Sou MaDame Lumière. Cinema é o meu Luxo.

Para quem assistiu o filme À procura da felicidade (2006) com o talentoso Will Smith e se emocionou com a tocante história de esperança e ...

Sete Vidas (Seven Pounds) - 2008



Para quem assistiu o filme À procura da felicidade (2006) com o talentoso Will Smith e se emocionou com a tocante história de esperança e determinação de um pai e seu filho já pode considerar-se qualificado para encarar Sete Vidas (2008), que foi produzido pela mesma equipe e ainda tem o ator americano como protagonista e o italiano Gabriele Muccino na direção. A parceria entre o ator e o diretor é tão intensa e lírica que o cinema de ambos juntos se torna mais belo à medida que nos envolvemos na forma madura como Will atua e na forma harmônica como Gabriele orquestra esta película sem cair no melodrama. Sete Vidas é uma história de redenção extremamente comovente, tão poderosa em arrancar lágrimas que será impossível o filme passar desapercebido pela sua sensibilidade, a não ser que o seu coração seja de pedra ou já esteja endurecido precisando perdoar e amar os outros e a si mesmo. Confesso-lhes que Sete Vidas é um filme tão comovente que eu chorei bastante passado o suspense inicial. Sensibilizei-me demais com o ato de coragem do protagonista interpretado por Will Smith (e ambiguamente também com seu ato de covardia), além de ter sido tocada pela poesia de seu sofrimento que se encontra com várias formas de amar. Não pretendo contar-lhes o desenvolvimento do filme porque é uma película para ser revelada até sua catarse, até seu efeito devastadoramente emotivo, por isso estas minhas linhas são muito mais um breve desabafo reflexivo de quem pretende guardar este filme para sempre na alma e no coração. Sete Vidas para uma vida que é como a do poeta, infinita enquanto dure.





Sete Vidas relata o drama pessoal de Ben (Will Smith) que decide cumprir uma missão após passar por um terrível trauma: ele decide ajudar sete vidas. Para isso, ele precisa ter certeza que estas pessoas são boas e merecem ser ajudadas, entre elas o cego Ezra (Woody Harrelson) e a jovem cardíaca Emily Posa (Rosario Dawson, em ótima performance). Ben é um funcionário da Receita Federal, pelo menos, esta é a identidade que ele usa para abordar estas pessoas e dar-lhes um tempo para acertar as contas com o Leão. Mas seus propósitos com estas pessoas estão acima de qualquer pendência fiscal, Ben precisa salvá-las então há um aspecto messiânico neste protagonista que combina bem com os Messias que ajudam a humanidade, no entanto, o formidável e oculto aspecto deste protagonista é que é ele que precisa ser ajudado ainda que a história não enfoque isso. Ao conhecer Emily, cheia de vida, fica evidente o quanto Ben é vulnerável e merece ser feliz.





Acima de tudo, Sete Vidas é um filme sensivelmente bem dirigido que transita entre a tragédia, o suspense, o romance e o drama sem perder o fio condutor que é preparar o espectador para o intenso clímax da redenção, mesmo que este clímax demore a chegar. O enredo de Sete Vidas tem um tom de suspense tão perfeitamente entrelaçado no genial roteiro de Grant Nieporte que somos envolvidos por este homem que tem uma missão muito especial, a de ajudar sete estranhas vidas a mudarem suas vidas. Há claramente o postergar máximo do auge emocional do espectador, por isso ficamos curiosos até chegar a fase mais final do filme. Por que Ben as está ajudando? Por que ele quer dar vida a estranhos se tudo em volta de si é tão escuro, tem cheiro de morte e de abandono de si mesmo? A princípio, a razão pela qual seus atos o levam a uma missão determinada é tão pessoal e um fantasma tão difícil de lidar que, mais adiante, ficamos boquiabertos com tamanha coragem de Ben em tomar a decisão que tomou. Por que fazer isso a si mesmo? Por que a necessidade de redenção? Por que o desejo de dar vida aos outros quando tudo é morte dentro dele? De fato, a beleza deste trabalho é como o roteiro é capaz de surpreender-nos com o revelar de um trágico segredo e como dói pensar na escolha do protagonista, como dói pensar que a vida é feita de escolhas e que é necessário encontrar a paz, mesmo que a escolha de paz seja uma guerra letal dentro de nós. Em um dado momento do filme, pesou no meu ser o quanto optar pela redenção é uma decisão heróica e também potencialmente impulsiva e como é difícil ser um herói trágico que faz o bem com um fim nada heróico.





