MaDame te mostra a Mostra internacional de Cinema
Uma seleção especial de filmes na semana mais cinéfila de São Paulo
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Por Cristiane Costa
Brillante Mendoza é um dos principais realizadores do Cinema das Filipinas ao lado de cineastas como Lav Diaz, John Torres, Raya Martin e Khavn de la Cruz. Vencedor como melhor direção no Festival de Cannes em 2009 por Kinatay e conhecido por filmes como Serbis e Lola, Mendoza desponta no cenário cinematográfico mundial com realizações independentes que abordam questões individualistas, sociais, econômicas e políticas de personagens Filipinos ou do próprio país. Em Armadilha (Taklub), seu mais recente longa, ele dirige uma história baseada em fatos reais relacionada a um desastre natural, o supertufão Haiyan, o constante clima de insegurança após a catástrofe e as terríveis consequências para as famílias da cidade de Tacloban nas Filipinas. O longa foi um dos destaques no Festival de Cannes 2015 e recebeu a menção especial - Prêmio do Júri Ecumênico.
Viver em uma região ameaçada por tufões é definitivamente uma armadilha. A qualquer momento, pessoas podem ser devoradas pela fúria dos ciclones e não há muita escapatória. Mortes acontecem. A fé é necessária . Assim, uma cidade como esta torna-se uma armadilha bem maior quando a população luta para viver a duras condições econômicas, não pode sair da região e tem que conviver com mortes, perdas e traumas. É o que acontece nesta história: estamos diante de uma situação real e dilacerante para as comunidades locais. Mendoza conduz sua habilidosa câmera em uma ficção dramática, dolorosamente sensível, com um registro documental bastante realista que enfoca 3 personagens, Bebeth, Larry e Erwin e como tentam sobreviver nesta cidade hostilizada pela ira da natureza.
A narrativa é contada após o Tufão Haiyan, considerado um dos mais violentos ciclones e que ocorreu na região em 2013. O propósito do argumento não foi criar um filme que registra o momento exato da destruição. O objetivo é maior, mais humano e baseado em fé, superação e sobrevivência. O longa registra o cotidiano através de sutilezas. O que se vê é a memória que permanece, o temor que persegue, a resistência que dá esperança, a longanimidade que sustenta a vida. Com essa abordagem mais humanizada, cabe ao elenco atuar com simplicidade e um comovente trabalho de veracidade. As emoções são delicadas, discretas, contidas, porém a dor é grande.
É o tipo de filme que , a todo o momento, traz à mente e diante dos olhos como existem pessoas pobres no mundo e como elas vivem em condições precárias, muitas vezes agravadas pelas características naturais dos locais onde moram. Mendoza faz uma boa exploração da cidade, enfocando apenas o que é modesto e bastante decadente. Desde a simplicidade das casas e da alimentação, passando pelas ajudas coletivas para recuperação da cidade até as constantes chuvas e ventanias. O clima é de incertezas e pobreza. Uma pobreza que o tufão intensificou.
No ótimo elenco que tem Julio Diaz e Aaron Rivera, destaque para Bebeth (Nora Aunor), uma incrível atriz Filipina que entrega uma atuação madura, verdadeira. Seu personagem é de uma mãe solteira que perdeu dois filhos na tragédia e precisa continuar firme e forte para criar a outra filha. A direção de atores favorece bastante a participação da atriz que eleva a qualidade dramatúrgica e preenche os gaps de roteiro em pontos da narrativa que poderiam ter explorado melhor o drama dos personagens e a relação entre eles. Através de Aunor, o longa consegue convencer porque existe força e generosidade em seu comportamento. Por ser arrimo de uma família e uma mãe que não se deixou vencer pela morte dos filhos, ela é essencial para demonstrar a resiliência.
O desenvolvimento dos papéis masculinos deixou a desejar porque são personagens mais vulneráveis à manutenção da sanidade e autocontrole e poderiam ter tido um melhor texto. O roteiro peca exatamente em não explorar estes relacionamentos, deixa a narrativa mais solta e dependente das atuações individuais de cada um. No caso de Diaz, ele é um homem trabalhador e dedicado à fé, porém com pouco vigor, calejado. Acaba ficando à margem. Rivera representa o jovem esforçado, que valoriza a família e sem boas opções na vida, mas vulnerável à irritabilidade e impulsos violentos, assim, sua participação é pequena e dá um tom triste e precário à juventude da região. Diferente dos demais, Nora Aunor é o alicerce humano da história e, por causa dela, existe uma força moral para a reconstrução da cidade.
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