Mostra internacional de Cinema de São Paulo 16 a 30 de Outubro de 2025 #MostraSP #Drama #Infância#CríticaSocial #Educação #Separação #Cinema...

Mostra SP: O Bolo do Presidente ( Mamlaket Al-Qasab / The President's Cake, 2025)



Mostra internacional de Cinema de São Paulo

16 a 30 de Outubro de 2025



#MostraSP #Drama #Infância#CríticaSocial #Educação #Separação #CinemaIraniano #Catar #Ditadura  #49ªmostra #49mostra #euvinamostra #FestivaisDeCinema


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



The  President's Cake: A Inocência Roubada e o Compromisso da Sobrevivência



O cinema é uma caixa de surpresas que eu abraço todos os dias. Logo após ser surpreendida pelo sabor doce da experiência cinematográfica, discorrer sobre The President’s Cake é um privilégio. O filme, vencedor da Caméra d'Or no Festival de Cannes e representante do Iraque na corrida pelo Oscar 2026, é um presente que tive a sorte de assistir na Mostra SP (e o melhor: houve um alinhamento enérgico, pois comprei o ingresso no mesmo dia, sem planejamento). O longa, dirigido por Hasan Hadi, estreante com sensibilidade de ancião, com certeza é um dos melhores filmes da Mostra e ganhou o Prêmio do Público na Quinzena dos Cineastas. É uma daquelas narrativas que já tenho licença poética para falar na primeira pessoa do singular, ainda mais por eu ser uma educadora.




Filmes protagonizados por crianças são muito diferenciados porque elas são bastante autênticas. Digo com segurança: houve uma época que tive o presente de educar crianças, e posso lhes dizer que foi o momento da minha vida que mais me senti amada, no campo dos afetos genuínos que há na humanidade. Por isso, ver crianças como Lamia vivendo sob opressão é ainda mais dilacerante. A criança é incrivelmente sincera em tudo que realiza. Neste filme, que fala sobre uma infância sofrida na ditadura de Saddam Hussein, é ao mesmo tempo emocionante e doloroso ver que infâncias são vividas na miséria não apenas de recursos, mas em uma miséria de abusos de poder. Em meio aos destroços, a criança ainda expressa essa doçura, que é mais acolhedora do que um pedaço de bolo saboroso.








No premiado filme de Hasan Hadi, o contexto é absurdamente miserável, ambientado no Iraque dos anos 1990. A população sofre de condições mínimas de sobrevivência, com falta de alimentos e poderosos que usam isso a seu favor. Lamia (Baneen Ahmad Nayyef), com 9 anos, vive com a avó em uma região muito pobre e cercada por rio pantanoso. Em uma das idas à escola, ela é sorteada para fazer o bolo do presidente, uma das imposições do estadista que determina que as escolas do país preparem um bolo para seu aniversário. Lamia percorre uma jornada entre a ternura e o medo para conseguir os ingredientes.



Partindo de uma ideia controversa, o diretor consegue realizar um diamante cinematográfico. O primeiro choque é observar o quão absurda é a imposição de um bolo para famílias que nem têm dinheiro para comer. A inconsistência começa aí, e não é surpreendente vinda de uma ditadura; ainda assim, choca pela desumanidade e autoritarismo. Mas, por outro lado, é possível observar que as crianças têm acesso à essa orientação, e, logo, esse é o projeto do país nesse momento histórico: uma educação que impõe e não acolhe. É uma pedagogia da submissão, não da formação. O que alivia esse tom pesado é a criatividade de Lamia, ao lado do seu amigo. Juntos e com uma sabedoria que alivia a dor, eles se esforçam bastante para conseguir os ingredientes para o bolo.



O diretor tem bastante senso de direção, tanto de atores mirins como de sua câmera e ângulos. É uma técnica expressiva e ao mesmo tempo leve em um ambiente hostil, o que lhe deu um reconhecimento merecido. É aquele tipo de filme que, a cada plano, abraça o olhar e o conduz com delicadeza por uma realidade brutal. Há detalhes claros da violência de gênero, que não respeita nem idoso, nem mulher grávida e muito menos criança, mas a forma como o diretor coloca é extremamente bem articulada, de modo que ele consegue posicionar o espectador para ver o que os homens se tornam em uma sociedade bastante patriarcal, capaz de usar dos privilégios para trocar comida por prazer, poder e autoridade. É nesse cenário que Lamia precisa encontrar força para proteger sua dignidade e sua família.








