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Mostra 2015: Um homem decente (Nichts passiert/ A Decent Man, 2015), de Micha Lewinsky



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Uma seleção especial de filmes na semana mais cinéfila de São Paulo
Acompanhe!







Por Cristiane Costa


Por uma questão de caráter, fuga, reputação, aparências ou simplesmente escolha, há pessoas que se esforçam ao máximo para viver com mentiras, omissões ou meias verdades e não mostrar para os outros quem elas realmente são ou como abertamente deveriam agir diante de problemas. Assim é Thomas Engel (Devid Striesow), casado, pai de uma filha adolescente e com um histórico de alcoolismo  e acidente de carro. Por trás de sua cara de bom e ordinário homem, está uma pessoa que faz de tudo para manter a normalidade do cotidiano e o controle das suas próprias ações, nem que para isso tenha que agir de uma forma inesperada, insana e moralmente perturbadora. 






A história enfoca esta família que passa um final de semana nos Alpes Suiços. Para essa viagem, Thomas leva Sarah (Annina Walt), a filha de seu chefe, o que lhe coloca em uma situação de zelar pela segurança da garota. Ao chegar na cidade, Sarah quer sair e se divertir. Algo desagradável ocorre. Thomas vivencia um forte dilema que o leva a um comportamento inseguro, tenso e omisso.






Com Um homem decente, o diretor e roteirista alemão Micha Lewinsky realiza um filme com uma interessante mensagem por trás de sua modesta história. O roteiro é simples e, aparentemente, sem grandes ambições narrativas, entretanto, o "crème de la crème" do longa é  a forma como ele transforma um final de semana entendiante nos Alpes Suiços em uma situação constrangedora e louca e adiciona um elemento criminal com um toque de humor. Assim, a melhor forma de compreender a proposta do longa é através do seu título em alemão "Nichts passiert", que quer dizer, nada aconteceu. E o que seria isso? É a forma como Thomas encara o mundo. Para ele, diante de um acontecimento doloroso, nada aconteceu e ele faz a famosa cara de paisagem. Mesmo sob tensão e sensibilizado, suas escolhas o levam a situações embaraçosas e transformam questões delicadas em uma gigante bola de neve. 


Todos carregam seus segredinhos, o que é natural. Faz parte da natureza humana ter segredos, ocultar evidências, empurrar a sujeira para debaixo do tapete. Porém, nesta história, o agravante é encobrir um suposto crime e levar consigo um segredo que poderá torturá-lo pelo resto da vida. Neste aspecto, o filme tem o estilo do cinema de origem germânica ao lidar com dramas sérios e incluir uma lógica levemente absurda e cômica, decisão que é muito mais eficiente para criticar a hipocrisia da sociedade.  No mais, Lewinsky é um cineasta que gosta de trabalhar com os aspectos da mentira humana conduzindo o público a um cenário cotidiano e de pessoas comuns que, por trás de suas máscaras sociais, têm muito mais a nos dizer.






Apesar de bem intencionado, a estrutura narrativa do longa deixa um pouco a desejar no que diz respeito ao desenvolvimento dos personagens coadjuvantes e da trama. Apesar disso, fica claro que a responsabilidade de levar o drama com qualidade cabe muito mais ao competente Devid Striesow (de "Yella" e "Os falsários"), experiente ator alemão que tem uma virtude: sua atuação mimetiza bem sujeitos que podem ser bons ou maus e coloca o benefício da dúvida com relação à moral. Thomas é um mocinho ou um vilão? Ou apenas um pobre infeliz que precisa continuar a terapia e lidar melhor consigo mesmo ? Além disso, Striesow leva jeito para dar uma nuance de humor negro aos personagens. Isso explica porque Thomas se enrola tanto em situações que envolvem crimes e, mesmo assim, ele é suportável, atrapalhado e desperta um sentimento de compaixão. É o típico homem decente que pode ser letal aos outros e a si mesmo a qualquer momento e talvez não tenha consciência do mal que provoca.  Afinal, de perto, os normais podem ser mais loucos do que imaginamos.




Ficha técnica do filme ImDB Nichts Passiert

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