Sou MaDame Lumière. Cinema é o meu Luxo.

Ultimamente ou eu estou muito exigente com os filmes que assisto ou eles são realmente um desastre. A vontade que tenho é desligar o DVD ou ...

Amantes ( Two Lovers) - (2008)



Ultimamente ou eu estou muito exigente com os filmes que assisto ou eles são realmente um desastre. A vontade que tenho é desligar o DVD ou sair da sala de cinema querendo meu dinheiro de volta. Um deles é Amantes pelo qual eu tinha uma grande expectativa (e como os trailers nos enganam... às vezes, vale mais a pena assistí-los que ao próprio filme). O filme acabou sendo uma outra decepção que não agregou tanto ao meu universo cinéfilo como eu esperava, principalmente ao meu universo sobre a análise das relações humanas através do cinema aferindo se o enredo propôs algo revelador e quão profundo isso pode nos afetar.

Idéias e comportamentos que vão contra o padrão engessado e cheio de clichês é sempre mais interessante para mim e, em Amantes, os mesmos dramas dos amantes se repetem com as mesmas frustrações e os mesmos fechamentos de ciclos que só desperdiçam as expectativas de quem sofre e, no final, todos optam por viver suas vidas igualmente problemáticas que não têm nenhuma relação com o que desejam seus corações machucados, mesmo que isso traga algum potencial alívio (mas quem garantirá?). Sou uma libertária, até mesmo para despertar a mim mesma através do cinema, logo minha expectativa era que as personagens de Joaquin Phoenix e Gwyneth Paltrow não mantivessem o comodismo de suas escolhas, trilhassem um caminho novo. No final, o peixe não nadou bem e ainda morreu na praia e, a isso, refiro-me à personagem de Joaquim Phoenix.



Amantes é a história de Leonard (Joaquin Phoenix), um homem deprimido que já tentou se suicidar por conta de sua decepção amorosa do passado e, agora, se vê dividido entre duas novas mulheres : Michelle (Gwyneth Paltrow), uma mulher de problemático histórico que envolve drogas e falência familiar e, ainda tem um amante executivo que paga o aluguel de seu apartamento, a controla e promete a ela largar a esposa mas não o faz, pelo menos, não no começo do filme. A outra mulher é Sandra (Vinessa Shaw), a amável e dócil nova namorada de Leonard, cujos pais estão em vias de ter uma sociedade o que favorece ainda mais a união do casal.

Estar "dividido" não é uma informação verídica na sinopse do filme porque, desde o início, Leonard se encantou por Michelle e já se apaixonou de imediato, logo para mim é bem claro que o filme não tem uma tensão sobre suas próprias escolhas amorosas em um triângulo amoroso intenso, porque ele só namora Sandra por conta de uma pressão familiar a qual ele acabou cedendo(talvez encantado pela doçura de Sandra ou por não ter outra opção, afinal Michelle está bem ocupada com o amante e se sente muito bem tendo Leonard como amigo disponível).

No decorrer do filme, Leonard se mostra um grande amigo com um senso de dedicação à família, à namorada e também à Michelle, logo apesar de demonstrar ser um cara meio esquisito, fora do convencional, ele acaba se tornando bem convencional com estas relações. Os pais se mostram bem controladores(há momentos que é triste ver tal controle) e ele se esquiva desta autoridade quando bem lhe interessa, principalmente na aproximação dele com Michelle, uma amizade que ainda traz a Leonard certas esperanças. Neste ponto, quando digo que ele nadou, nadou e nadou mal e ainda morreu na praia, quis dizer que ele simplesmente não se relaciona amorosamente com Michelle em boa parte do filme e, ainda assim não a tem efetivamente no fechamento do enredo; somente no final, ele tem algo mais carnal com ela de forma muito repentina e totalmente sem recíproco afeto no ato sexual (entenda aqui a famosa rapidinha que, sejamos sinceros, acabou acontecendo em um momento inconveniente).

