MaDame Lumière
Leituras de Cinema
Primeiras impressões, divagações e opiniões sobre livros
"No verão de 1985, tive - imaginava eu - uma adóravel ideia para um
filme. Queria me aproximar do Cinema mudo. Desenvolveria longas cenas
sem diálogo ou efeitos acústicos, vislumbrando, afinal, uma
possibilidade de romper com meus filmes falados. Naquele
momento comecei a escrever o roteiro. Expressando - me
melodramaticamente, a graça divina mais uma vez me tocara, a alegria
estava do meu lado. " [ Bergman, A lanterna mágica, pg. 73)
Ontem, ao ler algumas linhas bem sinceras de Bergman em sua autobiografia "Lanterna Mágica ", percebi como o Cinema o salvou. Se essa grande Arte não tivesse entrado de vez em sua vida, ele ficaria mais louco, violento.
Por causa dessa honestidade de Bergman que eu o respeito tanto como cineasta e me identifico com vários de seus desabafos. Ele nunca escondeu sua genialidade, e tampouco sua monstruosidade.
Por mais contraditório que possa parecer, ele é sincero até quando decide ser hipócrita, porque a hipocrisia é uma dolorosa e sarcástica rota de fuga quando não aguentamos mais as pessoas e dores do mundo. Bergman mentia e fingia para a família. Por que julga -lo? Ser um fingidor em muitos momentos é sobreviver. Cada um lida com a própria violência de uma forma, muitas vezes da pior forma. Que bom que ele encontrou o Cinema para catalisar sua energia em um bem para a humanidade.
Todo o seu Cinema é construído com insumos de sua dramática biografia. Isso fica claro em vários detalhes do livro. Ao observar suas palavras honestas, vi que ele precisava do Cinema para ser compreendido em sua complexa personalidade. Até por ele mesmo.
Já sabia, principalmente após o belíssimo e comovente documentário " Liv & Ingmar - uma história de amor", que ele era um homem com uma turbulência psíquica. Ele nunca escondeu os seus demônios nem para quem mais amava. Ele demonstrou como podemos ser monstruosos. O próprio foi cruel com sua musa Liv.
Com o Cinema, ele pode exorcizar seus demônios, colocar recortes de sua vida, questionar a condição humana. Sim, o Cinema o salvou assim como me salva todos os dias.
Se não fosse o Cinema, meus demônios me levariam à insanidade. Estou ciente desse tipo de salvação e sou grata por ama-lo. Nesse aspecto, sinto os reflexos de Bergman.
Penso que ele sabia que precisávamos de seu Cinema por mais egoico que possa parecer. Na inquietude dos pensamentos e sentimentos, o Cinema liberta e acalma a alma.
Obrigada, Bergman.
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