Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
O 5º Seminário de Cinema e Educação, uma iniciativa robusta do Sesc SP em parceria estratégica com a Prefeitura Municipal de São Paulo, e enriquecida pela perspectiva vital da Mostra Ecofalante, estabeleceu o palco perfeito para o nosso mergulho crítico. É neste encontro de instituições que se reafirma uma verdade inegável: o cinema é, sem dúvida, nosso luxo editorial, não por excesso, mas por excelência. Mas na confluência entre a sétima arte e a sala de aula, ele se revela uma ferramenta pedagógica de potência inigualável.
Foi com essa abordagem que Elisângela Nogueira, Coordenadora Pedagógica da Rede Municipal de SP e Mestra em Educação, cravou a tese central do evento. Ela ecoou uma verdade que incomoda: “O audiovisual é importante, mas nem sempre fazemos um uso adequado dessa ferramenta.” A questão, portanto, não está na ausência de recursos, mas na falta de um letramento audiovisual consciente. O seminário, impulsionado por essa reflexão, propõe-se a nos tirar do lugar comum e a fornecer o arcabouço para que o cinema seja, de fato, um agente transformador, exigindo que o educador conheça profundamente essa linguagem e a associe de forma estratégica e poética aos objetivos de aprendizado.
Se Elisângela nos deu o diagnóstico do uso, Emiliano Zapata nos aponta o caminho da ação. Ele destacou a Spcine como plataforma fundamental para a redemocratização do acesso ao cinema, especialmente nos territórios periféricos. A relevância da Spcine ultrapassa o mero incentivo à produção; ela está na vanguarda da inovação em acessibilidade, com iniciativas como as sessões azul para mães de crianças neurodivergentes e com TEA, além de projetos dedicados à terceira idade. Essa democratização só se completa, contudo, através da interlocução direta com os professores. São eles que, munidos dessa ferramenta, transformam cada exibição em capital cultural e potência pedagógica, garantindo que o direito ao audiovisual seja exercido com dignidade e significado em cada sala de aula da cidade.
A ambição de redemocratizar o acesso exige, contudo, um salto de qualidade na formação. Patrícia Barcelos, com a autoridade da UnB e da Ancine, expõe o ponto nevrálgico: o desafio não é apenas levar o projetor para a periferia, mas sim capacitar professores e trabalhadores institucionais a operar essa ferramenta com maestria. Sua reflexão nos força a ir além do espaço físico, perguntando: como o cinema é vivenciado dentro e fora da escola? A resposta está em vê-lo como uma linguagem que perpassa todas as experiências possíveis na área da educação. Para que esse potencial se materialize em prática cotidiana, e não seja apenas um projeto isolado, Patrícia enfatiza a necessidade crucial da regulamentação dessas ações, garantindo que o audiovisual seja parte indissociável da formação escolar.
Se Patrícia nos impulsiona à necessidade de regulamentação, Joelma Oliveira Gonzaga, Secretária do Audiovisual, aponta o novo território estratégico: as plataformas de streaming. Ela sublinha que a discussão sobre a regulamentação dessas plataformas é mais do que uma questão de mercado; é uma política pública essencial para o audiovisual brasileiro. O objetivo é duplo: garantir o financiamento do cinema nacional e, crucialmente, assegurar a disponibilização de conteúdo brasileiro para que possamos cumprir o dever de formação do público. Com essa regulamentação, o Estado utiliza o novo locus de consumo como veículo para conectar o cinema e o audiovisual brasileiro diretamente ao olhar do espectador e da sala de aula, reconectando o espírito da Lei do Cinema na Escola às telas digitais que moldam o cotidiano. É a garantia de que as histórias do Brasil não se percam nos algoritmos estrangeiros.
A complexidade da regulamentação e o desafio da formação nos remetem ao ponto final: a responsabilidade cívica da sociedade. Apoiar o cinema em toda sua potência transversal não é apenas um ato cultural, mas um compromisso brasileiro com a educação formal e informal. Ir à sala escura ou assinar uma plataforma de streaming transcende o entretenimento: implica movimentar toda uma jornada de transformação social, que mobiliza uma cadeia vital de profissionais, desde artistas e gestores, até professores, educadores e a própria sociedade civil. O que se exige, portanto, é uma seletividade rigorosa do cinema como ferramenta educacional. É aqui que reside a filosofia da MaDame Lumière: defender a intersecção entre o cinema e a vida como impulsionamento da valorização das diversidades e do olhar atento e reflexivo sobre as realidades sociais e os desafios humanos. Por isso, desde o nosso início, o foco não é a quantidade, mas a qualidade, com o compromisso inegociável de formar o olhar do espectador e, acima de tudo, dos indivíduos que têm em suas mãos o privilégio de educar as futuras gerações.
O Cinema como Ato Cívico
O que a abertura do 5º Seminário de Cinema e Educação nos provou é que o cinema, em sua potência máxima, é a mais urgente das questões pedagógicas. Não se trata apenas de regulamentar plataformas ou capacitar professores; trata-se de reconhecer o audiovisual como o idioma de nosso tempo, exigindo uma ação orquestrada do poder público (Spcine, Ancine, SAv) e do corpo docente (Elisângela Nogueira, Patrícia Barcelos e Rosália Duarte) . O uso adequado do filme na escola é o reflexo de um compromisso de nação, um ato cívico que transforma a fruição em formação. A verdadeira democratização do cinema só acontece quando entendemos que a tela é um espelho que exige o olhar crítico, um farol que ilumina as diversidades e um catalisador para a consciência social.
O cinema, afinal, é a vida em movimento.
Fiquem ligados no MaDame Lumière! Nosso mergulho neste seminário está apenas começando. Acompanhem os próximos capítulos desta cobertura que promete ser uma base formativa, reflexiva e crítica, essencial para entendermos o futuro da nossa sociedade e o papel inegociável do cinema como ferramenta pedagógica e de formação humana.
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Cristiane Costa, MaDame Lumière