“Eu treinei muito sozinho, pedalando em uma tempestade de neve, ficando no estado físico e mental de poder manter o foco nessa aventura”
(Baltasar Kormákur, diretor de "Evereste")
Baseado em fatos verídicos sobre a tragédia no monte Evereste que deixou 12 mortos em 1996, o novo longa de Baltasar Kormákur retrata a história de dois experientes alpinistas, Rob Hall (Jason Clarke) e Scott Fisher (Jake Gyllenhall) que lideravam diferentes expedições durante esta escalada no Nepal. Em meio à uma turbulenta tempestade, a grandiosa e selvagem natureza e variadas situações de risco, algumas baixas foram inevitáveis, resultando em um comovente filme que reúne aventura, desastre natural e a luta pela sobrevivência.
Os primeiros planos de Evereste com um extraordinário visual já antecipam o cuidado estético do cineasta e do diretor de fotografia Salvatore Totino ("de Código da Vinci" e "Frost/Nixon") em mostrar uma natureza crua, deslumbrante e incontrolável. Assim é Evereste, o ponto mais alto do mundo, um primor imagético que enche os olhos de quem gosta de destinos inóspitos, viagens de aventura e alpinismo. O roteiro apresenta um elenco grande e variado, entre eles Sam Worthington, Keira Knightley, Emily Watson, Michael Kelly, Robin Wright etc.
O inicial sopro de vida da história é esta paixão que leva alpinistas a escalar o Evereste. Quem gosta de viajar para lugares próximos à natureza, evidentemente compreenderá quão especial é a força de vontade que move estes personagens. São aventureiros, especialistas ou simplesmente têm o forte desejo de desafiar a si mesmos, ainda que tal escolha represente arriscar a própria vida, como um pai para inspirar os filhos (John Hawkes), uma mulher em busca de superação e conquistas (Naoko Mori), um alpinista líder a guiar e ajudar os outros na realização das escaladas (Jason Clarke), um cliente disposto a pagar muito bem para se aventurar (Josh Brolin). Todos eles e tantos outros companheiros na aventura foram "picados" por esta irresistível vontade de superar qualquer adversidade e chegar ao topo do mundo.
Embora o roteiro não tenha o foco de explorar a psicologia e o ímpeto pela liberdade como ocorre em "Na Natureza Selvagem (Into the Wild)", Evereste tem muito a ver com escolhas pessoais, mas também não se esquece de abordar a dimensão coletiva da prática de alpinismo, o trabalho em equipe, a camaradagem, a empatia em compreender o sonho do outro, a compreensão da perda humana mesmo que seja dolorosa. Escolher partir para uma aventura em regiões hostis é saber que o caminho pode não ter volta.
Neste aspecto, a atuação de Jason Clarke tem carisma, humildade e competência. Rob Hall parece ter sido um homem que, como líder de expedição, era consistente, engajado e responsável e sabia dos riscos de seu trabalho, porém, acabou sofrendo as consequências dele ao flexibilizar a jornada. Jake Gyllenhaal como Scott Fisher apresenta um outro estilo: competitivo, sarcástico, brincalhão, beberrão. Sua participação é pequena, mas dá notoriedade a um outro tipo de explorador: o maluco beleza engraçado e orgulhoso que não se curva perante alguns riscos, mesmo sabendo que não dará conta em determinado ponto da escalada. Josh Brolin demonstra outra faceta dos escaladores: a necessidade de sair da rotina e da depressão e alcançar um objetivo.
Com roteiro que leva a assinatura de Simon Beaufoy ("127 horas" e "Quem quer ser um milionário?") e William Nicholson ("Gladiador" e "Invencível"), a combinação de roteiristas é interessante pois, o primeiro traz a experiência com roteiros adaptados e biográficos, o segundo, com épicos e temáticas de combate e superação física. O resultado é uma história que carrega um forte componente épico no plano espacial diluído em uma tragédia biográfica e coletiva. No geral, há poucos momentos de forte intensidade dramática guardados para o público considerando que as emoções aqui não são apelativas, assim sendo, o que vale observar é a magnitude e realismo dos efeitos visuais e como age o personagem Rob Hall na liderança do grupo. Os grandes personagens da história são a natureza (Evereste) e Jason Clarke.
