Remake do clássico homônimo de 1946 estrelado por Lana Turner e John Garfield e baseado no romance de James Cain, O Destino bate à sua porta (1981) tem Jessica Lange e Jack Nicholson, respectivamente, como Cora Papadakis e Frank Chambers, um casal de amantes que se apaixona e vivencia uma jornada de tentativas de assassinato, mentiras, brigas e traições para ficarem juntos. Cora é a jovem esposa de Nick (John Colicos), um homem de origem grega, mais velho e dono de um restaurante de beira de estrada. Frank é um desempregado, de passado misterioso e mal resolvido que conhece o marido de Cora e recebe uma oportunidade de emprego local. Logo ao se conhecerem, Cora e Frank se sentem mutuamente atraídos com uma intensa carga de desejo e paixão, emblematicamente registrada na incendiária cena sexual na cozinha, na qual Lange e Nicholson performam uma transa muito realista e sedutora, demonstrando uma incontrolável química.
Acima, um magnífico trabalho de fotografia e direção. Posicionamento da câmera, respectivamente alta e baixa, para filmagem de planos abertos que são fantásticas paisagens rurais. Isso é Cinema!
Nessa imagem, temos um plano aberto noturno, excelente trabalho de textura de cor realizada pelo mestre da fotografia, Sven Nykvist.
O diretor Bob Rafelson realiza um filme bem diferente da versão de 1946. Ele opta por uma direção mais convencional com uso de planos bem abertos para as externas e mais fechados para os momentos domésticos, de conflito e sedução. Ele não se detém a realizar esteticamente e tematicamente uma obra noire completa, ainda que haja uma mulher sedutora e um homem decadente e de caráter duvidoso que tramam um assassinato. O cineasta enfatiza visualmente a vida rural dos Estados Unidos, o bucolismo das estradas, o comportamento rústico e brutal dos personagens e a paixão de uma homem e uma mulher que combinam um com o outro. Ele também é muito bem apoiado pela fascinante cinematografia do sueco Sven Nykvist, um dos melhores diretores de fotografia do Cinema, que trabalhou lealmente para os filmes de Ingmar Bergman, propiciando-lhes uma assinatura fotográfica muito diferenciada, atemporal. Nykvist torna o trabalho de Rafelson bem superior, considerando o nível de qualidade de sua fotografia e seu senso estético. O roteiro de David Mamet tem o seu crédito como Cinema, porém o filme agrada mais pela atuação, direção e fotografia. Até determinado avance da película quando o casal tenta matar o marido de Cora, o roteiro parece ter o seu fim e não ter mais nada a apresentar à vida desses dois amantes. Ele perde um pouco do ritmo tal que a pergunta imediata é: E agora, o que acontecerá agora com Cora e Frank? O que temos mais nessa história? O filme ainda tem algo a contar?, porém é dado uma nova reviravolta na narrativa de forma a criar mais conflitos entre o casal, assim como a chance de serem felizes.
As imagens acima são um exemplo de saturação de fotografia ao fim de uma relação sexual. Uma bela combinação de direção e fotografia com o simbólico calor de corpos que se fundem extasiados.
Jessica Lange e Jack Nicholson realizam um ótimo trabalho, principalmente porque a densidade psicológica de seus personagens tem um certo mistério que deve ser sugerido, imaginado pela audiência em meio ao óbvio de cada carater apresentado. Cora é uma mulher bonita e jovem que trabalha como uma Amélia e é tratada como uma doméstica pelo marido. Nitidamente é possível pensá-la como a mulher que casou com um homem mais velho para ter estabilidade financeira após a Depressão Americana. Ao vê-la na tela, não a imaginamos como a dona do restaurante, mas uma mulher de personalidade forte que trabalha como uma empregada: cozinha, passa e lava e que, agora, tem uma grande aventura: Frank, um homem capaz de tirá-la do anonimato e despertar o seu desejo feminino, o seu prazer afetivo e carnal. Nesse aspecto, o roteiro é muito virtuoso porque ele inclui a casca de Cora, ou seja, seu lado fêmea e seu lado doméstica, assim como a personalidade rústica e audaciosa de uma mulher que traí o marido debaixo do mesmo teto e está disposta a exterminá-lo. Por outro lado, Frank é o típico homem sedutor, pobre, desqualificado que não tem eira nem beira e pensa que a vida é fácil, mesmo que com o passar da narrativa, fique mais evidente que ele ama Cora e quer se casar com ela. O roteiro se encarrega de enfatizar Frank como aquele homem que entra(ou) na onda das atividades ilícitas: gosta de uma jogatina, inclinado a trair as pessoas, procurado por homens misteriosos que o acusam e/ou com quem ele tem contas a acertar, etc. Todos esses elementos reforçam o quanto é difícil Cora e Frank ficarem juntos e o quanto eles se apaixonaram com virtudes e defeitos. No geral, O Destino Bate à Sua Porta é um belo filme com um fundo de tragédia que aflora compaixão na audiência. É triste no desfecho. Após eles vivenciarem tantas situações, será praticamente como receber um soco do destino.
Avaliação MaDame Lumière
Título original: The Postman always rings Twice
Gênero: Drama
Roteiro: David Mamet
Direção: Rob Rafelson
Elenco: Jessica Lange, Jack Nicholson
Um grande filme sem dúvida alguma. Poucos atentam, mas a pareceria entre Nicholson e Rafelson rendeu filmes notáveis. Deu uma vontade de rever esse agora...
ResponderExcluirBjs
Nunca assisti a este filme. Mas, depois de ler seu texto e saber que ele tem roteiro de David Mamet e esse elenco ótimo, tenho que conferir!!!
ResponderExcluirMadame, cadê o meu comentário, tão caprichado e agora sumiu! Na próxima q eu consultá-la perco a motivação de perder o meu tempo escrevendo.
ResponderExcluirGuenia, não sei o que ocorreu com seu coméntário. Deveria estar aqui. Talvez com a mudança de url do blog tenha desaparecido, mas o estranho é que há comentários que continuam aqui.
ResponderExcluirLamento, realmente não sei onde está o problema pois não intervi no sistema.