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Não é de hoje que o excelente realizador Guillermo del Toro produz ótimos filmes que mesclam o terror moderno e o suspense de tirar o fô...

Os Olhos de Julia (Los Ojos de Julia) - 2010

Não é de hoje que o excelente realizador Guillermo del Toro produz ótimos filmes que mesclam o terror moderno e o suspense de tirar o fôlego a uma sobrenatural atmosfera e um roteiro intrigante. Dentre esses, destacam-se A Espinha do Diabo, O Labirinto de Fauno e O Orfanato. Todos esses longas conduzem o público a um misterioso ambiente que causa um estranhamento nítido, ao mesmo tempo palpável e também como que pertencente a outro mundo. O horror não é espalhatafoso, óbvio. Ele é gradualmente adicionado à tensa carga dramática através de vários recursos: uma cenografia silenciosa e solitária, uma fotografia iluminada com um insight de obscuridade, diferenciados ângulos de câmera que suspendem a ação e atentam-se a enriquecedores pormenores, um talentoso elenco que mergulha nos esquisitos personagens e o abuso de assustadora trilha sonora. Os olhos de Julia, dirigido por Guillem Morales (de El Habitante Encierto) é um ótimo achado cinematográfico, produzido por El Toro e estrelado pela formidável Belén Rueda (de O Orfanato e Mar Adentro) e pelo ótimo ator Lluis Homar (de Abraços Partidos e Má Educação). A atriz, que é a protagonista, se entrega ao papel de uma forma brilhante, com a dubiedade de ser corajosa e estar vulnerável como uma mulher que sofre perdas familiares e está prestes a perder a visão por conta de uma doença degenerativa.

Julia perde a irmã Sara, que tem a mesma doença visual que ela. A irmã é encontrada morta e tudo demonstra que ela se suicidou, porém Sara não acredita em tal versão e começa a investigar quem poderia ter assassinado sua irmã. Enquanto isso, ela lida com a paulatina cegueira que domina sua visão. Surgem personagens misteriosos e mortes em seu caminho e a busca da claridade sobre a morte de Sara é uma esperança e um desafio, assim como uma forma de ver o mundo de outra forma, sentí-lo sem medo, superar-se. Julia tem que correr contra o tempo, lutar para não ser assassinada, tudo isso custa-lhe coragem e obstinação ao mergulhar nas sombras de um mundo desconhecido. O longa tem todas as virtudes para deixar o público tensamente nervoso e amedrontado até o final da projeção. A narrativa já nos apresenta uma atmosfera de cegueira, de escuridão, de mistério através da protagonista e de seu drama. Esse mistério move a ação de uma mulher que não enxerga direito, que sofre das limitações e das incertezas sobre sua visão, que é perseguida por um estranho homem, que se vê sozinha e vulnerável. Além disso, o público tem de tudo para ficar aterrorizado com os sustos provocados pelo longa. Ele é muito bem filmado, com uso contínuo de trilha sonora, que não inclue somente música mas sons de variados tipos que dão uma injeção de drama na audiência; além de ter lances de câmera bem marcantes e diferenciados como a opção de não mostrar os rostos de alguns personagens, os enquadramentos em objetos que emitem sons e ruídos, seja um telefone, uma chave, um abajur; os close-ups bem selecionados, como por exemplo, em uma das cenas com plano mais fechado que marcam os olhos de policiais, ocorrida em um momento fundamental para entender o propósito dramático e da função do olhar na sequência.

Na fotografia acima, um exemplo do excelente trabalho de câmera de Morales

Imagine que Guillem Morales é um realizador jovem e talentoso que nasceu para assustar a audiência, é praticamente um excelente cineasta sádico ao conduzir sua câmera filmando uma mulher cega com ataduras no rosto, que ouve passos na casa e está próxima ao inimigo, que tem pesadelos e vê sombras em seu caminho, que vive em uma casa que tem apagões, etc. No dia seguinte, um expectador que tenha se envolvido emocionalmente com o filme, ainda sentirá a tensão à flor dos nervos e dor por todo o corpo ou certamente ficará com medo de dormir com a luz apagada já que o próprio diretor escurece a tela, apaga a iluminação, cria sombras humanas. Muito do mérito da fita é a combinação da direção, do roteiro e da magnífica atuação de Belén Rueda. A atriz engrandece o valor da fita, cria uma empatia e relação muito forte com o público, que está com ela a todo momento, torce para que ela encontre o assassino, não perca a visão, não morra. Além de bela, Belén Rueda mergulha na personagem e traz a harmonia comportamental necessária à Julia: seu ímpeto de não desistir dessa jornada (uma motivação interna, que depende dela) e sua vulnerabilidade e dor de estar sozinha na jornada, perdendo a visão (uma factibilidade externa a qual ela não pode impedir). Com todas essas qualidades, Os Olhos de Julia é um excelente entretenimento dentro do gênero de suspense com toque de horror e é claramente uma produção com a marca de Del Toro, que demonstra que ainda é possível fazer filmes desse tipo, revigorados na direção com a beleza de conduzir uma câmera que se conecta intimamente com a tensão do público.

MaDame Lumière

Título Original: Los Ojos de Julia Gênero: Suspense, terror Roteiro: Guillem Morales, Oriol Paulo Direção: Guillem Morales Elenco: Belen Rueda, Lluis Homar, Pablo Derqui

3 comentários:

  1. Depois de uma recomendação tão positiva, fiquei interessado em conferir. A temática é bastante interessante.

    Abs.

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  2. Realmente instigante. Irei conferir.

    Beijos

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