O longa também não se apressa no ritmo e mantém o suspense. Entretanto, de tanto controlar a narrativa para a vindoura grande tragédia do último ato, o clímax não é arrebatador. Basta perceber como são determinadas mortes, filmadas com bastante objetividade, sem muita expressividade emocional. Kormákur toma decisões racionais e não enfeita o drama com muitas lamentações e lágrimas; por exemplo, se o alpinista tiver que cair rapidamente e morrer como se evaporasse no ar, é assim que será feito. Com isso, existe claramente uma escolha do diretor em não transformar Evereste em uma narrativa demasiado sentimentalista; como consequência, as principais cenas de luta pela sobrevivência não manipulam emoções e podem soar mais contidas. Esse tipo de decisão do diretor pode ser baseada em testemunhos reais, e também, influenciada por ele mesmo. Salvo a ótima atuação coadjuvante de Emily Watson, os demais personagens pouco demonstram profundos sofrimentos, é o caso de Sam Worthington que pouco participa, entra quase mudo e saí quase calado.
De certa forma, o clímax morno de Evereste é intrigante porque traz à tona uma realidade no meio que pratica o alpinismo: Quem escala leva a coragem aonde for e sabe dos perigos! Nesta época, estes alpinistas já eram experientes e sabiam tão bem dos riscos de escalar o Evereste que, se a iminente morte os visitasse, não os surpreenderia, eles tinham que enfrentá-la. Estavam conscientes do perigo. Isso explica o porquê da cena entre Jason Clarke e Keira Knightley ter sido filmada daquela maneira, sem recorrer a uma dramaturgia sentimentalista. Ainda que a morte seja uma das poucas certezas que existem, ninguém está preparado para ela. Ainda assim, alpinistas sabem que podem perder os dedos da mão, morrer com deslizamentos, ficarem sem oxigênio e alimentação, sem comunicação e nem resgate. Certamente, este clímax controlado, sem novelescas emoções, dá a entender que Kormákur sabe que alpinista nenhum quer morrer mas, se a morte chegar, ela será filmada como algo natural. Lamentavelmente, quando o Evereste enterra os seus mortos é um fim triste para quem faleceu fazendo exatamente o que gostava.
Os primeiros planos de Evereste com um extraordinário visual já antecipam o cuidado estético do cineasta e do diretor de fotografia Salvatore Totino ("de Código da Vinci" e "Frost/Nixon") em mostrar uma natureza crua, deslumbrante e incontrolável. Assim é Evereste, o ponto mais alto do mundo, um primor imagético que enche os olhos de quem gosta de destinos inóspitos, viagens de aventura e alpinismo. O roteiro apresenta um elenco grande e variado, entre eles Sam Worthington, Keira Knightley, Emily Watson, Michael Kelly, Robin Wright etc.
O inicial sopro de vida da história é esta paixão que leva alpinistas a escalar o Evereste. Quem gosta de viajar para lugares próximos à natureza, evidentemente compreenderá quão especial é a força de vontade que move estes personagens. São aventureiros, especialistas ou simplesmente têm o forte desejo de desafiar a si mesmos, ainda que tal escolha represente arriscar a própria vida, como um pai para inspirar os filhos (John Hawkes), uma mulher em busca de superação e conquistas (Naoko Mori), um alpinista líder a guiar e ajudar os outros na realização das escaladas (Jason Clarke), um cliente disposto a pagar muito bem para se aventurar (Josh Brolin). Todos eles e tantos outros companheiros na aventura foram "picados" por esta irresistível vontade de superar qualquer adversidade e chegar ao topo do mundo.