A atuação crua e terna de Baneen Ahmad Nayyef é incrível. Por meio dela, o diretor consegue elevar uma narrativa com uma honestidade brutal, mas ao mesmo tempo, com uma protagonista que tem um verdadeiro senso de compromisso e amor por essa responsabilidade. Lamia entende que, como a avó não tem dinheiro para ajudá-la a fazer o bolo, seu compromisso, mesmo sob coerção, é assegurar sua segurança e a de sua família. Ela não tem saída, mas o faz com um amor concreto.



E como entender esse compromisso? Lamia é guiada por um profundo amor, respeito e a necessidade de sobrevivência, o que a confere uma intuição aguçada para negociar e buscar alternativas, pois ela sabe a realidade dela e da avó. Ainda que eu não tenha ideia do que seria viver sob uma ditadura, pois provavelmente eu seria uma das mulheres silenciadas ou punidas por ousar pensar diferente, posso compreender a realidade de Lamia e de todas aquelas crianças que louvam o nome de um ditador, mas que passam fome em suas casas. É uma lógica da sobrevivência e do compromisso familiar. Assim, muito do nosso compromisso como público é compreender que há realidades e culturas diferentes e que, muitas vezes, estar seguro é proteger e amar sua família.








Lamia é uma das personagens mais sábias e amadurecidas dentre os filmes que já assisti sobre a infância. O amadurecimento dela não é ingênuo, pois em várias cenas, ela tem noção do perigo. Mas, ainda assim, há um valor acima da média, que é seu amor incondicional e uma certa esperança naquilo que ela tem aos olhos, como ainda obedecer um governo que é a única rota de escape da miséria. O diretor, Hasan Hadi, consegue, direta ou indiretamente, fazer uma denúncia eficaz e mostrar o absurdo com uma ironia certeira. Infiro que ele deve achar a ideia do bolo um verdadeiro absurdo, um traço narcísico do ditador. Ao não seguir uma lógica de batalha e guerra, ele foi muito mais potente. Por meio de Lamia, compreendemos um pouco mais porque governos totalitários não desejam empoderar a população e tirar o povo da miséria: porque isso é uma ameaça a eles.



The President’s Cake traz também uma perda da inocência, em uma realidade que apenas o amadurecimento mostrará que, ao fim, poderosos ainda precisam de pessoas pobres. É um filme que consegue ser politizado sem mostrar diretamente a política. Na minha experiência, colocar uma garota como protagonista é formidavelmente corajoso e nobre por parte do diretor e um grande acerto. Por isso, é um dos melhores filmes da Mostra e, se tiver repescagem, que ele possa ser oferecido em mais sessões e logo venha para a distribuição nacional. Lamia não é apenas uma sobrevivente. Ela é a prova de que a esperança resiste, mesmo quando tudo parece ruir.







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Caso não concorde com a opinião cinéfila de alguém, saiba como respondê-la educadamente, de forma a todos aprenderem juntos com esta magnífica arte. Opiniões distintas são bem vindas e enriquecem a discussão.

Saudações cinéfilas,

Cristiane Costa, MaDame Lumière

  Mostra internacional de Cinema de São Paulo 16 a 30 de Outubro de 2025 #MostraSP #Drama #luto#Adolescência #CríticaSocial #MulheresnaDireç...

Mostra SP: Ainda é noite em Caracas (Aún es de noche en Caracas | La hija de una española, 2025)

 




Mostra internacional de Cinema de São Paulo

16 a 30 de Outubro de 2025



#MostraSP #Drama #luto#Adolescência #CríticaSocial #MulheresnaDireção #CinemaMexicano #CinemaLatinoAmericano #CinemaVenezuelano #Política #49ªmostra #49mostra #euvinamostra #FestivaisDeCinema


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Ainda é Noite em Caracas : A Dor de Permanecer em um País em Colapso




O drama íntimo de uma mulher é engolido pelo colapso político de uma nação em Ainda é Noite em Caracas (La Hija de una Española, 2025), de Mariana Rondón e Marité Ugás. A coprodução Venezuela-México, que estreou no Festival de Veneza e é destaque na Mostra SP, usa a performance da colombiana Natalia Reyes (Adelaida) para nos mergulhar no caos de Caracas em 2017, com as ruas tomadas por protestos, repressão e violência.




Adelaida enfrenta o luto após a perda da mãe e, possivelmente, do namorado (Edgar Ramírez), enquanto a cidade se entrega à loucura. O apartamento, antes um porto seguro, repleto de livros e fotografias da mãe, torna-se subitamente uma extensão da violência e da destruição que assola o país. Essa escolha técnica de dilaceramento visível, onde as cenas decadentes do apartamento se fundem com o caos da cidade, é um acerto. Com o imóvel tomado por mulheres agressivas do regime, a única saída de Adelaida para sobreviver em um meio tão hostil, onde o diálogo foi substituído pela face brutal da repressão, é deixar o luto e o lar para trás, afugentando-se no apartamento da vizinha Aurora.








