O thriller gira em torno desta negociação e não há emocionantes e exagerados momentos de ação, por isso, filmes com Tony Scott seguem a própria estética dele, por sinal muito técnica, que acaba exigindo bem mais do elenco principal e dos diálogos o que, felizmente, Denzel e Tony fizeram bem. Não fiquei surpresa em não ver aquela correria básica em cena, porque eu conheço o trabalho de Tony Scott e, de forma muito evidente, ele faz exatamente em cena o que ele fez com Deja Vu, Jogos de Espiões e tantos outros, principalmente em Deja Vu cujo lance da câmera parecia mais uma sensação de Deja Vu diante dos meus olhos. Neste ponto, não nego que, embora ache Tony Scott um competente diretor, acho que ele me cansa com este jeito "britânico" de ser muito corretamente técnico e estético (e, saibam que meu olhar é muito estético e com grande sensibilidade artística mas eu ainda valorizo a espontaneidade de uma direção). Há horas que percebo que falta isso nele ao dirigir a cena e deixar a sequência mais natural, mais fluída e não tão dependente da técnica. Pior ainda é pensar que ele não consegue largar este vício entre um filme ou outro que, sob este aspecto, acabam estressando os olhares cinéfilos que conhecem o trabalho dele e sua fixação por seu próprio estilo.
Tony Scott adora focos direcionados, entre um quadro e outro, mais imediatos em alguns momentos e em outros não mas que, na estética geral, dá uma idéia bem fixa de como ele é meticulosamente organizado na forma de dirigir, como se ele manipulasse a câmera de forma a pintar a própria tela com os seus milimétricos e variados focos. Neste ponto, ele tem o gosto apurado, mas isso pode cansar os cinéfilos mais atentos que absorvem os estilos de grandes diretores. Tony adora uma câmera que dá uma tensão ao suspense sem fazer barulho de carros explodindo e homens atirando uns nos outros, sem usar estes recursos como "muleta", o que acho ótimo, contanto que a tensão tenha "vida" na vida do espectador durante e após o filme e, honestamente, não senti vida em O Sequestro do Mêtro 123, principalmente considerando quão tenso deveria ser um sequestro. Embora assuma que não é um filme péssimo e, felizmente, os protagonistas o salvam, penso que quando um diretor decide refilmar um grande clássico, ele tem que saber muito bem como superá-lo a fim de não fazer um filme "fácil de esquecer". Tony Scott se esqueceu deste importante pequeno detalhe.
Das duas atuações, embora John Travolta esteja ótimo como um viciado jogador da bolsa de valores e bandidão focado em obter o milionário resgate e fazer pressão psicológica nos outros, Denzel Washington tem o personagem que julgo mais interessante para tirar um aprendizado do filme. Ele, sendo acusado por obter propinas da empresa, se vê em uma situação humilhante que é ser rebaixado no cargo e ainda lidar com as piadinhas de um intolerante colega de trabalho. Agora, estando em sua posição "subalterna", ironicamente, ele vira o centro da trama, ou seja, dele também dependem as vidas de vários reféns, principalmente quando Ryder o obriga a entrar nos trilhos do metrô para levar o pagamento, já antecipando que Garber é de suma importância para dirigir o trem da fuga cujo manobrista foi morto.
O interessante no enredo (e seu melhor momento) é que, antes deste acontecimento, Ryder (que está com acesso à internet), descobre que Garber está sendo acusado de corrupção, então ele acaba forçando Garber a contar a verdade na frente de todo mundo, inclusive da polícia, como se no meio da negociação houvesse um rápido e decisivo tribunal cujo réu é Garber. Garber acaba confessando que recebeu propinas para ajudar na eduçação dos filhos e o mocinho vira bandido confesso despertando na audiência aquele conflito complicado que é a relativização da culpa, ou seja, Garber cometeu um ato ilegal por um "humano e paterno" motivo mas é potencialmente o herói da história. O máximo do filme é que Garber consegue se redimir com o próprio Estado de Nova York , através do seu comprometimento em favor da justiça, afinal, ele é a única pessoa que tem acesso a Ryder, uma oportunidade de fazer justiça e não se igualar à bandidagem.
Título Original: The Talking of Pelham 123
Origem: Estados Unidos, Inglaterra
Gênero(s): Suspense, Ação
Duração: 106 min
Diretor(a): Tony Scott
Roteirista(s): Brian Helgeland, John Godey
Elenco: Denzel Washington, John Travolta, Luis Guzmán, Victor Gojcaj, John Turturro, James Gandolfini, Michael Rispoli, Ramon Rodriguez , Saidah Arrika Ekulona, John Benjamin Hickey, Alex Kaluzhsky, Gbenga Akinnagbe, Katherine Sigismund, Jake Richard Siciliano, Gary Basaraba
Falou tudo madame. Eu vi o original e esse aí. Confesso que o charme desse filme é mesmo o encontro entre Travolta e Washington. O filme é bom entretenimento e acerta em atualizar certas coisas, como por exemplo as motivações do vilão e ao relativizar o conceito do bom moço em uma sociedade como a nossa. No mais quantoa estética de Tony scoot, tb gosto bastante. Mas o cinema dele vem sofrendo com isso. Cada vez mais seus filmes sucumbem a maneirismos e truques de estilo. A influência direta de Cidade de Deus, que ele mesmo admite, já é algo, para ele, mais prejudicial do que positivo. E Denzel, bem, ele é bom em tudo né?! Para variar, o cara dá show!
ResponderExcluirBjs madame!
Que bom que concordamos mais uma vez. Conforme comentei, Tony Scott é muito competente em seu estilo estético, no entanto, o "feitiço está virando contra o feiticeiro", por isso o filme não brilhou como outros trabalhos dele(Chamas da Vingança que é o meu preferido)
ResponderExcluirDenzel é um tesão de ator! Adoro este poder dele de ter uma filmografia que sempre esteve em sintonia com a singularidade dele!
Bjs da Madame!