A roteirista e diretora Nancy Meyers (dos excelentes Alguém tem que ceder e Do que as mulheres gostam) é uma grandiosa mulher, daqueles que merecem ser homenageadas no próximo 8 de março, dia Internacional da Mulher. Sua grandiosidade está em conhecer e reconhecer bem o universo feminino, em especial, o da maturidade e todos os seus desdobramentos com uma boa dose equilibrada e bem humorada dos amores e dissabores do que as mulheres sentem a respeito do amor, do companheirismo, da paixão, da solidão e tantas outros sentimentos que não devem ser esquecidos, nem pelas mulheres e muito menos pelos homens. Meyers já havia comprovado seu talento ao falar sobre mulheres experientes e maduras em Alguém tem que ceder, com um formidável texto charmoso interpretado magnificamente por Diane Keaton e Jack Nicholson. Desta vez, ela assina o roteiro e a direção de Simplesmente Complicado e traz a camaleônica diva Meryl Streep como Jane, uma mulher que após um longo tempo divorciada, tem uma recaída pelo ex-marido Jake (Alec Baldwin) e se torna amante dele. Paralelamente, Jane também se vê envolvida no flerte com seu arquiteto Adam (Steve Martin). Uma comédia inteligente, sensível, descontraída e que tem a luminosidade de Meryl Streep, adoravelmente charmosa como a ex-mulher que se torna amante, e com deliciosos benefícios.
Neste enredo, Jane é uma mulher independente e tem seu próprio negócio, uma padaria. Ela está separada de Jake há mais de uma década e acaba de ficar sozinha em casa porque seus filhos já tomaram o rumo entre a independência e os estudos. Jake acabou casando com uma mulher mais jovem Agness (Lake Bell) que tem um filho insuportável Pedro (Emjay Anthony) e está muito estressada tentando engravidar. Em uma viagem para Nova York para celebrar a formatura do filho mais jovem, Jane e Jake flertam, se divertem e se envolvem sexualmente. Jake fica fascinado por perceber como a ex-mulher está incrivelmente sexy e é maravilhosa. Jane entra no ritmo da recaída e eles se tornam amantes às escondidas, relacionamento que cria uma série de situações divertidíssimas. Paralelamente, Jane conhece o arquiteto responsável pela reforma de sua casa, Adam, que também está recém separado e ainda se recuperando da traição da mulher. De imediato, ele se sente fascinado pelo charme e simpatia de Jane e pouco a pouco começam a se aproximar, sem um envolvimento sexual, mas capaz de deixar Jane em dúvida entre ser a amante do ex-marido e/ou voltar para ele ou seguir uma provável história de amor com Adam.
Meyers começa este trabalho com uma ótima escolha de elenco. Streep é uma atriz que não é envaidecida como as grandes celebridades. Ela é uma mulher natural, logo o processo de identificação com uma mulher como Jane é imediato, não importando se quem se reconhece nela é jovem ou madura. Streep está realmente luminosa neste papel e interpreta muito bem aquele tipo de mulher experiente que floresce com o sexo e oxigena a vida com um misto de diversão, dedicação e hesitação perante este acontecimento amoroso inusitado. Desde as conversas com as amigas, o terapeuta, o cirurgião plástico até os rituais de encontro, tudo é muito agradável e verossímil e o roteiro de Meyers dá um tom de espontaneidade de que aquela história é a história de uma mulher vivida mas pode ser a história de tantas outras mulheres que, em diferentes idades, podem se ver em situações como estas. Alec Baldwin tem o lado canastrão dele e que combina com Jake, que é tipicamente aquele homem que casou com uma mulher mais jovem mas não sabe o que fazer já que ambos estão em "momentos" diferentes. Ela tentando engravidar e ele tomando remédio escondido para diminuir o nº de espermas. Jake acabou anulando a própria vida ao lado de uma mulher impositiva e não é feliz, logo seu reencontro com a ex-mulher o faz refletir sobre a relação e o que pôs a perder no passado que teve impacto no seu presente. Embora o papel dele é mais caricato, a interpretação é boa porque Alec Baldwin não precisa pensar muito, ele interpreta ele próprio: com charme cafajeste e humor piadista. Segundo os tablóides, ele também sofreu horrores ao se separar de Kim Bassinger, então esta película lhe calçou como uma luva ao compreender-se através de Jane. Já Steve Martin, em um papel mais coadjuvante, não perde a cena. Seu humor não está escrachado, mas ele faz aquele papel de um homem mais discreto, paciente e respeitador que ainda sofre uma perda, mas que enxerga em Jane uma possível grande companhia, sem forçar a barra com um estilo óbvio de ser garanhão. Neste sentido, é um personagem interessante para um potencial relacionamento sério e maduro porque Adam é totalmente o contrário de Jake. Adam é mais compreensivo, gosta de conversar e não é invasivo com Jane. Adam é mais para "casar", enquanto Jake gosta do flerte de pele, do prazer do sexo oculto, se adequando mais ao estilo de homem "para se divertir" . O humor de Steve Martin tem uma ótima química com o de Meryl Streep, em especial, quando ambos fumam um baseado e passam uma madrugada juntos na padaria de Jane.
