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Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação Em cartaz no circuito nacional, o novo...

O Professor Substituto (L'heure de la sortie, 2018)



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Em cartaz no circuito nacional, o novo longa-metragem de Sébastien Marnier (Irreprensível, 2016),  O Professor Substituto (L'heure de la sortie"), traz tensão e angústia na sua narrativa que aborda problemas contemporâneos como o meio ambiente, a violência e a juventude. No papel de Pierre, o substituto, o ator Laurent Lafitte (Elle, 2016) assume a classe de jovens superdotados após o professor titular cometer suicídio. 

Baseado no primeiro romance de Christophe Dufossé, a história acompanha Pierre e esses adolescentes de intelecto avançado e com comportamentos estranhos. Ele inicia uma investigação pessoal para descobrir seus segredos e entra em uma espiral de obsessão e inquietação.



Trata-se de um filme que concilia preocupações geracionais como a juventude moderna com uma desoladora sensação de pessimismo, frieza e paranoia. Ao retratar alunos que têm um nível intelectual extraordinário, mas extremamente arrogantes e distantes, o roteiro desumaniza uma geração que representa o futuro. Eles têm hábitos bizarros e são tomados por uma intrigante necessidade de registrar a destruição mundana e agirem de maneira hostil.

Este registro é realizado pelos jovens com câmera na mão que, na montagem,  engloba a ficção e os fragmentos documentais da devastação ambiental, da violência exacerbada, entre outras evidências do próprio extermínio da vida. Com bastante habilidade nos primeiros 60 minutos de longa,  o diretor tem uma escolha narrativa híbrida de reunir registros não ficcionais com a ficção, edição que não costuma ser um trabalho fácil. 

Ainda que sua escolha quebre o ritmo do suspense em determinadas cenas e se repita com imagens aleatórias, as atuações de Laurent Lafitte e dos adolescentes, especialmente, de Luàna Bjarami (Apolline) mantêm o thriller  com bom nível de estranhamento e tensão. 




É pertinente notar que, levando em conta os filmes ambientados em escolas, O Professor Substituto é bem peculiar, moderno e provocativo. Ele tira a tranquilidade facilmente de quem o assiste, dando tempo para o espectador pensar sobre qual será o futuro do mundo e das gerações futuras, assim,  o filme apresenta uma energia pesada, niilista. Até o mais otimista e acolhedor dos professores, odiaria esta turma.

O longa tem o mérito de criar uma perturbadora narrativa para um professor que, além de lidar com os problemas disciplinares tão comuns na escola, é subestimado pelos alunos superdotados. Em vários momentos, os alunos o tratam como um zero à esquerda, comportamento que enfatiza que, desde o início, Pierre é um mero substituto. Ele é tratado como alguém menor que não faria a diferença se estivesse ali ou não. Além de substituir um professor suicida, ele tem o desafio de lidar com uma turma debochada, aborrecedora, nada confiável.





A boa escolha do argumento, espaço/ local e personagens ajuda a estruturar uma história bem frustrante para qualquer educador e família. Por mais que estes jovens também sofram das aflições contemporâneas, especificamente, este grupo de jovens está dando um grito de socorro, porém nunca vão abrir mão desse orgulho.  Querem demonstrar racionalidade a qualquer custo, porém sofrem no íntimo.

Desde o começo, por mais sensibilizados que estejam com a destruição do mundo, a história retira deles qualquer emoção dócil na interação com as pessoas. Essa ambiguidade aumenta ainda mais o estranhamento do filme. Eles chegam a parecer fantasmas humanos a andar pelas ruas, agir com violência, responder como adultos esnobes.  O único momento que são mais livres é quando cantam sob a regência da professora interpretada por Emmanuelle Bercot.

O professor substituto chega como o estranho a investigar os próprios alunos. Ele nota que há algo esquisito. De alguma forma, ele se preocupa com esses jovens mesmo vendo seu cotidiano ser afetado por uma sensação aterrorizante. Decerto, essa dinâmica de horror - suspense - drama funciona bem em cena, Sébastian Marnier orquestra o ritmo, a música e as atuações com suspense até o clímax, no qual as dimensões psicológicas extra e intra dos personagens são postas em cena, seja através dos olhares, dos gestos, dos silêncios, seja através dos confrontos, dos elementos em cena como insetos, alucinações, sonhos.





Nestes aspectos, a interpretação de Laurent Lafitte é centrada e competente. Ele consegue desenvolver seu personagem na paranoia em cena, evidenciando uma diferença entre como Pierre começa e termina o filme, um arco dramático eficiente nos dois primeiros atos, que desconcerta o dia a dia do personagem, aumenta o nível de obsessão e curiosidade. Mais ao desfecho, surge o problema que quebra parte da qualidade do filme: o último ato.

Não se refere a um problema tão sério que retira as virtudes da história, porém, o último ato não é tão expressivo pela atitude  que os jovens têm, tola na forma como foi dirigida. Para evitar spoilers, basicamente, este ato tem uma conclusão apressada,  com uma sequência realizada entre um acampamento e uma estrada que, pelo menos, poderia ter sido filmada de outra forma.  Acaba por não combinar com tudo de bom que foi construído anteriormente na história, assim, incorrendo em irregularidades. 

Apesar da séria questão em cena entre os jovens, torna-se um desdobramento raso em comparação ao suspense intrigante e toda a psicologia complexa criada na maior parte da projeção. É  mais um problema de direção, considerando que o roteiro é uma adaptação de livro e algumas cenas nem sempre podem descaracterizar a obra original, contudo, podem ser filmadas de forma diferente sob o olhar do diretor.

Exceto por este detalhe final, O Professor Substituto é uma obra surpreendente no atual Cinema Francês, funciona bem como thriller e é  necessária para reflexão sobre os jovens no mundo contemporâneo e suas angústias; jovens que cada vez mais convivem com o medo, a violência e a (auto)destruição.



(3,5)




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