O roteiro tem a premissa interessante de misturar crise política, memórias, presente violento e a incerteza do futuro, cabendo à atriz Natalia Reyes a pesada missão de sustentar o engajamento do público. Ela se sai bem ao racionalizar a dor e a vulnerabilidade da personagem. No entanto, o filme encontra sua lacuna na execução do caos: as cenas de protestos são rápidas e radicais, lançadas em uma montagem que não gera uma tensão orgânica. Infiro que as diretoras intencionalmente quiseram elevar essa violência a algo gratuito e desprovido de propósito narrativo, refletindo a arbitrariedade do poder repressivo. Contudo, na minha experiência, embora ache o filme potente, essa opção dilui o impacto, fazendo com que a jornada se torne predominantemente emocional e, paradoxalmente, a abordagem técnica não consiga sustentar a profundidade da dor racionalizada de Adelaida, impedindo que o filme atinja todo o seu potencial dramático e crítico.




O alicerce do roteiro é, portanto, focar em como Adelaida sairá dessa prisão chamada Caracas. Estranhamente, o filme tem um antagonista poderoso, a crise caótica na cidade, mas Adelaida contracena praticamente sozinha, e nem mesmo o líder dos protestos, representado por Moises Angola, consegue preencher a lacuna de um diálogo mais forte. O filme se torna mais interessante quando ela se vê forçada a considerar a troca de sua identidade como única rota de fuga. Contudo, a forma como esse rito de passagem é mostrado carece da tensão necessária. Adelaida, sim, está em um processo de ressignificação, mas o timing do filme e a pressão social exigiram que ela apenas se disfarçasse para escapar, sem que o filme explorasse plenamente o peso simbólico dessa transformação. Isso, infelizmente, amortece a potência emocional desse rito de passagem.








Ainda é Noite em Caracas aborda um tema universal e contemporâneo: a insegurança em nosso próprio lar. Para o cinema mundial e diante do crescimento acelerado da intolerância e xenofobia, sair do nosso país para enfrentar outro não é uma decisão fácil. Mas será que é pior do que afundar-se em um país que não oferece dignidade e paz? O filme é moderno em sua constatação amarga: não estamos mais seguros em nossos países e muito menos fora deles. O que resta a Adelaida é carregar a incerteza do futuro, um espelho da desesperança de milhares que são forçados a encarar a migração como a única alternativa de sobrevivência. Adelaida não foge apenas de Caracas. Ela foge do colapso da esperança.




(3,5)



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Mostra SP: Jovens mães (Jeunes Mères, 2025)




Mostra internacional de Cinema de São Paulo

16 a 30 de Outubro de 2025



#MostraSP #Drama #maternidade#Adolescência #CríticaSocial #Separação #CinemaEuropeu #CinemaBelga #CinemaFrancês #49ªmostra #49mostra #euvinamostra #FestivaisDeCinema


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Jovens Mães (Jeunes Mères, 2025), dos Irmãos Dardenne: A Maternidade como Testemunho da Resiliência Feminina



Os irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, reconhecidos pelo prestígio de um cinema realista que expõe as dores da classe trabalhadora, estão de volta à Mostra SP com um filme contundente: Jovens Mães (Jeunes Mères, 2025). A obra aborda as histórias de cinco jovens que tiveram filhos na adolescência. O roteiro, merecidamente vencedor do Prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes, abre um espectro de diferentes realidades e amplifica o olhar da plateia, conectando-se de maneira formidável com o drama global das jovens mães solteiras. Vale destacar que o filme representa a Bélgica na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Internacional em 2026.




Histórias de abandono, violência doméstica, consumo de drogas e desilusão amorosa compõem o histórico dessas jovens. O roteiro foi elaborado com a versatilidade necessária para dar voz a cada história de maneira muito pessoal e realista. Jessica, Perla, Julie, Ariane e Naïma vivem a mesma realidade de serem acolhidas por um centro de maternidade para cuidarem de seus bebês.








Contudo, elas precisam interagir com pessoas que fazem parte de seu passado e presente, como mães negligentes, namorados e pais ausentes, além de possíveis adotantes. Esse cenário cria um universo bem específico que é central em seus traumas, dilemas e perspectivas para seguir adiante com suas crianças, ou não. A ausência da maioria dos pais dos bebês é, aliás, a prova de que o homem, como figura do patriarcado, tem muito a aprender e não abandonar seus filhos. A recorrência dessa temática, inclusive na dramaturgia nacional, como na novela Três Graças, revela o quanto o abandono paterno permanece como ferida aberta na sociedade contemporânea. Isso torna o roteiro um trabalho técnico e humanizado de primeira grandeza no cinema internacional.



