Sou MaDame Lumière. Cinema é o meu Luxo.

Para alcançar uma realização pesssoal, é preciso jogar com a vida como em um jogo de xadrez. Arriscar-se em um tabuleiro humano no qual as p...

Festival Varilux de Cinema Francês 2011: Xeque-Mate (Joueuse) - 2009






Para alcançar uma realização pesssoal, é preciso jogar com a vida como em um jogo de xadrez. Arriscar-se em um tabuleiro humano no qual as peças se movem e nem sempre é possível estar na dianteira e ser a peça mais importante do xadrez. Requer vontade, concentração, estratégia e resiliência. Muitas vezes, é preciso vencer o medo, a baixa autoestima, o preconceito. É necessário vencer não só o adversário com o qual se joga, mas o pior adversário: o sentimento de que se é inferior do que o outro e de que nada mudará. Certamente quem tem talento e atitude, pode ganhar esse difícil jogo. Com realização de Caroline Bottaro e um duo magnífico no elenco, Sandrine Bonnaire e Kevin Kline, Xeque-Mate narra a história de transformação de uma mulher através do xadrez. Hèlène (Bonnaire) é um mulher modesta, de vida humilde e proletária, que trabalha como faxineira em um hotel em Corsica e realiza trabalhos como diarista na limpeza da casa do recluso Doutor Kröger (Kline). Casada com um homem bonito e rústico, Ange (Francis Renaud) e mãe de uma adolescente, Hèlène é uma mulher dedicada ao trabalho e à família e não tem uma vida regrada. Não se dedica a ela mesma. Na paisagem idílica da cidade ela segue uma rotina: Vai ao trabalho de bicicleta, cozinha e faxina, e nem mesmo o seu marido, que tem um trabalho braçal e um comportamento mais ignorante, não demonstra um afeto mais caloroso, um desejo sexual arrebatador, logo, a vida de Hèlène é entediada. Após ver um casal americano (Jennifer Beals e Dominic Gould) jogando xadrez no hotel e trocando carinhos, sorrisos e beijos, Hèlène fica fascinada pela imagem, se interessa pelo jogo e começa a aprender a jogá-lo. Mais adiante na narrativa, ela convence Kröger a jogar xadrez com ela e ensiná-la sobre essa Arte.














Xeque-Mate é um belo, otimista e inspirador filme sobre mudança pessoal. Pode ser considerado como um tipo de filme metáfora que funciona bem em qualquer situação nova que um indivíduo se dispõe a vivenciar e se superar. É sobre dar o xeque-mate da vitória após ingressar em um novo jogo da vida. Sua máxima beleza está em narrar uma história simples de uma mulher que dá o primeiro passo para aprender algo de que gosta e conquista novas possibilidades de ser reconhecida e feliz. A personagem Hèlène é construída de uma forma tão cuidadosa e nobre que ela mesma não tem aquela voracidade tão própria da ambição humana. Ela simplesmente deseja jogar xadrez, fazer algo de bom por ela mesma e, com isso, ela consegue mover Kröger, um homem mal-humorado e arisco a alcançar também uma mudança pessoal. Hèlène passa a sorrir mais e sinergiza a família com o simples ato de dedicação ao jogo: Consegue fazer com que a filha, uma garota que tem vergonha de ser pobre, passe a incentivá-la no xadrez e com que o rústico marido respeite a vontade dela de aprender tal jogo e aceite suas aulas com outro homem. Com a interpretação madura e fascinante de Sandrine Bonnaire, que se consagra mais uma vez como uma das melhores atrizes Francesas, e Kevin Kline em sua primeira interpretação em lingua Francesa, o longa metragem é agradabilíssimo na contemplação da direção, do elenco e da fotografia.











Há uma atmosfera bem idílica na qual a paisagem e a rotina de Hèlène colaboram para que conheçamos e acompanhamos seu cotidiano, assim como entendamos que ela está tomando um rumo que a libertará desse lugar-comum. Suas idas e vindas de trabalho, suas noites mal dormidas, suas faxinas no hotel e na casa de Kröger, suas partidas de jogo com o Doutor, seus momentos de silêncio e concentração, etc. Absolutamente tudo está lá com um propósito: o de mostrar quão interessante é a transformação (e libertação) de uma mulher pobre através de um jogo elitizado como o xadrez. O roteiro e a cenografia são construídos com uma coerência para evocar que Hèlène tem uma vida provinciana e que ela pode ganhar o mundo à medida que sua habilidade com o xadrez lhe proporcionar reconhecimentos em diferentes contextos, seja em sua casa, na do Doutor ou em um torneio, Essa dicotomia de colocar uma mulher singela que se valoriza a partir de um complexo jogo não fortalece os preconceitos, pelo contrário, é uma forma de reforçar que o talento não escolhe condição social e que todos têm condições de aprender algo, independente de vitórias ou derrotas, independente de rótulos estereotipados. Há algumas características no roteiro, as ditas simples e belas sacadas, que tornam o desenvolvimento da narrativa mais envolvente, como por exemplo: o chão do hotel parecido com um tabuleiro e Hèlene se movendo como uma peça, e as narrações em off de Kröger que trazem ensinamentos sobre como jogar xadrez com sabedoria e que são aplicáveis a outras vivências. O filme é bem dirigido com uma alternância dos planos abertos, de formidáveis paisagens, até os precisos closes em Bonnaire, uma atriz sólida e autoconfiante que flerta muito bem com a câmera. Mais um exemplar do Cinema Francês que ganha poder na Tela Grande através da força interpretativa de suas divinas atrizes.








Avaliação MaDame Lumière













Título Original : Joueuse





Diretor: Caroline Bottaro





Roteiro: Caroline Bottaro





Elenco: Sandrine Bonnaire, Kevin Kline

4 comentários:

  1. Super interessante o filme em si. Fiquei curioso para conferir a mudança de Hèlene por conta do xadrez. É sempre bom ver um filme com uma temática igual à esta, para dar um empurrãozinho em nós mesmos, rs

    Beijos, madame.

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  2. Infelizmente, fiquei muito desapontado com esse filme, achei bem ruim. Começa com uma ideia bastante inusitada (essa de se encantar por xadrez), mas vai piorando muito. O filme não dá consistência aos dramas dos personagens ao redor, o texto é fraco, cheio de lições de moral e ainda termina com uma improvável participação dela no torneio, (e uma vitória o mais moralista possível). Mais um filme sobre "vencer na vida" o que já revela um tom forçadíssimo.

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  3. Continuo com a minha raiva de não poder assistir a estes filmes do Festival.... Mas, estou adorando acompanhar a tua cobertura dos filmes que você anda vendo por lá!!

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  4. Belíssimo filme. A história é original, a atriz é muito expressiva e chega a ser bela, atraente e charmosa na sua simplicidade; tudo no longa funciona bem, com uma direção segura e - vá lá uma expressão que se usa no futebol - sem firulas. Fiquei encantado.

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