Embora o roteiro não tenha o foco de explorar a psicologia e o ímpeto pela liberdade como ocorre em "Na Natureza Selvagem (Into the Wild)", Evereste tem muito a ver com escolhas pessoais, mas também não se esquece de abordar a dimensão coletiva da prática de alpinismo, o trabalho em equipe, a camaradagem, a empatia em compreender o sonho do outro, a compreensão da perda humana mesmo que seja dolorosa. Escolher partir para uma aventura em regiões hostis é saber que o caminho pode não ter volta.
Neste aspecto, a atuação de Jason Clarke tem carisma, humildade e competência. Rob Hall parece ter sido um homem que, como líder de expedição, era consistente, engajado e responsável e sabia dos riscos de seu trabalho, porém, acabou sofrendo as consequências dele ao flexibilizar a jornada. Jake Gyllenhaal como Scott Fisher apresenta um outro estilo: competitivo, sarcástico, brincalhão, beberrão. Sua participação é pequena, mas dá notoriedade a um outro tipo de explorador: o maluco beleza engraçado e orgulhoso que não se curva perante alguns riscos, mesmo sabendo que não dará conta em determinado ponto da escalada. Josh Brolin demonstra outra faceta dos escaladores: a necessidade de sair da rotina e da depressão e alcançar um objetivo.
Com roteiro que leva a assinatura de Simon Beaufoy ("127 horas" e "Quem quer ser um milionário?") e William Nicholson ("Gladiador" e "Invencível"), a combinação de roteiristas é interessante pois, o primeiro traz a experiência com roteiros adaptados e biográficos, o segundo, com épicos e temáticas de combate e superação física. O resultado é uma história que carrega um forte componente épico no plano espacial diluído em uma tragédia biográfica e coletiva. No geral, há poucos momentos de forte intensidade dramática guardados para o público considerando que as emoções aqui não são apelativas, assim sendo, o que vale observar é a magnitude e realismo dos efeitos visuais e como age o personagem Rob Hall na liderança do grupo. Os grandes personagens da história são a natureza (Evereste) e Jason Clarke.
O longa também não se apressa no ritmo e mantém o suspense. Entretanto, de tanto controlar a narrativa para a vindoura grande tragédia do último ato, o clímax não é arrebatador. Basta perceber como são determinadas mortes, filmadas com bastante objetividade, sem muita expressividade emocional. Kormákur toma decisões racionais e não enfeita o drama com muitas lamentações e lágrimas; por exemplo, se o alpinista tiver que cair rapidamente e morrer como se evaporasse no ar, é assim que será feito. Com isso, existe claramente uma escolha do diretor em não transformar Evereste em uma narrativa demasiado sentimentalista; como consequência, as principais cenas de luta pela sobrevivência não manipulam emoções e podem soar mais contidas. Esse tipo de decisão do diretor pode ser baseada em testemunhos reais, e também, influenciada por ele mesmo. Salvo a ótima atuação coadjuvante de Emily Watson, os demais personagens pouco demonstram profundos sofrimentos, é o caso de Sam Worthington que pouco participa, entra quase mudo e saí quase calado.
De certa forma, o clímax morno de Evereste é intrigante porque traz à tona uma realidade no meio que pratica o alpinismo: Quem escala leva a coragem aonde for e sabe dos perigos! Nesta época, estes alpinistas já eram experientes e sabiam tão bem dos riscos de escalar o Evereste que, se a iminente morte os visitasse, não os surpreenderia, eles tinham que enfrentá-la. Estavam conscientes do perigo. Isso explica o porquê da cena entre Jason Clarke e Keira Knightley ter sido filmada daquela maneira, sem recorrer a uma dramaturgia sentimentalista. Ainda que a morte seja uma das poucas certezas que existem, ninguém está preparado para ela. Ainda assim, alpinistas sabem que podem perder os dedos da mão, morrer com deslizamentos, ficarem sem oxigênio e alimentação, sem comunicação e nem resgate. Certamente, este clímax controlado, sem novelescas emoções, dá a entender que Kormákur sabe que alpinista nenhum quer morrer mas, se a morte chegar, ela será filmada como algo natural. Lamentavelmente, quando o Evereste enterra os seus mortos é um fim triste para quem faleceu fazendo exatamente o que gostava.
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