Após um aborto, Michelle reflete sobre o seu papel de amante e termina o relacionamento com o executivo, oportunidade tal que é excelente para Leonard se declarar para ela. Eles transam e, de imediato, planejam fugir juntos. Obviamente ela não tem tanta opção (e é compreensível ela ter aceitado fugir com ele) , afinal sem dinheiro, sem apto, sem homem, o que lhe restava era Leonard ingênuo e surtado falando no ouvido dela "Eu te amo, vamos fugir juntos, eu vou cuidar de você" ! Ela dá um cano nele e volta para o ex-amante que decidiu largar a esposa. Ele fica umas horas vagando pela cidade com cara de que vai se matar e, finalmente, volta para os braços de Sandra. The End!



Não me odeie por contar o desfecho do filme (às vezes eu odeio fazer isso), mas ler o Madame Lumière implica estar preparado para estes relatos finais do enredo do filme, mesmo porque, minha intenção não é seguir um modelo de resenha crítica nem formalidades escritas. Eu simplesmente falo o que sinto no meu território livre o que me força a detalhar os pormenores que justificam minha opinião. Querido(a), o que é um desperdício total em Amantes é contar com os talentosos Joaquin Phoenix, Gwyneth Paltrow e Isabella Rossellini (no papel de mãe de Leonard) de uma forma tão irrelevante porque, embora Joaquin e Gwyneth tenham uma ótima atuação, o enredo não os ajuda, em especial Rosellini que recebeu um papel tosco e bem secundário.

Michelle é uma mulher que dá pena porque, embora o filme não tenha mostrado a vida que ela tinha, ela era bem formada e o pai dela era cheio da grana. Ele perdeu tudo e isso teve desdobramentos no psicológico dela. Ela se envolveu com drogas, virou assistente de um escritório de advocacia do qual o amante é sócio e ainda mora de favor com um apartamento no Brooklin pago pelo amante. Ela pode até amar o amante, mas tudo parece indicar que ela é vulnerável, carente, sem grandes amigos e sem um tostão no bolso, logo permanecer com o executivo que a leva a restaurantes caros e óperas ainda é a melhor opção do que Leonard que, além de ter um histórico problemático, ainda é um cara jovem, que mora e trabalha com os pais. Enfim, acabei concluindo que Michelle não é tão burra, se deu muito bem no final e o ex-amante ainda era a melhor opção que ela poderia ter. Ela se deu tão bem que no final ainda deixou seu papel periférico de amante para ter um papel central: o de Sra oficial do executivo.



Isso indica que, o maior ingênuo nesta história é Leonard e, pelo menos na minha opinião, ele se engana até o fim porque acaba ficando com Sandra após ser dispensado por Michelle. Um desfecho que não se move tanto pelo que ele queria, mas pelo que sobrou para ele e ele aceitou. Acredito que o filme tenha a intenção de mostrar que, no final, as pessoas optam pelo que lhes trará uma possível felicidade, segurança e bem - estar e, sob este ponto de vista, eu acho que o filme passou uma mensagem interessante. Michelle optou por um homem que podia lhe dar um nível de vida ao qual ela estava acostumada. Leonard acabou optando por uma mulher que podia lhe dar um nível de vida também seguro: esposa dedicada com família estruturada e, de quebra, um negócio comum entre os pais e um futuro certo com decisão presente favorável, principalmente sem stress de mais perdas emocionais.

Quantos de nós optamos pelo que nos é favorável? Talvez esta seja a melhor escolha a fazer. Talvez seja a única a fazer... para encontrar certa salvação.


