Sou MaDame Lumière. Cinema é o meu Luxo.

Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação O que é o Amor? É difícil defini-lo ...

Amor à Segunda Vista (Mon Inconnue, 2019)




Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação




O que é o Amor? É difícil defini-lo em palavras. É muito mais acessível apenas sentí-lo, deixá-lo entrar na alma e no coração, desejá-lo com toda sua força. Até os (as) mais hábeis e sensíveis escritores(as) com o poderoso efeito semântico das palavras não poderiam definir o que é Amor em toda sua completude. No entanto, algo podemos afirmar: quando faltam palavras, há a potência da imagem audiovisual, a sensibilidade do Cinema a serviço de expressar os sentimentos mais complexos e nobres. É por causa desta potência, que o Cinema é uma das janelas mais belas para a expressão do amor romântico.






Na história do Cinema, há tantas comédias românticas que, por mais clichês que sejam, elas resgatam algo que muitas vezes nos foge: a possibilidade de amar e ser amado(a). Todos queremos amar e ser amados, mesmo que os sentidos do que é o Amor sejam diferentes para cada um. Através das possibilidades de encontrar a tão sonhada alma gêmea, o Cinema se apresenta constantemente como uma válvula de escape para os apaixonantes sonhos de encontrar aquela pessoa que nos reconheça como um verdadeiro amor, que venha para somar e ser companheira. 






Neste contexto, quando uma boa comédia romântica aparece em cartaz, ela é como um presente cheio de afeto que traz um frescor romântico, leve e esperançoso que preenche os corações solitários e inspira os que já encontraram o seu amor.  "Amor à Segunda Vista" (Mon Inconnue, 2019) é uma destas comédias românticas raras e modernas que oferecem um sopro agradável no próprio gênero. Dirigida por Hugo Gélin ("de Família de Dois")  e estrelado pelos belos François Civil e Joséphine Japy,  o longa distribuído pela Bon film é uma deliciosa comédia romântica sobre a segunda chance no Amor, realizada com muita competência  e qualidade pelo cineasta, elenco e equipe. 


O filme foi um dos destaques no Festival Varilux de Cinema Francês 2019 e na França foi visto por mais de 340 mil espectadores. Na história, Raphaël (François Civil) conhece sua amada Olivia (Joséphine Japy) ainda bem jovem e no colégio. Se apaixonam e se casam. Ele se torna um escritor de ficção científica muito bem sucedido. Ela é uma professora de piano que também apoia o sucesso do marido. Certo dia, após uma discussão, eles acordam em uma realidade paralela que altera totalmente suas vidas. Ele se torna um professor de Literatura. Ela, uma pianista famosa que não lembra quem ele foi. Inconformado e desesperado, Raphaël conta com a ajuda de seu amigo Félix (Benjamin Lavernhe, da Comédie Française) para reconquistar a amada.








Sabe aquelas expressões que dizem que "O amor é apaixonar-se cada dia pela mesma pessoa" e "Se você não der valor ao seu amado(a), você vai perdê-lo (a)".  Estas são as principais verdades que alimentam este roteiro. Na prática, todos os dias temos que nos apaixonar por aquele(a) que escolhemos para estar ao lado, mesmo porque, atrás da fantasia romântica, há a realidade dos relacionamentos e seus conflitos. De uma forma bem imaginativa, o roteiro investe também em um conflito entre o casal protagonista. Ele se tornou famoso demais e deixou de dar valor ao relacionamento, ao diálogo, ao ficar junto. De repente, perdeu tudo isto e este período serve para que ele reconheça falhas, atitudes e sentimentos. 







Em comparação ao penúltimo filme de Gélin, "Uma família de dois", "Amor à segunda vista" é uma evolução do diretor. No primeiro, a história entre pai e filha era comovente, mas era muito mais clichê e sentimentalista. Neste último, embora a estrutura  clássica da comédia romântica seja batida, o diretor é inventivo e consegue oxigenar o gênero com um filme bem projetado e executado que oferece uma experiência agradabilíssima. Dos diálogos até a escolha das locações, passando pelo elenco, edição e fotografia, absolutamente todos os detalhes claramente foram pensados com muito afeto, evidência que o público poderá notar e saborear. Este é um diferencial para a produção, não à toa que o longa caiu no gosto do público e é delicioso de assistir.



