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Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação Uma das estreias da semana nos cinemas B...

Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal (Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile, 2019)



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação


Uma das estreias da semana nos cinemas Brasileiros, Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal (Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile, 2019) de Joe Berlinger, é um filme que tira tanto o diretor como o protagonista (Zac Efron) de uma zona de conforto, fazendo com que eles trabalhem juntos em um tipo de filme que não costuma ser o que realizam. 

Joe Berlinger é um premiado e experiente documentarista  cuja carreira na TV se desenvolveu também com séries criminais. Agora, retorna à ficção. Zac Efron ganhou fama como um ídolo teen com as produções Disney e, felizmente, é um ator com carisma e humor que tem se desenvolvido em  trabalhos diferentes.





Baseado na obra "The Phantom Prince: My life with Ted Bundy" de Elizabeth Kendall, o longa mostra a perspectiva da ex-namorada de Bundy, que conviveu com ele por anos, era muito apaixonada e desconhecia a sociopatia do amante. Bundy (Zac Efron) é um dos mais conhecidos serial killers dos Estados Unidos, que executou mais de 30 mulheres nos anos 70. Sua biografia demostra que ele era um homem sedutor, inteligente e sarcástico exatamente como muitos dos traços psicológicos de um sociopata. No papel de Liz, a atriz Lilly Collins dá vida à esta mulher, uma desolada mãe solteira.

Joe Berlinger tem experiência em não ficção criminal e tem uma série de TV sobre o assassino chamada "Conversando com um serial killer: Ted Bundy (2019)", dessa forma, seu background o ajudou a ter uma convicção bem clara neste lançamento: ele mostra a "irresistível face do mal" em um roteiro que  Ted Bundy tem lábia, charme e atitudes de um homem inocente, o que torna o filme muito mais incômodo para quem sabe que ele foi um dos maiores assassinos de mulheres do mundo.






Zac Efron, que naturalmente tem seu charme, encarna o homicida com bastante  convicção. Pode se dizer que o filme tem qualidades  e defeitos de forma equilibrada, mas seguramente, uma de suas virtudes é a dedicação do ator em expressar esta alteridade macabra, absurdamente hipócrita de Ted Bundy. Em determinadas cenas, a decisão sobre a narrativa pode levar o público a realmente pensar que Ted Bundy é inocente tamanha a face do mal mascarada. 

Esta dinâmica psíquica do personagem é interessante porque, trazendo para o plano da realidade,  revela que não sabemos quem está ao nosso lado. Normalmente as pessoas têm várias faces como parte de suas máscaras sociais, entretanto, há os que, como Ted Bundy, são mentalmente doentes e letais aos outros. Eles criam um mundo de mentiras que parecem verdades. 

Assim como Liz Kendall se apaixonou loucamente por um serial killer, o mesmo acontece em diversas situações na sociedade, tanto que, durante o processo de tribunal no caso Bundy, ele tinha várias "fãs" que iam ao julgamento, flertavam com ele e apareciam na TV em sua defesa. Na história, a presença da outra namorada dele, Carole Ann Boone (Kaya Scodelario) evidencia como as mulheres se deixam seduzir e se apaixonam por homens tóxicos chegando a um nível de cegueira, obsessão e dependência emocional.

A direção de Joe Berlinger é satisfatória. Ela tem o mérito de sua própria convicção sobre suas escolhas narrativas. Ele não é um diretor perdido na ficção. Ele sabe o que está fazendo e conhece a biografia do serial killer. Embora seja um documentarista, o diretor propicia ao público testemunhar um claro nível de subjetivação do protagonista, compreendendo a sociopatia de Ted Bundy. 




Apesar do filme ter algumas escolhas mais convencionais nos diálogos, alguns mais rasos, outros que não eram tão necessários e deixam o filme redundante na combinação cena (imagem) x fala (palavra/texto); em termos de linguagem cinematográfica, ele cria uma boa ambientação da época (década de 70) , além de executar bons enquadramentos para colocar em ação esta alteridade do personagem, principalmente os planos de close up ou médios . Em outros momentos, exagera  nos recursos de movimentação de câmera sem ter muito a dizer com determinado enquadramento ou repetindo os mesmos movimentos.

De maneira geral, o diretor mais acerta do que erra, o que é um avanço já que ele não é um diretor de ficção. Seus acertos são pautados em utilizar bem os bastidores midiáticos e jurídicos do que foi o processo de Ted Bundy, inclusive imagens de documentário, ademais, tem controle sob a montagem, assim como apoia bem a interpretação de  Zac Efron. Certamente, se houvesse um  grande desequilíbrio nestes elementos, o filme seria bem artificial.


Se por um lado, Zac Efron tem os holofotes sobre si, a personagem de Lilly Collins deixa muito a desejar por dois motivos: primeiramente, mesmo se tratando de uma adaptação do livro de Elizabeth Kendall, ela não tem um papel muito significativo (salvo o terceiro ato, em que dramaturgicamente ela está bem). Sua perspectiva no filme não lhe dá tanto protagonismo nem mesmo em densidade dramática nas cenas, detalhe que é um pouco frustrante.

A outra razão é que o roteiro e direção não favoreceram a  atuação de Lilly Collins.  Há cenas que ela tem mais possibilidade de dar nuances dramáticas à sua dor e vulnerabilidade, em outras, tanto fisicamente como psicologicamente, o seu personagem tem altos e baixos de "over drama" ou uma dramatização superficial. Ela não é convincente com a própria dor em cena (com exceção do último ato). Com certeza, outra atriz mais experiente para o gênero conseguiria um resultado mais crível. 




Kaya Scodelario já segue um caminho oposto: tem um papel menor e bem mais notório considerando o quão detestável é sua personagem. É a mulher que vende a alma e o coração ao diabo e, ainda que seja mais uma coitada a cair nas garras sedutoras de Ted Bundy, na essência, sua personagem tem um mau caráter. Em algumas passagens do longa,  ela age  sem  escrúpulos, algo que é inaceitável como mentir e fazer planos em causa própria sem pensar em inúmeras mulheres que foram assassinados pelo monstro Bundy. O bem da verdade é que suas atitudes não são amor, são egoísmo e loucura.





O filme ainda conta as boas participações especias de John Malkovich como o juiz  e Jim Parsons como o advogado de acusação. Aparições rápidas e bem vindas. 

Esta "irresistível face do mal" está aí para todos poderem ver, entretanto, cabe dizer que Ted Bundy foi um dos assassinos mais frios e dissimulados perante a grande mídia Americana e o mundo. Ele foi um caçador de jovens mulheres, fingia estar machucado, obtinha confiança delas e depois agia com violência. Seus crimes foram executados com barbárie, sem qualquer piedade com as mulheres que ele violentou e matou. Dessa forma, o filme também tem uma "máscara", por assim dizer, considerando que  Ted Bundy parece inocente e legal na figura sedutora de Zac Efron, entretanto, está longe disso.




O filme tem um movimento de não trazer tanta seriedade aos fatos já que Ted Bundy age como uma celebridade, constatação que acaba gerando bastante incômodo, podendo ser odiável a alguns espectadores.  É importante mencionar que a  decisão narrativa do diretor não deixa de ser mais "comercial" para o Cinema. É uma escolha que possibilita às plateias de todo o tipo conhecer o filme, ainda mais com o chamariz  Zac Efron, mas também é desconcertante.





















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