2012 cansa o entusiasmo de qualquer pessoa que, no mínimo, já assistiu este tipo de filme catástrofe e conhece bem o enredo básico deste tipo de produção. Mesmo com os supremos e exagerados efeitos especiais que justificam assistí-lo em tela GG , tão gigante quanto as mirabolantes destruições do filme, basicamente, 2012 é formado por um casting previsível: um cientista (Chiwetel Ejiofor) e/ou uma equipe que identifica as alterações geológicas e/ou astronômicas da Terra, um presidente dos Estados Unidos (Danny Glover, associado ao presidente Barack Obama ) e seu staff, um herói ( John Cusack) que se envolve na história, estando ligado à uma família, normalmente uma (ex)esposa (Amanda Peet) e crianças ( Morgan Lily e Liam James, a propósito roteiristas adoram colocar crianças nestes filmes, coitadinhas!) e pessoas, prédios, carros indo terra abaixo ou pelos ares. Acrescentado a isso, há uma esperançosa expectativa de que tudo dará certo no final do filme, mesmo após assistir cenas de um Juízo altamente "terminal", mesmo que o presidente já esteja participando de um plano de evacuação que, sempre prioriza uns aos invés de outros pela lei do "salve quem interessa" e, para a irônica verossimilhança entre outros filmes desta espécie, o presidente faz aquele discurso sentimental e se recusa a fugir. Alguém me passa meu charuto cubano antes que o mundo acabe?
2012 é tipicamente a grande produção de entretenimento a partir do caos. E o caos atrai as pessoas, principalmente aquele que afeta diretamente o destino da humanidade e que esbarra em questões filosóficas, religiosas, antropológicas, geológicas e toda a sorte de pensamento controverso a respeito do Apocalipse que poucos saberão assegurar quando e como teremos o nosso fim. A catástrofe do filme é ele ser um caos apocalíptico mediócre por si só. Não é um filme horrível, mas se prende demasiado na tecnologia dos efeitos especiais, no poder de fazer o espectador fixar os olhos na tela e imaginar: Uau, como ele caprichou nestes efeitos! Uau, que mega investimento!" Uau, que filmaço ultra exagerado!" e, em paralelo, perde no próprio registro realístico da tragédia porque os diálogos são fracos, sem emoção, sem conteúdo, sem verdade. Basta somente analisar friamente a fuga de John Cusack, seus filhos, ex-esposa e o atual marido da esposa (Tom Mccarthy) que juntos, surrealisticamente, escapam da morte, fugindo de ruas que abrem crateras, prédios que caem, esvoaçantes lavas vulcânicas, etc.Os efeitos especiais, de fato, são avassaladores mesmo sendo irrealistas e barulhentos, mas a expressividade deles na fuga pareciam que estavam em um parque de diversão fazendo uma simulação do fim dos tempos, por um momento, comecei a pensar se Emmerick quis parodiar o fim do mundo. Meus Deus, isso sim é o fim do cinema, tragédia que vira riso! O único que merece o meu mais genuíno riso é Woody Harrelson, representando o radialista de um programa que fala sobre o fim do mundo como se tivesse narrando um clássico futebolístico.
Crítica negativa à parte, vamos ao que ele tem de melhor e a lição que podemos tirar antes que o mundo se afunde em terremotos, maremotos, explosões tectônicas, etc. Emmerich é campeão em elevar à décima potência estes efeitos especiais extravagantes e cheios de sensacionalismo, no entanto, não deixa de ser uma grande diversão com direito à uma boa dose de gargalhadas tão barulhentas quanto os efeitos especiais que, infelizmente, em 2012 só perdeu em melhor veracidade porque tudo foi tremendamente ultra, mega, hiper exagerado sem amarrar um enredo com conteúdo, tanto que o esvaziamento do enredo é o que mais me incomoda sendo que poderia ser aperfeiçoado. Tamanho exagero em efeitos especiais me faz pensar se ele é um megalomaníaco nato em demonstrar sua própria grandeza como diretor através destas mega produções bombásticas como se só ele fosse sobrar no planeta Terra após as mais de 2 horas e 30 minutos de filme. Neste ponto, você irá rir do filme porque fico a imaginar Emmerich com o controle remoto do vídeo game na mão ao invés de uma câmera e, aposte, nos meus pensamentos ele estava adorando destruir o mundo.
