoso".
Laura Esquivel, como boa parte das escritoras latino americanas, mistura a tradição dos costumes regionais e a história de ancestrais, a crítica à sociedade convencional e preconceituosa e, principalmente, o papel da mulher na sociedade latinoamericana. Em pleno México provinciano do século XX, Tita e Pedro são impedidos de viver seu profundo amor pois ela é a filha mais jovem de uma família de homens machistas e, como diz a tradição, deve permanecer solteira e cuidar da mãe até a morte. Nessa situação sem saída, Tita acaba sofrendo bastante porque Pedro se casa com outra mulher para ficar perto dela e, como forma de viver este amor e extravasar os diversos sentimentos da relação, Tita passa a realizar receitas saborosas que afloram as suas emoções e a libido de ambos , logo a beleza desta linda história de amor não é só a tragédia e a paixão consumidas mas principalmente a metalinguagem entre a arte da culinária, a arte do amor e do sexo e a arte do cinema e da literatura, tudo muito bem evocado com a cena de uma América Latina de ricas nuances no sabor, na cor , no amor e na dor.
Dadas essas virtudes, o fascinante da obra é também enfatizar que o ato de preparar e desfrutar a comida e seu prazer é como degustar e ter prazer com o amor, tanto para quem cozinha a quem se ama como para quem experimenta a comida feita pelo ser amado. O fazer uma receita e ter prazer com a culinária é um dos atos libidinosos mais antigos da humanidade e também mais amorosos, por isso emoções de Tita são realçadas pelas receitas que ela elabora e que são iniciadas a cada capítulo. Tita se doa a cada receita como uma forma de rebelião contra o que está sendo imposta à sua vida, mas ao mesmo tempo, a comida é um símbolo familiar, passada entre gerações, valorizando a família assim como um afrodisíaco ao pensar em Pedro, logo o diferencial dessa obra de degustativo deleite é que ela trabalha com dicotomias, ou seja, vida e morte, amor e dor, alegria e tristeza e Tita revela toda a carga emocional ao leitor ao realizar as 12 receitas do livro.Um dos momentos mais expressivos é quando faz o bolo de casamento da irmã com mais de 150 ovos e muitas lágrimas, sem dúvidas, um extremo de catárticas emoções dolorosas.
O próprio título da obra "Como água para chocolate" (que quer dizer, a ponto de explodir) é uma expressão de paixão arrebatadora porque exalta a mistura da água com o cacau, de dois ingredientes para formar uma só bebida, assim como o amor entre Tita e Pedro que forma uma única alma o qual ferve até atingir um intenso ponto de ebulição, por isso "Como água para chocolate" tem que ser degustado em sua amorosa e trágica história. Além disso, convém salientar que tanto o livro quanto o filme se alinham bem à temática do feminino que se liberta e que é recorrente na literatura latinoamericana pois Tita se liberta sensualmente e apaixonadamente no seu imaginário e na sua carne através das receitas que são de puro erotismo e, poderosamente e sinestesicamente suas receitas penetram nos sentidos dos outros, despertando nelas o prazer da erótica culinária, o prazer de consumir suas próprias paixões.
(Como Água para Chocolate, de Laura Esquivel)
Saudações Cinéfilas, Literárias e Gastronômicas de MaDame Lumière
Até o próximo Literatura no Cinema!
Não li o livro, mas o filme é uma delícia. Assim como seu texto é super didático. Não me lembro tão vivamente do filme. Tenho o DVD comigo (foi uma de minhas primeiras aquisições). Irei revê-lo. Deu vontade!
ResponderExcluirBjs
Oi Reinaldo,
ResponderExcluirLeia o livro, é uma leitura degustativa e sensual. Obrigada por achar o texto didático, quis realmente despertar o interesse desta relação metalinguística entre Literatura e Cinema.
Tá com vontade? hahahahahaha. Posso te servir codornas ao molho de rosas hahaha...
Beijo,