Uma das riquezas do cinema dos Irmãos Dardenne é essa capacidade de conduzir a câmera com pouquíssimo texto, mas o suficiente para falas que expressam a face mais sombria das relações humanas. Principalmente quando se trata de pessoas que oprimem aquelas que deveriam acolher. Um desses exemplos é a presença dos pais de um dos progenitores ausentes, que nem aparece em tela, reforçando ainda mais essa ausência. Ver a arrogância dos mais abastados pode ser previsível na cinematografia dos Dardenne, mas é incrivelmente eficaz como eles conseguem rasgar o véu da hipocrisia diante das câmeras e expor a crueldade estrutural que permeia os vínculos sociais.








O naturalismo austero da obra acentua a condição dessas jovens. O silêncio e o pouco texto dizem muito sobre como elas são praticamente esquecidas e, para fugirem da miséria, precisam se fortalecer muitas vezes de forma heroica. Neste contexto, o silêncio é a própria resistência e força delas para lidar com o trauma e a imensa responsabilidade. A câmera, muito próxima aos personagens, nos conecta com elas para sentir sua vulnerabilidade e testemunhar sua dor. Mas é muito mais do que ser solidário. É um convite à empatia e à compreensão daquela realidade. Assim, o naturalismo com a escolha de direção íntima e documental nos faz refletir que, nesse cenário, elas são forçadas a amadurecer.



A narrativa apresenta uma direção e montagem eficientes, diretas ao ponto, mas igualmente sensíveis. A escolha do elenco é estelar, pois são jovens bastante preparadas na atuação, com um protagonismo humanizado. Elas transitam com verdade entre a couraça emocional e a vulnerabilidade latente, pois precisam ser fortes por seus filhos. Ao mesmo tempo, carregam a casca dura que a vida lhes lançou. Afinal, ser abandonada, ter um filho nos braços para cuidar com pouquíssimos recursos, e ainda contar com a ajuda de um serviço social, é um golpe difícil para jovens que, muitas vezes, não alcançaram nem 18 anos.







O ponto de inflexão reside na presença do namorado de uma das jovens. Isso não o coloca como o homem salvador da mulher, mas demonstra como é possível que os semelhantes se encontrem e, juntos, possam criar uma nova história, mais humana e possível. Por isso, o final é tão relevante para a compreensão da obra.



A obra dos irmãos Dardenne, portanto, não é apenas um retrato social. É um testemunho visceral da resiliência feminina e um convite direto à reflexão sobre a responsabilidade coletiva. É um filme que não apenas denuncia, mas convoca. A olhar, a sentir, a agir.





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Mostra SP: Nosotros (2025)

 




Mostra internacional de Cinema de São Paulo

16 a 30 de Outubro de 2025



#MostraSP #Drama #relacionamentos #MulheresnaDireção #Casamento #Amor #Separação #CinemaEuropeu #CinemaEspanhol  #49ªmostra #49mostra #euvinamostra #FestivaisDeCinema


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Nosotros (2025), de Helena Taberna: A Ressignificação do Afeto em Silêncio



O cinema sempre foi nosso grande confessor e território para o desnudamento das relações humanas. Contudo, poucas narrativas se atrevem a investigar a complexidade de um amor que se encerra, não pelo drama repentino, mas pela corrosão lenta do cotidiano. É nesse terreno minado e íntimo que se posiciona o drama espanhol Nosotros (2025), de Helena Taberna, um dos destaques da Mostra SP, baseado no romance de Isaac Rosa. Histórias de amor têm começo e fim, e a dissolução nem sempre resulta em ódio. Pode restar o amor, sim, mas também o ranço, e tudo bem. A coragem reside em ressignificar, permitindo que, se algo bonito foi vivido, permaneça, pelo menos, o respeito.



A diretora Helena Taberna opta por uma narrativa fragmentada, cuja montagem desordenada retrata diferentes períodos da relação de Ángela e Antonio, vividos por María Vásquez e Pablo Molinero. Esse recurso se revela um acerto estético. Para o espectador, a experiência de acompanhar o casal se assemelha à própria sensação de reviver um relacionamento afetivo. Afinal, lidamos com emoções, contextos e ações que não seguem uma ordem cronológica regular. A vida a dois é feita de picos e vales, amores e desamores, e essa montagem traduz de forma verossímil a maneira como a memória, e não o relógio, dita a cadência dos sentimentos.