Sete Vidas
é mais do que uma história de redenção, é uma história de amor. E redenção e amor perante o sofrimento próprio e o alheio é como ter mais do que uma vida, é como ser humano em dobro mesmo que a morte e a vida estejam lado a lado.


Avaliação MaDame Lumière


Título original: Seven Pounds
Origem: EUA
Gênero: Drama, Romance
Duração: 118 min
Diretor(a): Gabriele Muccino
Roteirista(s): Grant Nieporte
Elenco: Will Smith , Rosario Dawson, Woody Harrelson, Michael Ealy, Barry Pepper, Elpidia Carrillo, Robinne Lee, Joe Nunez, Bill Smitrovich, Tim Kelleher, Gina Hecht, Andy Milder, Judyann Elder, Sarah Jane Morris, Madison Pettis

7 comentários:

  1. Bem, eu devo estar com o coração de pedra madame. rsrs. Pois eu achei esse filme fraquíssimo. Um dos piores que assisti em 2008. Na minha avaliação o filme não é sensível, é pretensioso ao extremo, e não consegue evitar o melodrama, algo que não incomodava em A procura da felicidade, mas que irrita nesse filme. Na minha opinião, isso ocorre em parte devido ao roteiro presunçoso e em parte devido a incapacidade de Muccino de exceder -se a ele (ao roteiro).
    Na minha opinião um filme muito ruim, um tanto depressivo e mal realizado. A idéia é boa, mas a forma como a "surpresa final" se apresenta, a estraga.

    Bjs

    ResponderExcluir
  2. Ui! Seu coração empedrou e gelou demais agora rs!
    Bem, Reinaldo, discordamos muito então, porque eu acho que existem filmes piores e que merecem muito mais as palavras que falou,filmes ruins demais, sim existem e não acho Sete Vidas tão desqualificado assim por conta da idéia e, principalmente, por conta de um roteiro que não dá as respostas imediatamente, mas pelo que já nos conhecemos, sei que quando você não gosta de um filme você detona mesmo rs.

    Analisando o lado racional do filme, penso que, embora o final possa soar impulsivo, trágico e melodramático demais, o filme traz à tona a questão da culpa que só é aliviada através de uma autoflagelação, então eu penso muito no valor do filme baseado nas reflexões que ele traz inclusive se eu tivesse na mesma situação de Ben. Faria o bem? Sim. Feriria a mim mesmo? Não.

    O bom da reflexão é que a redenção não é para quem está em aflição (as sete vidas ajudadas) mas a redenção é para o próprio Ben. Embora não concorde com a escolha dele e acho que o suicídio com um apelo "heróico"não tenha um valor nobre e muito menos aliviador, o filme não é toda esta porcaria, na minha humilde e "cálida" opinião.

    Bjs!

    ResponderExcluir
  3. Entendo o apelo do drama do personagem de Will smith e penso que somente este avaliza a opinião da grande maioria dos admiradores do filme. Minha intenção não foi detonar o filme. Embora, na qualidade de espectador possa fazer isso e, conforme nosso debate deflagrado pelo filme O lobisomem patenteou, nesse espaço eu me sinto entusiasmado a fazê-lo. Contudo, o filme tem sérios problemas estruturais como cinema. Entendo que o foco de sua critica foi outro e, talvez por isso, nossas reações ao filme tenham sido tão díspares. Mas devo ressaltar que o filme, pelas mesmas razões que eu apontei no primeiro comentário, desagradou grande parte da critica tb. Inclusive foi o primeiro flop da carreira de Will Smith. O primeiro filme protagonizado pelo ator desde Independency day (1996) a não cruzar a barreira dos U$ 100 milhões nos EUA. Quando público e crítica se unem na rejeição de uma fita de Will Smith, eles tendem a estar corretos. Até pq, mesmo nesse filme, Will Smith é sempre ótimo de se ver.

