Russell Crowe foi "batizado na direção"!
Promessas de Guerra é seu primeiro longa-metragem
Por Cristiane Costa
Os filhos da guerra deixam suas famílias para defender seus países. Muitos não retornam e são enterrados como indigentes ou permanecem desaparecidos sem as devidas honras. Os que sobrevivem convivem com as sequelas das perdas, do trauma e da dor. Essas histórias dramáticas de guerra têm sido abordadas a um longo tempo pelo Cinema e permanecem atuais como feridas emocionais que não são curadas, ou como forma de homenagear os mortos. Como os pais encontram paz quando não sabem do paradeiro de seus filhos? Como ter a esperança do reencontro e honrar suas promessas? Com um drama baseado em fatos reais da Batalha de Galípoli ocorrida durante a I Guerra Mundial na Turquia, que deixou muitos soldados australianos mortos, o experiente ator Neozelandês Russell Crowe estreia sua primeira direção de longa-metragem com Promessas de Guerra (The Water Diviner).
A guerra é o pano de fundo contextual para uma história focada no drama de um pai à procura dos filhos que estão desaparecidos, no entanto, o filme não tem foco em retratar a guerra. É sobre a bela e corajosa jornada de um homem que quer honrar sua promessa como pai e marido. Connor (Russell Crowe) é um fazendeiro que parte para a Turquia, conhece Ayshe (Olga Kurylenko) e seu gracioso filho Orhan (Dylan Georgiades) em um hotel de Istambul, faz amizade com soldados turcos (Yilmaz Erdogan e Cem Yilmaz), personagens cujas histórias foram impactadas por inestimáveis perdas da guerra. No entanto, esses encontros conduzem a história à uma atmosfera de esperança, de que todos precisam perdoar a si mesmos e reconstruir suas vidas. Quando uma pessoa perde um amigo, pai, marido ou qualquer ente querido, uma parte dela morre também.
Russell Crowe queria fazer esse filme por uma questão bem pessoal: Ele nasceu na Nova Zelândia, essa é uma história sobre os filhos da Austrália e tantos outros filhos que morreram ou desapareceram na Batalha de Galípoli. Ele poderia ter a opção de escolher um recorte histórico focado no patriotismo dos USA, país no qual sua carreira evoluiu ou no projeto comercial de qualquer outro produtor de Hollywood; porém (e felizmente), ele teve luz própria sem ignorar sua filmografia. Há um atitude nobre e autoconfiante na sua primeira direção, a de que é possível conciliar uma temática que lhe interessa pessoalmente, com os dois lados de uma mesma guerra e com sua experiente base sobre Cinema como ator em dramas e épicos. Conhecer esse terrreno cinematográfico o salvou em várias cenas do filme apesar da falta de experiência como cineasta. E, o melhor, ele investiu tempo em uma história humanizada que abraça todas as famílias que tiveram filhos desaparecidos na guerra. Em suma, uma história universal.
Promessas de Guerra cativa muito mais pela sua jornada a terras distantes e tão diferentes da realidade de um fazendeiro Australiano do que somente pela sua carga emotiva. O desejo de encontrar os filhos é a maior força que move Connor, entretanto o filme não se resume a isso. A história reúne duas culturas bem distintas, a Oriental e a Ocidental, em uma excelente fotografia, comum em dramas mais convencionais e históricos, além de trazer elementos do Islã como as feiras, os templos e campos abertos. Russell Crowe equilibra bem a direção. Conduz sua câmera em cenas intimistas com ressonância nas perdas das personagens e na possibilidade de uma nova vida, amplia o campo de visão do público para memórias e flashbacks da guerra e sequências de conflitos e aventuras contra os gregos, inimigos que impõem obstáculos e perigos em cenas de ação. Em alguns momentos, pode parecer um híbrido de determinados gêneros, no entanto, o resultado de seu primeiro longa-metragem foi positivo. Destaca Russell Crowe como um potencial diretor para dramas de estrutura mais clássica e de influências épicas e históricas, uma seara claramente mais segura para ele.
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