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Uma seleção especial de filmes na semana mais cinéfila de São Paulo
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Previsão de estreia nos cinemas Brasileiros: 27/11/2015
Por Cristiane Costa
Quando uma pessoa que amamos muito falece, lidar com a perda não é apenas algo transitório. Continuamente surgem lembranças, apego e muitas saudades. Também há um sentimento de escapismo, como se quiséssemos encontrar a pessoa novamente não importa como. Alguns enfrentam melhor a partida de entes queridos, outros nunca superam. O novo filme de Kiyoshi Kurosawa é uma ficção romântica que transita entre as fronteiras da vida e da morte, da realidade e da imaginação, do terreno e do espiritual . Através de uma jovem e bela viúva, Mizuki (Eri Fukatsu), que perde seu marido Yusuke (Tadanobu Asano), vítima de um afogamento há três anos, somos convidados à uma jornada cinematográfica sobre o amor e a solidão de quem fica aqui no plano terreno e não consegue esquecer quem morreu.
Como o bom e sensível Cinema Japonês, Kurosawa fala sobre essa relação sutil e afetuosa que une duas pessoas. Assim, nesse pequeno núcleo familiar, o roteiro é despretensioso e tem um apelo mais romântico do que dramático. Mizuki vive sozinha e, quando surge o marido, ela age com naturalidade. É como uma fuga da realidade. Ela o quer ali presente por mais irreal que isso pareça. Recuperando a tradição dos fantasmas do Cinema Asiático, Yusuke é como um deles. A diferença é que a narrativa não se fundamenta em um visual fantasmagórico, salvo um ou outro plano que resgata uma atmosfera enfumaçada em meio à natureza em uma região com mata e cachoeira, e que faz associação metalinguística a tantas outras cenas que já aconteceram em filmes japoneses no qual há encontro entre vivos e mortos. Yusuke é um homem comum, de poucas palavras. Mizuki tem a fragilidade de uma mulher que não quer deixar alguém ir embora. Nesse aspecto, o longa é introspectivo, letárgico e triste.
Para o outro lado não tem um argumento novo pois fronteiras entre vida e morte são comuns no Cinema. Ao se apoiar em um romance, ele não se desvencilha de um ligeiro toque água com açúcar que não evolui para um drama melhor roteirizado. Dessa forma, inicialmente a história é confusa e surgem perguntas como "quem morreu? Ele ou ela?", "o que é realidade e o que é sonho?". Esses gaps técnicos não chegam a prejudicar o conjunto da obra por conta das qualidades visuais da direção de Kurosawa, que apresenta belíssimos enquadramentos com os dois personagens e cenas com planos mais abertos e travelings que despertam uma sensibilidade maior na contemplação da fotografia.
A grande virtude do Cinema Japonês é a sua capacidade de ser delicado e generoso com nossas emoções, além de seu potencial de desenvolver na audiência um sentimento de empatia. Empatia é a palavra aqui. Ao se colocar na posição de Mizuki e lembrar das pessoas amadas que morreram, está aí uma possibilidade de reviver as perdas e perceber como é difícil guardar tantas memórias saudosistas na mente e no coração, como é desafiador deixar as pessoas que amamos partirem. Em um dos momentos mais belos do longa, o que permanece é aquele fluxo de pensamento que não pode ser impedido, mesmo após anos de ausências: Quando encontraremos as pessoas que faleceram e que tanto amamos?
Ficha técnica do filme ImDB Para o outro lado
Distribuição: Califórnia filmes
Que lindo os seu blog, está de parabéns.
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