A qualidade da obra é inegavelmente sustentada pelo desempenho magistral dos atores. María Vásquez e Pablo Molinero elevam o roteiro, humanizando os silêncios, as incompreensões e os afetos com notável profundidade.



Embora o texto dramático, em termos narrativos, seja mais desencontrado ou, para ser mais preciso, sem um arco dramático tradicional, a atuação em conjunto com a proposta montada resulta em uma harmonia narrativa rara. O filme nos permite testemunhar situações cotidianas simples que replicam nossos próprios clichês ou ações incompreensíveis. E, de fato, é essa autenticidade que define a vivência de uma relação.







O filme carece deliberadamente de um elemento climático, da reviravolta explosiva que o cinema convencional de relacionamento costuma oferecer. Nem mesmo a traição, quando sugerida, é tratada como um evento passional. Infiro que essa seja uma escolha consciente de Taberna, que busca manter uma linha legítima de respeito com o casal e também com o público, evitando o melodrama e as cenas de confronto emocional explícito. A história em si encontra sua autenticidade na forma como casais se rompem, mesmo quando ainda há afeto ou quando o motivo exato se torna nebuloso. 



O longa demonstra que amar é belo, mas é na intimidade da experiência individual que a satisfação reside. Buscar completude no outro é sempre um terreno delicado, e o filme explora a diferença entre desejo e amor. É possível amar alguém profundamente e, ainda assim, ver o desejo esmaecer.



Com um ritmo mais lento e profundamente intimista, Nosotros exige do espectador uma predisposição para o recolhimento. Minha recomendação é clara: assista a ele nesse timing, com o humor de quem busca entender que a ressignificação do afeto é o melhor caminho. O filme oferece uma bússola emocional para atravessar o luto silencioso das separações sem ruptura.






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No entanto, não serão aprovadas mensagens que insultem, difamem ou desrespeitem a autora do blog assim como qualquer ataque pessoal ofensivo a leitores do blog e suas opiniões. Também não serão aceitos comentários com propósitos propagandistas, obscenos, persecutórios, racistas, etc.

Caso não concorde com a opinião cinéfila de alguém, saiba como respondê-la educadamente, de forma a todos aprenderem juntos com esta magnífica arte. Opiniões distintas são bem vindas e enriquecem a discussão.

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Mostra SP: A Sombra do meu Pai (My Father’s Shadow, 2025)

 



Mostra internacional de Cinema de São Paulo

16 a 30 de Outubro de 2025



#MostraSP #Animação #49ªmostra #49mostra #euvinamostra #FestivaisDeCinema


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



A Sombra do meu pai: A Paternidade como Alicerce em Meio à Crise Nigeriana



Histórias de amadurecimento são verdadeiros ritos de passagem, e se tornam especialmente pungentes quando entrelaçam relações familiares, como pais e filhos, com a figura do grande pai coletivo: a nação como lar. Quando esse país está sob ameaça política, o amadurecimento é muitas vezes sustentado pela figura paterna, que se torna o alicerce fundamental para enfrentar uma realidade hostil.




A Sombra do Meu Pai (My Father's Shadow, 2025), dirigido por Akinola Davis Jr., é um dos destaques da 49ª Mostra SP e recebeu Menção Honrosa na Competição Caméra d'Or do Festival de Cannes. Apresentado como um conto semiobiográfico ambientado na Nigéria durante a tensa crise eleitoral de 1993, a narrativa percorre um dia na vida de um pai e seus dois filhos pelas ruas, da casa até a capital, Lagos. Esse percurso físico se transforma também em um trajeto emocional, onde a figura paterna emerge como eixo da narrativa. A experiência se desenrola em deslocamentos por lotações e motos, conversas sinceras à beira-mar, um banho libertador e um momento de tensão com militares.







Na essência, o filme se apoia na figura do pai, interpretado por Ṣọpẹ́ Dìrísù, que sustenta a infância dos filhos pelo companheirismo e pela busca desesperada de um dinheiro que lhes garanta dignidade. A obra revela, contudo, que a nação (esse pai coletivo) falha miseravelmente em meio à miséria e à repressão. Em parceria de roteiro com o irmão Wale Davies, o cineasta realiza um belo trabalho de direção e fotografia, embalando a experiência com um olhar sensível ao cotidiano da Nigéria. O público se torna testemunha desse dia a dia que combina paternidade, identidade e memória. Muito da doçura do longa provém dessa relação não idealizada, mas capaz de marcar a importância da referência paterna às crianças em um momento crítico da história nigeriana. A afeição dos filhos, representados pelos talentosos Godwin Egbo e Chibuike Marvellous Egbo, é palpável em cada cena.