Por outro lado, 2012 não deixa de ser um alerta e traz à memória algo que julgo válido: o "semancol" se estamos fazendo algo que deveríamos estar fazendo - explico-lhes: de certa maneira, ele nos faz refletir o que estamos fazendo antes que o mundo acabe. Há culpa neste "não fazer algo"? É provável que a culpa apareça na hora da calamidade quando você menos espera. Até mesmo o staff governamental e técnico do filme faz cara de culpa por não ter avisado a humanidade há tempo. Estamos nos perdoando diante das pessoas? Estamos tentando reestruturar alguns problemas pessoais, rever nossas responsabilidades antes que não haja mais chance para tal? John Cusack protagoniza o drama familiar de um pai ausente que, de repente, corre para lá e para cá como um super herói tentando salvar seus filhos e a relação com os mesmos. Mesmo com estes clichês dramáticos dos fins dos tempos com a previsível ditadura do medo, tipicamente usada pela cultura americana, é um bom exercício parar e pensar sobre como nos posicionamos sobre o fim do mundo. Para alguns isso nunca acontecerá e é um discurso descartável, mas julgo que é um puro engano subestimar o fim do mundo. Ele já está acontecendo e talvez as pessoas não tenham se dado conta que o Apocalipse já está materializado em várias formas: violência, corrupção, pobreza, catástrofes ambientais, guerras, destruição da família, etc. 2012 é o aqui e o agora, as calamidades que todo o dia passam diante de nossos olhos, ao vivo ou pelos noticiários, então faça algo de bom para si mesmo e para o outro e demonstre amor e união antes que sejamos consumidos por nossas próprias forças destrutivas.
Por Madame Lumière
Título Original: 2012
Origem: Estados Unidos
Gênero(s): Drama, Ação
Duração: 158 min
Diretor(a): Roland Emmerich
Roteirista(s): Roland Emmerich, Harald Kloser
Elenco: John Cusack, Amanda Peet, Chiwetel Ejiofor, Thandie Newton, Oliver Platt, Thomas McCarthy, Woody Harrelson, Danny Glover, Liam James, Morgan Lily, Zlatko Buric, Beatrice Rosen, Alexandre Haussmann, Philippe Haussmann, Johan Urb.
Créditos fotos: 2012
2012 suscita tudo isso que você brilhantemente capturou em sua resenha. Desde o cansaço inerente a constatar que já se viu aquela "história" 1000 vezes, passando pela risada involuntária, pelo deslumbramento com os efeitos especiais e principalmente for uma inflexão( meio que forçada da nossa parte) sobre nossa responsabilidade para com a idéia de fim do mundo. Para ficar em um exemplo recente, e brasileiro, peguemos o apagão. Uma banalidade se comparada aos eventos retratados no filme de Emmerich. As autoridades, totalmente desprevinidas, nada souberam fazer. Relatos de transtornos, caos, furtos nos metros, ruas e demais lugares se multiplicaram... Doentes ao relento em hospitais... desorientação...
ResponderExcluirO apocalipse, a despeito de previsões de fim do mundo, é como, novamente vc bem lembrou, uma mazela cotidiana.
Bjs madame!
Monsieur, comentário brilhante resgatando o tema do apagão. Obrigada por colocar mais luz no Madame Lumière!
ResponderExcluirDe forma muito inteligente, você fez um ótimo paralelo sobre a falta de informação das autoridades pós darkness day! Até hoje lembro-me da Record e Globo se degladiando por um link (no programa hoje em dia da Record) para ver quem entrevistava primeiro o ministro
Edison Lobão(que perfeitamente rima com apagão).
Isso me dá uma idéia clara das mentes obscuras do nosso governo, fadadas à escuridão de seus próprios egos.
Beijos da Madame!