Avaliando a comédia sob um ponto de vista feminino, Simplesmente Complicado é o drama de todas as mulheres sejam divorciadas, casadas e solteiras. Quem nunca teve uma recaída amorosa na vida? Nem que seja somente para pensar naquele ser amado cujo relacionamento não engatou. Quem nunca se sentiu revigorada ao redescobrir as delícias do sexo? Fazer amor é bom demais, faz bem à pele e ao coração. Quem nunca se sentiu sozinha no meio da madrugada abraçando o próprio travesseiro? Sentir-se carente é intríseco a qualquer ser humano, em especial quando se é mulher descompromissada. Quem nunca quis fazer uma cirurgia plástica ao olhar o corpo de uma mulher mais jovem ou uma parte do corpo perdendo o viço e a elasticidade? Seria hipocrisia negar que toda mulher quer se sentir mais bonita e mais desejada. Quem nunca deu risada com as amigas falando que precisa transar urgentemente para a vagina não fechar? Sentir o corpo de um homem não tem preço e abre as entranhas do desejo e do prazer. Quem nunca já se viu confusa entre focar em ser feliz com um novo amor ou reconquistar o amor inesquecível do passado? Pelo menos, uma única vez esta dúvida deve ter pairado na alma feminina que deseja viver o amor e dar-se a segunda chance. Quem nunca se sentiu mais sexy com a maturidade? Envelhecer não é uma tragédia, pelo contrário, a mulher fica ainda mais deslumbrante quando lida melhor com as delícias da maturidade desenvolvendo autoconfiança. Por isso, Simplesmente Complicado é universalmente divertido e feminino e, sob uma ótica de uma mulher mais madura como Meyers que aprecia dirigir protagonistas femininas que vivem os dilemas da maturidade, este longa-metragem é enfocado com uma grande sensibilidade, sem colocar culpa nos amantes e nem nos sentimentos que se desdobram com estas relações, afinal, o dilema é complicado mas é prazeroso e enfoca que nunca é tarde para recomeçar. A paixão e o recomeço do amor não tem idade, assim como a esperança é eterna.
Simplesmente Complicado é uma comédia madura e descomplicada e, ainda que conserve alguns clichês, não há problema em clichês aqui porque Meyers os inclue de forma a valorizar que os relacionamentos amorosos também se sustentam por clichês que não podem ser subestimados e nem ignorados. Meyers é incrivelmente boa no que faz por isso seus trabalhos são um espelho da alma feminina que também se ama, ama e deseja ser amada; mas também Meyers escreve e dirige muito bem para os homens; para que eles enxerguem como as mulheres são e o que sentem tal que possam ver que não somos tão complicadas assim, somos somente mulheres que amam e que desejam continuar vivendo a vida com todos os benefícios, sem as neuras da idade.
Avaliação MaDame Lumière
Título original: It's Complicated
Origem: EUA
Gênero: Comédia, Romance,Comédia Romântica
Duração: 120 min
Diretor(a): Nancy Meyers
Roteirista(s): Nancy Meyers
Elenco: Meryl Streep, Steve Martin, Alec Baldwin, John Krasinski, Lake Bell, Mary Kay Place, Rita Wilson, Alexandra Wentworth, Hunter Parrish, Zoe Kazan, Caitlin Fitzgerald, Emjay Anthony, Nora Dunn, Bruce Altman, Robert Curtis Brown
Achei o mais fraquinho da Meyers, porque aqui ela não conseguiu disfarçar o artificial e o clima muito "arrumadinho" da película. Ainda assim, o humor funciona na maior parte e Streep deslumbra, como sempre. Ao lado de Baldwin, também muito bom, faz o filme valer a pena.
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Como vc bem sabe, amei esse filme.Assim como amo o cinema de Meyers. Ótimo texto madame, ainda mais quando aprofunda a identificação com a mulher moderna, algo que escapa a muitos expectadores desatentos, principalmente homens.
ResponderExcluirBeijos e bom Oscar hj!
Oi Wally, eu gostei bastante deste filme. Achei Simplesmente Complicado super agradável e simpático! Acho que só perdeu para alguém tem que ceder, que é m primor delicioso. Não vi artificialidade, acho somente que há clichês que Meyers consegue disfarçar um pouco mais por conta do domínio que ela tem para tratar assuntos mais maduros, porém a maturidade também exige tratar temas que sempre serão clichês amorosos. bjs
ResponderExcluirOi Reinaldo, que comentário mais fofo! Obrigada por reconhecer minha visão mais abrangente e sensível sobre o cinema e seu diálogo com a modernidade e com as relações humanas. bjs
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