Há um equilíbrio notável entre a tensão histórica que leva ao clímax e a sustentação de uma memória muito particular do cineasta. O cinema torna-se território de revisitação afetiva e política desse passado, provocando uma reflexão sobre se a história nigeriana mudou ou se ainda padece de similaridades com relação a golpes e repressões. O dado histórico é essencial: o general Ibrahim Babangida cancelou uma eleição democrática vencida por MKO Abiola, gerando um campo de batalha de protestos e mortes.




Neste contexto, a memória simboliza uma chama inextinguível que reside em nós, sustentada pela relação entre pais e filhos. Relembrar esse momento é uma forma de declarar: “Tenho uma história e uma memória, e ambas não serão esquecidas.” É um ato de resistência que assegura que não esqueceremos o mal que nos fizeram, e que ainda nos fazem. A memória assume, assim, um significado universal, pois garante que podemos ser resistência, amplificando o significado do longa para além de seu contexto específico. Se temos nossa família, nosso lar, nosso país, as memórias que giram em torno de nossa identidade e pertencimento não serão obliteradas, mas serão o combustível para não desistirmos de lutar contra o autoritarismo político e a miséria social.







A opção estratégica de Davis Jr. por priorizar a memória afetiva e a sutileza da denúncia nos traz a convicção de que nossas relações de afeto, assim como a construção de nossas memórias e identidade, não podem ser usurpadas por um golpe. Apesar da triste história da época, o filme pulsa com a relação genuína e bela entre o pai e seus filhos. Isso é, em si, um ato de resistência: uma maneira de descolonizar a narrativa ao refutar o estereótipo de que as histórias africanas carecem de força e se limitam à miséria. O papel do diretor é uma escolha intencional de roteiro e direção que valoriza o afeto como um alicerce que não pode ser golpeado, mesmo com a violência à espreita e circulando em alguns planos. Entendemos, assim, que se temos um alicerce afetivo forte, a memória se estabelece como resistência duradoura.




O fato de a obra ser semiobiográfica e coescrita pelos irmãos Akinola e Wale Davies sugere que a memória afetiva é um exercício de resgate e validação coletiva. Essa colaboração criativa transcende a autoria individual para se tornar um manifesto de identidade familiar e cultural. Essa é a matéria humana colocada a serviço do coletivo e da memória. Afinal, quantos filhos perderam seus pais para a repressão e a violência? Quantos pais perderam seus filhos em um mundo corrupto e agressor? Milhares. Ao transmutarem a perda e a saudade em arte, os irmãos nos dão a possibilidade de resgatar os afetos que ainda não nos demos conta de que estão sendo perdidos, ou que podem se perder a qualquer momento em sociedades intolerantes.







O diretor opta por priorizar a memória afetiva do pai em vez de explorar grandes conflitos diretos com os antagonistas. Assim, os problemas daquele dia são sugeridos, seja pelas falas entre adultos, seja pelos detalhes de extrema pobreza e carências que a população nigeriana enfrenta. O filme, desse modo, consegue denunciar sem negligenciar a mensagem de que, quando uma nação está em crise ou oferece um clima de desconfiança e descaso, o pai humano ainda é a coluna que pode sustentar os momentos mais acolhedores com os filhos.




A Sombra do Meu Pai é um filme sutil e de uma beleza rara. O diretor utiliza a arte cinematográfica e seu talento para construir um dia com o pai que eles, de fato, não chegaram a conhecer muito bem. E é nessa poderosa conexão que o cinema mostra sua força: a de propiciar os afetos que desejamos, e a de, simbolicamente, ressuscitar os mortos para a memória.





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  Estreia nos Cinemas - 16 de Outubro. #CinemaAsiático #Animação #FilmeDeAnimação #CinemaEstrangeiro #Lealdade #Família #Adoção #Amadurecime...

Entre Penas e Bicadas (GoldBeak, 2023)

 




Estreia nos Cinemas - 16 de Outubro.


#CinemaAsiático #Animação #FilmeDeAnimação #CinemaEstrangeiro #Lealdade #Família #Adoção #Amadurecimento #CinemaChinês #Lançamentos2025 #A2Filmes


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Adoção, Coragem e Lealdade: O Voo Emocional de Bico Dourado



A animação é um terreno fértil para aproximar crianças e suas famílias dos valores universais que cooperam para uma educação mais dialógica, sem esconder, contudo, que a lealdade e o amor nem sempre vêm de quem se espera.


