Sou MaDame Lumière. Cinema é o meu Luxo.

Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação A deslumbrante Glenn Close é uma das ...

A Esposa (The Wife, 2017)




Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação




A deslumbrante Glenn Close é uma das melhores atrizes do mundo, sem dúvidas! Não ganhou o Oscar como melhor atriz principal por "A Esposa" (The Wife, 2017, do sueco Björn Runge) mas isto não impactou em nada sua competente carreira e notório papel. Além de ter sido nominada a vários prêmios na temporada de awards de 2019, ela ganhou  por esta atuação duas premiações que reconhecem o seu talento e maestria: SAG e o Globo de Ouro.


Joan Castleman é um personagem que caiu como uma luva para Glenn Close. É como um encontro perfeito que o Cinema tinha que fazer acontecer. De muitos de seus papéis, este é um daqueles aparentemente menores, entretanto,  tem uma complexidade bem peculiar que apenas atrizes com as nuances dramáticas críveis como a dela faria o filme funcionar tão bem. 






Baseado no romance homônimo de Meg Wolitzer, "A Esposa" narra a história de uma mulher que faz uma escolha decisiva, mantém a lealdade ao marido e lida com o silêncio, o peso e a discrição de tal decisão. É um filme sobre renúncia e sacrifício. Alguns dirão que é sobre o amor de um casal de meia-idade, mas é melhor considerá-lo como um pacto em nome do casamento, da família e da carreira, que retrata também as consequências de um contexto de não valorização das mulheres escritoras no meio literário. 



Com uma narrativa bem dramática, Glenn Close encarna uma poderosa ambiguidade entre a devoção, o compromisso e a culpa. Joan é casada com um Joe Castleman (Jonathan Pryce), um escritor que receberá o Nobel de Literatura em Estocolmo (Suécia). Casados de longa data, tem dois filhos,  entre eles, um jovem aspirante a escritor (Max Irons) que tem um relacionamento conflituoso com o pai e se sente desvalorizado.







As primeiras cenas do filme funcionam como um spoiler para quem já está acostumado a inferir sobre roteiros.  O diretor enfoca o casal em seu ambiente íntimo e familiar na Califórnia que recebem uma ligação telefônica na qual Joe Castleman é comunicado sobre o Nobel de Literatura e convidado para o evento.  O close up na expressão incrível de Glenn Close é impactante, tenso, doloroso. Frases como "não acredito no que estou vendo"! "Ela fez isto mesmo?" serão comuns nos pensamentos de alguns cinéfilos e espectadores em geral.



A partir daí, a narrativa se desdobra na preparação para a cerimônia de premiação, entrecortada com diálogos entre o casal e os filhos, flashbacks do passado de Joe e Joan quando se apaixonaram, começaram a escrever sobre literatura na Universidade e firmaram o casamento. De uma maneira bem inteligente,  o roteiro inclui  a figura de um jornalista,  o biógrafo de Castleman, Nathanial Bone (Christian Slater) que vem para provocar e desestabilizar essa aparente perfeição da parceira do casal. A presença de Slater como coadjuvante, um ator objetivo, prático e sedutor,  assegura boas cenas com Glenn Close 



É necessário enfatizar que este filme tem sua força na característica reforçada pelo seu título: a esposa. É um filme que coloca a responsabilidade dramática substancialmente em Glenn Close. Ela, muito consciente e preparada na psicologia do personagem, realiza um trabalho excepcional. Os conflitos são prioritariamente dela a tal ponto que seu marido se torna um homem desprezível em várias cenas. Assim, a condição da mulher talentosa que fez sacrifícios na carreira em uma época machista traz consequências irreparáveis que seguramente ela não merecia. 






Outro diferencial do longa é possibilitar testemunharmos o descontrole da personagem, mostrando que, por mais que Joan seja elegante, discreta e madura, ela chega a um nível psicológico que se desestabiliza no evento. A postura forte e controlada de Joan tem um efeito que, pouco a pouco, vai se desfazendo, fato bem positivo para o arco dramático do personagem. 


Jonathan Pryce realiza um trabalho muito bom para este personagem, bem aderente a complementar a tensão entre o casal. Sendo um ator experiente, ele interpreta um homem idoso bem sucedido que desperta desprezo e piedade. Ele é o Nobel de Literatura e, ao mesmo tempo, uma sombra no casamento. Em algumas cenas chega a ser patético, evidência que reforça que ele apenas é quem é por causa da grande mulher que está ao seu lado. Joe Castleman é um daqueles homens que permaneceram casados  com uma admirável mulher há anos, que aceita o sacrifício da esposa sem dar nada ou pouco em troca, e ainda deixa a dúvida se é tão leal e realmente a ama ou é apenas mais um homem egoísta e infiel em um casamento no qual apenas a parte masculina mais ganha.







"A esposa" é um longa imperdível na carreira de Glenn Close. É um drama feminino doloroso considerando as renúncias que inúmeras mulheres fazem por causa de seus companheiros e amantes. Certamente, leva à reflexão até que ponto realmente vale a pena se sacrificar por qualquer pessoa. É claro que, especialmente, o filme é Glenn Close para todas as mulheres: para as que se sacrificaram no relacionamento e para as que não desejam se sacrificar a tal ponto.  






0 comentários:

Caro (a) leitor(a)

Obrigada pelo seu interesse em comentar no MaDame Lumiére. Sua participação é muito importante para trocarmos percepções e opiniões sobre a fascinante Sétima Arte.

Madame Lumière é um blog engajado e democrático, logo você é livre para elogiar ou criticar o filme assim como qualquer comentário dentro do assunto cinema e audiovisual.

No entanto, não serão aprovadas mensagens que insultem, difamem ou desrespeitem a autora do blog assim como qualquer ataque pessoal ofensivo a leitores do blog e suas opiniões. Também não serão aceitos comentários com propósitos propagandistas, obscenos, persecutórios, racistas, etc.

Caso não concorde com a opinião cinéfila de alguém, saiba como respondê-la educadamente, de forma a todos aprenderem juntos com esta magnífica arte. Opiniões distintas são bem vindas e enriquecem a discussão.

Saudações cinéfilas,

Cristiane Costa, MaDame Lumière