Por Madame Lumière


Avaliação Madame Lumière



Título Original: Two Lovers
Origem: Estados Unidos
Gênero(s): Drama
Duração: 110 min
Diretor(a): James Gray
Roteirista(s): James Gray, Ric Menello
Elenco: Joaquin Phoenix, Gwyneth Paltrow, Vinessa Shaw, Moni Moshonov, Isabella Rossellini, John Ortiz, Bob Ari, Julie Budd , Elias Koteas, David Cale, Nick Gillie, Carmen M. Herlihy, Samantha Ivers, Anne Joyce, Mari Koda


Créditos fotos: Two Lovers

10 comentários:

  1. Sabia que esse dia ia chegar. Discordamos madame. Gostei muitíssimo de Amantes. Acho um filme profundamente sensível e disposto a investigar a natureza das relações humanas. Como o último paragráfo do seu texto exemplifica. Aliás não precisa se justificar em relação a falar o final do filme. Cinéfilo que é cinéfilo não se importa com isso. Pois sempre tem uma experiÊncia intensa ao assistir um filme que se deseja ver.

    Sobre Amantes, acho que é um fime muito bom e acho que vc tb achou isso. Acho que o pessimismo e até certo ponto o conformismo que ele escancara é que a incomodou maiormente. Pelo menos foi o que pude aferir de sua resenha. Estou certo? Perdoe-me se estiver errado. De qualquer maneira quero convidá-la para ler a minha critica do filme. Aqui o link: http://claquetecultural.blogspot.com/2009/09/critica-amantes.html

    Bjs madame!

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  2. Haha... eu também sabia disso! Mas acho super positivo este dia ter chegado pois já pensei que você era o lado male do meu alter ego haha... Sabe G, embora não gostei muitíssimo do filme, após terminar meus escritos sobre Amantes, percebi que eu tenho uma relação dúbia com o filme (exemplificada no final da resenha como você pôde perceber), logo acho que você tem razão... e hmm, você está mais para meu terapeuta que qualquer coisa mais haha!

    Após ter labutado um pouco na vida, eu tenho sérias dificuldades para aceitar comportamentos cômodos por parte das pessoas e você está certo em dizer que o filme escancara este conformismo que é o que me incomodou demasiado no filme. Eu esperava uma intensidade à flor da pele, principalmente de ordem mais decisória mesmo por parte das personagens.

    No final(e acho que é bom trocar esta idéia contigo a respeito do filme pois você me enxerga de fora), eu pûde ver que a decisão tomada por eles é a que eu também tomaria(friamente pensando a respeito).

    Beijo queridão. Vou visitar sua resenha e continuar a prosinha por lá.

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  3. Pois é madame. Que bom que vc apreciou meu olhar. Sobre a terapia. Bem, acho-a revigorante. Gosto muito de psicologia. Leio muito a respeito. Dos 12 livros que li esse ano, 8 são sobre ou a respeito do universo da terapia.
    Voltando a Amantes. É isso msm.
    Acho que o personagem de Joaquim quis-se fazer ouvir. Arriscou tudo ( sabendo que as chances de perder eram grandes) no que acreditava ser melhor para ele. A covarde foi a personagem de Gwyneth, que recusara( talvez por achar que não tivesse um futuro amplo na comparação com que o amante casado poderia prover)dar chance aquele sentimento, que inegavelmente, a despeito de rótulos, um sentia pelo outro.
    Ao personagem de Phoenix restou a desolação de vestir a carapuça ornamentada por seus pais, cuja maior representação era a a personagem de Vinessa Shaw. Por mais que se esforçe, ele nunca será capaz de ama-la inteiramente.
    Há de se considerar também o entendimento de "conformismo" aqui. Falamos de um personagem com tendÊncias suicidas. Seu conformismo com a vida e com a maneira como ela se apresenta então, não pode ser tomado com algo totalmente ruim.

    Mas ainda há muito mais a filtrar de Amantes. Continuemos o bate papo.
    Bjs madame

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  4. Também AMO psicologia, mas confesso: Meu pé é muito na Psicanálise e todos os diálogos da mesma com outros campos do saber, principalmente a Literatura. AMO Freud, Lacan, Jung... ahhh...Jung e seus arquétipos, amor sem fim, principalmente os do feminino que têm tudo a ver comigo. Tanto que quando fiz uma curta e quase inpagável terapia segui a linha Jungiana.