    Bjs madame

    ResponderExcluir
  4. Realmente os nossos pontos de vista são díspares porque você está vendo mais a parte técnica enquanto cinema e eu abri espaço a reflexão sobre alguns sentimentos que permeiam a fita e que deixam a parte técnica em segundo plano, por isso vamos continuar em desacordo e fico feliz pelo entusiasmo do embate , é exatamente isso que enriquece a discussão.

    Eu realmente não me importo com os resultados financeiros de crítica e audiência porque o bem da verdade já está provado que há longas-metragem de exponencial sucesso financeiro e nem por isso são bons filmes, ou seja, nem tudo que é convertido em cifras financeiras tem valor na experiência cinéfila de cada um, ainda reforço que o drama de Will Smith é valioso porque emblema a culpa por um ato fatal e quem nem ele poderia mudar. Nunca sabemos se quando acordamos diariamente, seremos réus ao final do dia.Entende?

    Talvez um pouco do meu incômodo pelo seu comentário é que eu esperava que, embora tenhamos opiniões díspares sob aspectos diferentes, você pudesse levantar um pouco a moral do filme enquanto cinéfilo que se atenta a questões humanas do cinema. No papel de sua amiga de cinema, eu não poderia deixar de falar: Aqueça seu coração, mon ami e dê um crédito ao humano de Sete Vidas que é superior a qualquer problema estrutural do cinema.

    Bjs

    ResponderExcluir
  5. E Reinaldo, pelo menos, em todas minhas pesquisas e/ou interfaces sobre este filme, a recepção de Sete Vidas é bem vinda e está longe de colocá-lo abaixo da média 5. Não é uma obra de arte, mas está longe de ser muito ruim. Eu acho que ainda é um filme polarizante porque ele exagera na parte final em um apelo fatalizante e suicida, nisso tenho que concordar, mas enfim, o que seria do amarelo se todos gostassem do vermelho. Só não gosto de pensar que a crítica e a audiência têm que estar sempre certos porque as pesquisas indicam isso. Isso me é pretensioso demais e não funciona quando o assunto é emoção e arte.

    bjs!

    ResponderExcluir
  6. Madame, teu review me emocionou mais do que o filme em si! Acredito que é pq vc escreve bem e sabe transmitir os sentimentos... hehehe

    Gostei do filme, mas não tanto. A Rosario Dawson foi o grande destaque em termos de atuação.

    Preferi o À Procura da Felicidade.

    Bjos!

    ResponderExcluir
  7. Olá Madame!
    quanto tempo não passo por aqui. Tudo certo?

    Ainda não tive chances de assistir "Sete Vidas". Ok, serei sincero... tive chances, mas tantas pessoas falaram tão mal desse filme, que preferi adiar minha visita a ele rs. Porém, sua crítica até me animou e talvez dê uma chance ao filme até mesmo antes do esperado. E gostei de "À Procura da Felicidade", acho um filme muito satisfatório.

    abraço!

    ResponderExcluir

Caro (a) leitor(a)

Obrigada pelo seu interesse em comentar no MaDame Lumiére. Sua participação é muito importante para trocarmos percepções e opiniões sobre a fascinante Sétima Arte.

Madame Lumière é um blog engajado e democrático, logo você é livre para elogiar ou criticar o filme assim como qualquer comentário dentro do assunto cinema e audiovisual.

No entanto, não serão aprovadas mensagens que insultem, difamem ou desrespeitem a autora do blog assim como qualquer ataque pessoal ofensivo a leitores do blog e suas opiniões. Também não serão aceitos comentários com propósitos propagandistas, obscenos, persecutórios, racistas, etc.

Caso não concorde com a opinião cinéfila de alguém, saiba como respondê-la educadamente, de forma a todos aprenderem juntos com esta magnífica arte. Opiniões distintas são bem vindas e enriquecem a discussão.

Saudações cinéfilas,

Cristiane Costa, MaDame Lumière