O diretor realiza uma comédia que lembra o clássico "Feitiço do tempo", mas segundo o mesmo, ele se inspirou em filmes como "Brilho eterno de uma mente sem lembranças" (Michel Gondry) e "A Felicidade não se compra"  (Frank Capra). Gélin atingiu o objetivo porque sua sensibilidade com as referências cinematográficas não descaracterizam a autenticidade e refrescância de sua obra. Ele consegue utilizar estas inspirações e, ainda assim, seu filme tem uma luz muito própria, com muito foco no desdobramento das ações  e na montagem entre o que é imaginário e o que é realista. Como ele bem disse: "O filme é uma busca para encontrar a primeira faísca". Assim, é impossível não se apaixonar pela forma como ele trata com carinho o próprio amor.







Uma das bases de uma boa comédia romântica é a química entre o casal protagonista e como eles tornam as cenas verossímeis mesmo no plano da imaginação, da fantasia. Isto é necessário não apenas pela fisicalidade que sai faísca e desperta o amor e o desejo, mas também a forma como olham, como dialogam, como constroem personagens que são convincentes com os sentimentos expostos na tela grande. Além de serem hipnoticamente belos e elegantes, François Civil e Joséphine Japy se envolveram nos papéis. É uma química sexual e romântica ao mesmo tempo. É aquele tipo de casal que o público torce para ficar juntos pois eles são simplesmente, na doçura das palavras, fofos juntos.



Cada um deles têm espaço para a ação, apesar que cabe muito mais a François Civil reconquistar o que perdeu. A maioria dos momentos intimistas e ações ativas vêm dele, que interage em boas cenas cômicas com seu leal amigo Félix. A presença do personagem coadjuvante de Benjamin Lavernhe é  fundamental para a narrativa já que ele é o único que lembra do amigo, mesmo estando em realidade paralela. Ele é como uma ponte entre estes mundos distintos, além de ser um fiel amigo que ultrapassa as lógicas de tempo e espaço. É aquele amigo que, ainda que foi frustrado no relacionamento anterior, acredita que Raphaël pode ter a amada de volta. A atuação de Lavernhe é ótima, por trazer aquele amigo excêntrico e engraçado que, por trás das loucuras, tem um coração cheio de sabedoria. Parte dele um dos desabafos mais verdadeiros do filme.







Para a carreira de François Civil, o filme também é um avanço. É uma das oportunidades que ele teve como protagonista. Segundo ele " Eu sei que é um filme muito íntimo para ele (Gélin), que fala sobre sua profunda visão do amor, das pessoas que amamos. Fiquei muito feliz por poder dar vida a esse personagem que vive nele há vários anos". Ele foi bastante dedicado ao papel, por ser muito jovem ainda em longas do Cinema Francês, tendo tido várias experiências em TV e em curtas. O mesmo se aplica para Joséphine Japy, que tem graciosidade, beleza e estilo para o gênero. Os melhores closes são dela, praticamente a câmera flerta com esta elegante, bela e jovial francesa.






Hugo Gélin realizou um belíssimo filme e se destaca, especialmente, como ele articulou todas as peças e referências criando seu próprio filme, que tem uma motivação muito especial, o faz lembrar da relação que ele tem com a esposa que conheceu há anos atrás. Muito do êxito da narrativa é a combinação das cenas reais com as imaginárias que, nas mãos de um diretor que não fosse habilidoso e inspirado, poderia se tornar uma bagunça. 



Além do mais, mesmo com todas as cenas da realidade paralela, a narrativa propicia um olhar contemporâneo sobre as relações amorosas. Existe um tom híbrido de realismo x ficção que lembra o filme independente de Michel Gondry, mas por outro lado, também mantém um charme francês e um apelo de filme comercial com qualidade e potencial para agradar amplamente o público.


É um longa que celebra o Amor e injeta  otimismo, riso e afeto. É impossível não ficar um pouco mais aquecido(a) mesmo no frio cotidiano da solidão e da busca constante e resiliente pelo verdadeiro amor.










0 comentários:

Caro (a) leitor(a)

Obrigada pelo seu interesse em comentar no MaDame Lumiére. Sua participação é muito importante para trocarmos percepções e opiniões sobre a fascinante Sétima Arte.

Madame Lumière é um blog engajado e democrático, logo você é livre para elogiar ou criticar o filme assim como qualquer comentário dentro do assunto cinema e audiovisual.

No entanto, não serão aprovadas mensagens que insultem, difamem ou desrespeitem a autora do blog assim como qualquer ataque pessoal ofensivo a leitores do blog e suas opiniões. Também não serão aceitos comentários com propósitos propagandistas, obscenos, persecutórios, racistas, etc.

Caso não concorde com a opinião cinéfila de alguém, saiba como respondê-la educadamente, de forma a todos aprenderem juntos com esta magnífica arte. Opiniões distintas são bem vindas e enriquecem a discussão.

Saudações cinéfilas,

Cristiane Costa, MaDame Lumière