Entre Penas e Bicadas (GoldBeak, 2023), a nova animação dirigida por Nigel W. Tierney (Shrek Para Sempre, Kung Fu Panda 3) chega da China para conquistar os espectadores com o carisma de uma águia que amadurece mesmo em meio à memória de um luto sobre o qual ele não sabia a real verdade.


Criado entre galinhas, Bico Dourado acredita não saber voar.


Ao lado de sua irmã Catraca, ele embarca em uma jornada até Bird City, onde começa a desvendar o mistério de seu nascimento. Lá, encontra familiares, descobre verdades ocultas e se vê diante de uma batalha histórica entre águias e galinhas, uma metáfora clara sobre pertencimento, identidade e escolhas que moldam o futuro.






Com codireção de Dong Long e roteiro assinado por Robert N. Skir, Jeff Sloniker e Vivian Yoon, a animação aposta em uma narrativa acessível, com ritmo ágil e personagens que se comunicam bem com o público infantil. A dublagem brasileira com João Vitor Mafra, Sicília Vidal e Marco Antônio Abreu reforça o envolvimento emocional, enquanto as vozes originais, incluindo David Henrie e Valkyrae na versão norte-americana, ampliam o alcance internacional da produção. É um elenco plural que empresta vida e textura aos personagens, permitindo que a história ganhe camadas afetivas e reverberações globais.








O que emociona na trajetória de Bico Dourado é perceber que seu pertencimento não nasce de laços sanguíneos, mas de uma rede de afetos construída por galinhas que o acolheram como filho. Na lógica da história, essas aves são vistas como simples, terrenas, até subestimadas, enquanto as águias brilham em sua elegância, riqueza e imponência. Mas é justamente nesse contraste que a metáfora ganha força: não importa a origem, nem o prestígio que ela carrega. O que realmente importa é o vínculo genuíno que conseguimos cultivar. Bico Dourado foi amado por quem estava presente, por quem cuidou, por quem ofereceu afeto, a essência do que a vida deveria ser.








A beleza da história reside justamente nesse processo de transformação, ainda que o bom embalo e a agilidade da animação acabem acelerando o amadurecimento de Bico Dourado. De uma águia medrosa e insegura, ele se torna uma figura potente, movida pela busca da verdade e pela coragem de enfrentar o que foi ocultado. Sua trajetória é marcada por lealdade, e só isso já valeria o ingresso. Mas há mais: Bico Dourado é também um personagem encantador, com carisma e doçura suficientes para conquistar o público desde os primeiros minutos. Ele é, sem dúvida, muito fofinho e isso também importa.







Visualmente, a animação é vibrante e colorida, com cenários que misturam fantasia e natureza em proporções encantadoras. Embora o roteiro siga uma estrutura clássica de jornada do herói, ele acerta ao tratar temas como luto, adoção, pertencimento e coragem com delicadeza. A relação entre Bico Dourado e Catraca é o coração da história, uma irmandade que resiste às adversidades e que, mesmo em meio a revelações difíceis, se mantém como porto seguro.


No conjunto, a animação funciona como uma fábula moderna: leve, divertida e com espaço para reflexões. Ideal para sessões em família, o filme convida o público a pensar sobre o que nos define, e sobre como, às vezes, é preciso voar para longe das certezas impostas para encontrar a verdade que mora dentro de nós.









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  Estreia nos Cinemas - 16 de Outubro. #CulturapopJaponesa #Animação #FilmeDeAnimação #CinemaEstrangeiro #Conan28  #CinemaJaponês #Lançament...

Detetive Conan: O Pentagrama de Um Milhão de Dólares (2024)

 




Estreia nos Cinemas - 16 de Outubro.


#CulturapopJaponesa #Animação #FilmeDeAnimação #CinemaEstrangeiro #Conan28  #CinemaJaponês #Lançamentos2025


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação


O Enigma das seis lâminas e o desafio da imersão cultural



Inspirado por dois mestres do mistério, Arthur Conan Doyle e Edogawa Rampo, Detetive Conan: O Pentagrama de Um Milhão de Dólares reafirma o fôlego de uma das franquias mais longevas e queridas da animação japonesa. Misturando ação, investigação e aquele charme peculiar dos animes clássicos, o longa não apenas honra suas raízes como também conquista novos públicos com uma trama envolvente e visualmente vibrante.


Em 2024, o filme se tornou o maior sucesso de bilheteria no Japão, ultrapassando marcas expressivas e arrecadando cerca de R$500 milhões, superando inclusive grandes produções internacionais. Agora, com estreia prevista para 16 de outubro nos cinemas brasileiros, a expectativa é que esse fenômeno cultural reverta essa força para cá, conquistando fãs e curiosos com sua narrativa pulsante e estética refinada.








