O Cinema em sua essência é uma Arte Fetichista. A câmera é uma entidade erotizada. Ela é o voyeur. Ela é a que tudo observa, explora, registra como em um ato de despir o personagem e mover a ação a um clímax. Ela realiza tentativas para um melhor enquadramento ou tomada como corpos fílmico e cênico que tentam se encaixar perfeitamente. Ela testemunha a emoção da narração, envolve-se com o ato para chegar ao prazer e intenção da mensagem transmitida. Ela existe para convidar o público a uma jornada libertária de observação e identificação mimética, para propiciá-lo o gozo cinematográfico. Observamos olhares, peles, toques, silêncios, intenções. Observamos a nós mesmos a partir do outro.
O Cinema é como viver um sonho, é como realizar o desejo pela autodescoberta, é como encontrar repostas à existência que geram outras perguntas. As pessoas não vão ao Cinema para assistir a um filme, elas vão ao Cinema para sonhar, para acordar por dentro, para reconhecer-se através da narrativa e do personagem. Bela da Tarde, obra prima surrealista de Luis Buñuel é um sonho erótico em forma de palpável película. Não sabemos se tudo é um sonho ou é real, mas o mais importante é que a fantasia do desejo sexual é realizada, mesmo que seja em um sonho ou em uma realidade. A bela Sèverine (Catherine Deneuve) é uma dama bem abastada, de finas roupas e com um casamento convencional. Nada disso a satisfaz, ela deseja ser uma prostituta de luxo, transar com homens desconhecidos, concretizar suas fantasias eróticas, sair do aborrecedor anonimato. Dessa maneira, o Cinema é o campo fértil para que sejamos voyeurs da realização do desejo de Sèverine e, a cada cena, possamos criar um vínculo de identificação com os personagens e com esses sensuais desejos.
Bela da Tarde é um dos filmes mais elegantes na Arte do Drama Surrealista com elementos eróticos. O sonho é um espaço perfeito para vivenciar os mais obscuros e ardentes desejos, assim como o Cinema também é um espaço perfeito para transpor e materializar o desejo em imagens, em todas as suas mais variadas formas e referências. Na foto acima, podemos ver Buñuel trabalhando nos detalhes de como os lábios do homem desconhecido beijam a pele de Severine enquanto ela está imóvel, amarrada, entregue à descoberta do prazer Fetichista. Podemos ver a preparação de uma cena antológica e fetichista de submissão erótica na qual Sèverine se mantém amarrada e é coberta por uma sujeira jogada sobre o seu corpo. Nos bastidores, isso não passava de alguma mistura de chocolate, mas a intenção era simular os mais excêntricos desejos sexuais do outro que colocam o parceiro em uma posição vulnerável, de total entrega à humilhação masoquista. Buñuel foi um cineasta exemplar ao tratar o fetiche com refinamento em um universo surrealista. Ele também soube como realizar uma excelente direção de atores, considerando que Catherine Deneuve está magnífica e consagrada com uma personagem icônica: Sèverine é uma das libertinas mais sofisticadas e misteriosas da História do Cinema.
Fotos extraídas de Luis Buñuel, Filmografia Completa, Editora Taschen.
Adoro o nariz da deneuve ehheheh
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