    Voltando ao Mr. Phoenix... você tem razão! Ele tem um histórico evidente de suicídio logo, ter chegado ao ponto de confessar o seu amor por Michelle e, ainda que sendo abandonado mais uma vez por uma mulher, dar a volta por cima e colocar o anel de noivado em Sandra. Isso é um avanço, mesmo que certamente, naquele momento, ele saiba que não a amava por completo.

    De fato, o que me incomodou em Amantes foi bem mais a personagem de Gwyneth e isso explica (bem mais) meu desabafo na crítica. Não tanto por ela se colocar no papel de amante (que honestamente, sem falso moralismo, eu acho periférico demais para qualquer mulher), mas por ela ser uma amante tão acomodada e totalmente dependente de um homem casado, financeiramente e emocionalmente. Já é difícil depender do marido, imagine depender do amante.

    Eu também estava na torcida para Phoenix ficar com Gwyneth. Dois malucos que se combinavam! :)))) Mas entendo bem os loucos pois também tenho minha loucura, no final, é bom encontrar alguém diferente como Sandra para nos dar uma normalidade(haha!)

    Beijos da Madame!

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  5. Monsieur G, percebi que você coloca que Leonard é bipolar na sua resenha e, embora notei este distúrbio comportamental dele no filme, eu não sabia que poderia confirmá-lo como um cara bipolar . Obrigada por me confirmar! Realmente ele tem um tipo de humor instável, entre momentos de eufórica resolução e a deprê clássica (Phoenix está perfeito neste filme).

    Penso que, se ele tem transtorno bipolar, então no filme é compreensível entender suas motivações loucas de fugir com Michelle e, ao conhecê-la por tão pouco tempo, já dizer que a ama e que vai cuidar dela. Eu achei que ele foi rápido demais com Michelle, tudo muito intenso para ele. De certa forma, ele ter ficado com Sandra e a balanceada vantagens de tal decisão equilibra os pólos dele, é como uma cura! E sempre é mais difícil para bipolares, logo, sob este ponto de vista, da forma que ele encontrou ou que o destino lhe reservou, ele não foi tão cômodo. Ele chegou ao meio termo.

    Beijos da Madame!

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  6. É verdade. E concordo com sua visão em relação a personagem de Gwyneth. Mas é justamente aí que Amantes brilha mais, pq quem julga esses dois personagens (o de Phoenix e o de Gwyneth)somos nós. Gray em momento algum nos induz a pensar de determinada maneira. O filme é um triunfo por relativizar os anseios desses personagens com a realidade deles. Sem pré-julgamentos. Um filme belissímo que como provamos nessa seção de comentário reverbera em nosso íntimo.
    Bjs madame

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  7. Obrigada, Reinado! Você conseguiu me mostrar algo que não me dei conta durante a exibição do filme. O diretor não toma partido de ninguém. Sim, isto é majestal, tem o poder de jogar a responsabilidade nas nossas costas, por isso provoca reações diversas.

    Bjs!

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  8. Eu heim? Vocês dois deviam se encontrar e começar algo além da amizade! Que lindo!!!

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  9. Haha, estes anônimos são umas figurinhas! Obrigada pelo comentário gentil. O amor que une eu e o Reinaldo está além dos corpos físicos, temos um amor comum por uma grande arte, o Cinema, o resto é consequência futura e nutrimos o começo de uma amizade.

    E se identifique, anônimo. Adoro saber quem são os fãs que torcem pela minha felicidade haha


    Bjs

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  10. Sabe, fiquei com vontade de conferir AMANTES depois da sua resenha, rs, mesmo não sendo tão positiva, fiquei curioso!
    PS: Aquele é o brraço da Paltrown ? OMG! Ela tem mais musculos que eu, rs
    PS: Esse anônimo, deveria procurar algo melhor para fazer, rs

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