A trilha sonora, por sua vez, também desempenha um papel essencial na construção da identidade da franquia. O tema principal, “Soshisoai”, é interpretado por Aiko — cantora nascida em Suita, Osaka, cuja trajetória artística começou ainda na juventude, quando compunha ao piano e se apresentava em festivais estudantis. Com formação musical sólida e passagem pelo rádio antes de ser descoberta por uma gravadora, Aiko é hoje uma artista reconhecida nacionalmente. Sua participação marca a primeira colaboração com Detetive Conan, e sua voz imprime delicadeza e força emocional à narrativa, o que amplifica o vínculo afetivo com o público.



A distribuidora Sato Company, responsável por trazer o filme ao Brasil, tem se destacado por uma curadoria afiada nas animações asiáticas. Mais do que uma escolha pontual, esse movimento revela um posicionamento mercadológico claro: valorizar produções orientais e ampliar o repertório cinematográfico disponível nas salas brasileiras. Em tempos de cartazes saturados por fórmulas repetidas, apostar em narrativas investigativas vindas da Ásia é também um gesto de coragem, uma forma de oxigenar a experiência do público e democratizar o acesso a outras formas de fazer cinema.






Em meio aos ventos gelados de Hakodate, o filme desenha uma narrativa que gira em torno de um tesouro ancestral, cobiçado, protegido e envolto em segredos que atravessam gerações. O roubo de espadas raras, ligadas à família Onoe, acende o mistério que une Conan e Heiji em uma investigação que vai muito além da superfície.


Entre torneios de kendo, espadachins mascarados e confissões amorosas que tropeçam na própria timidez, o enigma das seis lâminas se revela como a chave para uma disputa que envolve honra, legado e ambição. O longa transforma o suspense em uma dança entre passado e presente, onde cada pista é uma peça de um quebra-cabeça histórico que pulsa com urgência e beleza.


Como produção audiovisual, O Pentagrama de Um Milhão de Dólares é tecnicamente impecável. A animação carrega o legado de 27 filmes anteriores e reafirma uma identidade visual e narrativa já consolidada. Há uma reverência clara ao Kendo, arte marcial japonesa que não apenas compõe o pano de fundo da trama, mas também reverbera valores como disciplina, coragem e honra — pilares que dialogam com o espírito investigativo do filme. A presença de clubes estudantis que praticam o Kendo reforça esse vínculo cultural, enquanto o roteiro se desdobra com um elenco amplo, reunindo figuras queridas como Heiji, Conan e o enigmático Kid Fantasma.







Para os fãs da franquia e do universo anime, o longa entrega agilidade, lógica e vínculos afetivos, costurando histórias pessoais e rivalidades em uma investigação que pulsa com intensidade. No entanto, para quem não está familiarizado com esse universo tão específico da cultura pop japonesa, o filme pode soar hermético e desafiador. A narrativa se apoia em múltiplas camadas investigativas que se entrelaçam com rapidez, exigindo atenção constante e uma predisposição para acompanhar deduções que, por vezes, surgem com urgência e certa confusão.



O envolvimento emocional, ainda assim, é facilitado pelo carisma dos personagens e pela estética própria da animação japonesa — que carrega, em si, um emaranhado de emoções que vão do amor juvenil à busca por justiça. Mas a multiplicidade de personagens e desdobramentos acelerados pode dificultar uma conexão mais profunda, especialmente para quem não acompanha a franquia com regularidade.






É bem provável que, para quem mergulha com profundidade na franquia ou está inserido na cultura japonesa, cada cena de Pentagrama de Um Milhão de Dólares reverbere como um presente. Fica a provocação: embora não seja necessário conhecer inteiramente uma cultura para se encantar com um filme estrangeiro, a narrativa precisa oferecer caminhos de acesso. Em alguns fragmentos, o longa dificulta essa imersão — não por falta de competência ou potência, mas por estar profundamente enraizado em um universo próprio.


O sucesso estrondoso no Japão e a marca de 38 milhões de visualizações globais na Netflix confirmam sua força. Mas também evidenciam que nem todo fenômeno local se traduz com igual intensidade fora de sua origem.


De certa forma, este é um fã service de grande diversão. Como animação internacional, talvez um roteiro com mais ganchos emocionais pudesse facilitar o espelhamento com públicos diversos. Ainda assim, cada experiência com o cinema é subjetiva e única. E esta, sem dúvida, é uma produção de primeira grandeza — que será acolhida em diferentes níveis de satisfação, inclusive no meio termo, por quem ainda está descobrindo os encantos e complexidades do universo dos animes.





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