Se há um tipo de personagem ao qual o magnífico Al Pacino está destinado, esse é o de policial. Seu estilo viril, sarcástico, solitário e audacioso entrelaçado com uma boa dose de uma psicologia transtornada fazem do célebre ator um primor ao interpretar policiais dramáticos e duros na queda. Detetives como o Frank Keller (Vítimas de uma Paixão, de Harold Becker), Vincent Hanna (Fogo contra Fogo, Michael Mann, 1995) e Frank Serpico (Serpico, Sidney Lumet,1973) são o crème de la crème dos longas e colaboram para sustentar a força do conflito e da ação na narrativa e sua qualidade como Cinema. Em Vítimas de uma Paixão, Frank Keller é um detetive de Nova York que tem como desafio encontrar o assassino de uma série de homícidios de homens que têm encontros sexuais após responderem a uma coluna de correio sentimental. Ao lado do detetive Sherman (John Goodman), Frank inicia a investigação em busca da mulher misteriosa, a provável "viúva negra" que mata os machos após o coito. Ele publica um poema nos classificados de um jornal e, em um dos encontros, conhece uma das suspeitas, a loira fatal Helen Cruger (Ellen Barkin) com a qual começa uma incendiária paixão, colocando em risco a própria vida.
"Não consigo dormir na minha cama se você não está lá" (Frank)
O longa oferece uma boa interpretação anos 80 em versão colorida do Cinena Noir a partir dos elementos temáticos e estéticos. Atmosfera criminal e investigativa, um policial solitário e perturbado, uma femme fatale de personalidade ambígue e de sexualidade transgressiva e um suspense arrebatador em um submundo cínico e violento estão presentes na fita. Aqui, o assassino pode estar mais próximo do que se imagina, porém a teia de aranha é costurada de forma a propiciar tensão e dúvida no espectador, criando um clima de crescente desconfiança, de dissimulação, de obscuridade. Nesse quesito, o roteiro é muito bem articulado a partir do desenvolvimento dos personagens como o de Al Pacino e Ellen Barkin e da paixão e química sexual entre eles. Na estrutura de um clássico film noir, o detetive é um tough guy (expressão inglessa para nervosinho, esquentado), comportamento que Al Pacino tem o dom de interpretar e o faz muito bem. Normalmente, esse detetive é seduzido por uma mulher atraente e a narrativa demonstra que ele está com problemas, sejam financeiros, sejam emocionais ou de qualquer outro tipo. No caso de Frank Keller, ele foi abandonado pela esposa, que o trocou por um dos amigos dele, Gruber (Richard Jenkins), tem um pai muito idoso e carrega a solidão e a amargura de policiais que se dedicaram uma vida inteira às suas carreiras, são falidos afetivamente, sem ter procriado uma família. A atuação de Al Pacino é muito convicente sob esse aspecto e claramente demonstra que Frank Keller é moralmente problemático como boa parte dos policias em filmes, ainda que combata o crime. Ao conhecer Helen, Frank fica totalmente cego e dependente emocionalmente e sexualmente dela, o que poderá trazer consequências desastrosas à sua investigação.
O que você está procurando, hein? (Helen)
Pelo lado feminino, temos a ótima atuação de Ellen Barkin que incorpora muito bem a personalidade dissimulada e dupla da mulher noir assim como sua energia sexual borbulhante em quentes cenas de amor com Al Pacino. A mulher do Cinema Noir é o oposto da mulher doméstica e patriarcal. Ela domina sua própria sexualidade, logo Helen Cruger é um personagem construída para acender a paixão e confundir a mente e o coração de um policial, a angulação, iluminação e enquadramento em seu atuante corpo dão conta do efeito provocativo que ela tem sobre Frank Keller. É indiscutível fato de que a química do casal faz muito a diferença no longa, principalmente como ela é conduzida pela câmera de Becker, em detalhes, em um misto de romance de duas pessoas abandonadas no mundo e de sexo bem carnal de duas pessoas que só desejam transar intensamente. Ambos estão fantásticos nessa deliciosa combinação e se tornaram emblemáticos como um dos casais mais sensuais (e sexuais) do Cinema. Cria-se um clima de perigo, erotismo e dependência nessa relação, o que dá uma sensação de prazer iminente como um último gozo mortal, a fronteira entre a vida e a morte dos fervilhantes desejos, o orgasmo cinematográfico que descarrega toda tensão do suspense. Dessa forma, são incluídas no roteiro cenas nas quais Frank a procura em seu emprego, em uma loja de sapatos e em sua casa, nas quais são viciados um no outro, permanecendo na cama por horas e com a necessidade crescente de se verem, assim como cenas com brigas e mentiras. Ellen também seduz e confunde o expectador. Ela é uma mãe de família solteira, que cria a filha sozinha e foi abandonada pelo marido. Em alguns momentos, ela demonstra vulnerabilidade através do jeito de olhar, rendida pelo romance com Frank. Em outros momentos, parece ser o contrário, totalmente letal. A trilha sonora, com a adorável canção tema Sea of Love, de Robert Plant funciona como um personagem estranho e necessário nessa atmosfera obscura e solitária. Sua letra romântica são para os que carecem de amor e se apaixonam, assim como Frank e Ellen, as vítimas de uma louca paixão.
Título Original: Sea of Love
Gênero: Crime, Suspense
Roteiro: Richard Price
Direção: Harold Becker
Elenco: Al Pacino, Ellen Barkin, John Goodman
Olha, tem tanto tempo que vi ele, lembro que achei todo carregado na libido, no tesão, no desejo que corroi as veias e lateja o sexo ereto...rs
ResponderExcluirPreciso rever o filme, apimentarei ele e já!
Seu texto está muito interessante, Madame, pois coloca bem o teor carnal e toda a tensão de erotismo que o filme transparece!
Beijo!
Excelente!! Admiro muito todos os trabalhos do ator John Goodman. Estou na expectativa de sua participação na 3ª temporada de Treme que é a combinação perfeita de ótimos atores e uma história muito inspiradora que mostra a população de Nova Orleans na reconstrução de suas vidas, suas casas e culturas após o furacão Katrina. Quero muito ver a nova temporada.
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