Para uma mulher de personalidade forte e excêntrica, ser autêntica e desencanada tem prós e contras. O primeiro pró é que não há nada mais libertário, espontâneo e divertido do que ser ela mesma. O primeiro contra é que nem todos estão preparados para aceitar uma mulher que foge das convenções sociais e que não dá a mínima para agradar a quem quer que seja. Para ela, a inadequação a esse mundo de aparências é consequência, assim como receber críticas e ter decepções. Por outro lado, uma mulher assim é batalhadora e não tem o que temer. Ela sabe conquistar aqueles que saberão reconhecer sua singularidade e interior beleza. Babou é uma dessas mulheres. Intepretada pela formidável Isabelle Huppert em Copacabana, novo longa metragem de Marc Fitoussi, Babou é uma mulher de meia idade, descolada, desempregada e financeiramente desfalcada. Mãe de Esmèralda (Lolita Chammah), sua única filha, que a considera uma mãe meio louca, Babou é uma mulher que age como deseja: tem experiência de ter viajado como uma nômade, usa maquiagem e luvas hiper coloridas, fala o que pensa, não suporta trabalhar no que não gosta, ama o Brasil e MPB e sonha em conhecer o Rio de Janeiro. Um dia Esmèralda diz claramente à Babou que sente vergonha dela e que não quer que a mãe compareça ao seu casamento. A partir de então, Babou inicia uma jornada de transformação para obter o respeito e a admiração de sua filha: muda de cidade e arruma um emprego como vendedora de imóveis.
Copacabana, título do filme que homenageia a paixão de Babou pelo Brasil, é um filme sobre a autenticidade de uma mulher, mãe, amante e profissional. É um fime sobre Babou, uma mulher que não muda a sua essência e por ser assim deve ser respeitada e amada. Todo o roteiro é construído para enfatizar que Babou muda de vida para comprovar o que ela já era: uma mulher admirável e de espírito livre que continua sendo julgada levianamente pelas más línguas, mas que certamente encontrará a felicidade fazendo o que gosta, ao lado daqueles que a admiram. Ao mudar de cidade, ela conquista seu espaço na empresa e é alvo de maledicências de colegas invejosos. Ela demonstra sua bondade pelos sem-tetos e é traída por fazer uma boa ação. Ela se envolve sexualmente com um homem sem enganá-lo com falsas promessas de amor e é abandonada. Esses exemplos são elementos no desenvolvimento da narrativa que, ao fim, reforçam que Babou é Babou e é exatamente isso que a torna uma mulher especial que saberá entender a filha que tem, ainda que Esméralda a tenha magoado e seja uma garota insegura. Babou saberá virar a página após não agradar a todos. A força do longa é a excelente atuação de Isabelle Huppert e o protagonismo de sua personagem que é fortalecido pela experiência e maturidade da atriz. Ela leva muito naturalmente a interpretação como se fosse a própria Babou, o que oferece às sequências a autenticidade necessária ao papel principal, além disso o figurino excêntrico de Babou colabora para dar-lhe um visual híbrido e singular: uma mulher mais velha que mistura uma roupagem jovial colorida e pop com o charme adulto e afrancesado de um casaco de pele e de um batom cor rouge.
A direção é regular e tem o frescor do Cinema Francês, com os costumeiros e charmosos planos externos e um texto com tiradas bem humoradas, sem rodeios para expressar o realismo da situação. A trilha sonora é embalada por MPB, o que é coerente e bem intencionada para evocar o amor de Babou pelo Brasil, porém ela se torna inadequada em algumas cenas que não combinam a atmosfera imagética com a música. Dentre as comédias do Festival, Copacabana é uma das que têm o apelo mais dramático e menos cômico porque revisita a tensa relação mãe e filha e a questão da aceitação, logo é muito mais reflexivo na seara dos relacionamentos humanos. O show cinematográfico é a presença de Isabelle Huppert no auge dos seus 58 anos atuando ao lado da filha Lolita Chammah, uma jovem que ainda tem muito a aprender em termos de atuação, pelo menos, aqui ela não encanta e nem compromete a fita. O papel de Lolita é muito pequento perante o gigantismo interpretativo de sua mãe. Ambas se únem pela primeira vez em um longa-metragem e, por isso, é interessante perceber que essa produção deve ser muito mais representativa e comemorativa para Huppert, como um projeto pessoal e familiar. Após anos de uma bem sucedida carreira, Huppert está no mesmo caminho de sua conterrânea Parisiense, MaDame Catherine Deneuve, protagonista no longa Potiche: Esposa Troféu: ambas são atrizes icônicas do Cinema Francês e estão no Festival Varilux atuando em comédias que reconhecem o valor de suas personagens femininas.
Avaliação MaDame Lumière
Título original: Copacabana
Ano: 2010
Diretor : Marc Fitoussi
Roteiro: Marc Fitoussi
Elenco: Isabelle Huppert, Lolita Chammah e Aure Atika.
Continuo frustrada por não conseguir assistir a nenhum filme desse Festival!
ResponderExcluirBem divertido o filme. Eu, particularmente, adoro o trabalho da Isabelle Huppert, que sempre faz papeis de mulheres fortes e determinadas. Mas nunca tinha visto ela numa comédia. Sua composição pode ser um tanto exagerada, mas esse é o espírito da personagem. Por mais que sua excentricidade possa ser prejudicial, ela no fundo tem bom coração. A cena dela dançando música brasileira (em especial a cena no final) é impagável.
ResponderExcluir