O filme começa com esta abordagem mais extraconjungal. Michelle Williams é uma amável mãe de família que demonstra um amor muito especial e próximo pelo seu filho e tem um marido policial que trabalha na divisão anti-terrorismo desarmando bombas. O marido é ocupado o suficiente com o trabalho trabalhando noturnas horas extras, fato que evidencia que ele não tem tanto tempo para a relação e ela aparenta estar entendiada com esta vidinha. Ela conhece o charmoso jornalista (Ewan McGregor) e, muito rapidamente, traí o marido. Mas o que seria uma "pulada de cerca básica" traz consequências dramáticas para ela e, é exatamente nisto que reside um componente diferenciado e peculiar do filme: o peso da CULPA, do doloroso remorso. No dia em que seu marido e seu filho vão à um clássico jogo de futebol em Londres, ela recebe o amante em sua casa justamente na hora do jogo e, enquanto transam maravilhosamente no sofá da sala com a TV ligada, ela vê ao vivo a explosão do estádio, com um fatal ataque terrorista que assassina sua família. Ponto final, as consequências incendiárias ficarão à espera de sua audiência, elegante leitor.
Imagine como ficou o psicológico desta mulher e, principalmente o da madame que lhes fala quando antes dela atingir o orgasmo, vê a vida se destruir por inteiro com a perda do marido e do filho. Na hora, eu não sabia se eu ria, se eu chorava ou se eu a odiava porque, falando sério, é uma cena forte se pensarmos que é horrível, além da infidelidade, saber que a família estava indo pelos ares na hora que ela estava quase gozando. Confesso: fiquei com vontade de rir e o sentimento foi trágicômico: um mix entre a minha piedade pela tragédia que acontecera com ela mais a comicidade pela situação louca de ver a notícia do atentado na hora que o ritmo sexual estava muito bom. Mas, risos tragicômicos à parte, o filme não é só isso.
O Incendiário se desenvolve em dois planos no psicológico da personagem de Michelle Williams: a) o diálogo mais "externo" com a figura terrorista de Osama para o qual ela se dirige com uma reflexão sobre perda, pesar, etc e a amizade dela com o filho do possível homem-bomba ; b) o diálogo mais "interno" com a culpa e o sofrimento que ela carrega com o infeliz destino, as memórias e alucinações relacionadas ao filho, a posição de afastamento que ela assume com relação ao ex-amante jornalista e o crescente envolvimento com Mac Mattewfadyen, ex-chefe de seu falecido marido, um tremendo "mala sem alça" na minha gentil opinião.
Complexo, não? Sim, de fato o filme tem que ser assistido na íntegra para ser valorizado em sua complexidade, mas não espere uma super produção porque o filme foi um fiasco de bilheteria e nem foi lançado nos cinemas brasileiros, sendo lançado diretamente em DVD.
Mesmo que eu tenha me frustrado com o triângulo amoroso que poderia ter sido mais explorado na perfeita tensão sensual do adjetivo "incendiário", digo-lhes que o filme tem uma intenção muito superior do que minha incendiária, inicial e temporária taradice; sem dúvidas, é uma razoável produção cinematográfica com uma boa atuação de Michelle Williams dada a complexidade deste personagem e os conflitos que se desdobram com suas perdas intensificados pela culpa e a tristeza. A interpretação dela salva o filme, mesmo que em boa parte do tempo achei trágico eu lidar com o drama dela, o qual deixa o filme dramático, reflexivo e parado demais, sem a fluidez de umas emoções extras e mais intensas dignas de um enredo incendiário.
Por outro lado, é um filme através do qual passamos a questionar os desdobramentos de um ato terrorista, a refletir sobre os sentimentos daqueles que sofreram as sequelas com estes atos, a analisar suas factíveis relações com os terroristas e/ou qualquer pessoa que se relacione (in)diretamente com eles e, principalmente, a perceber o que perdemos em um passe de mágica capaz de mudar nosso destino para sempre. No final, concluo que assumir uma atitude infinita de dor, ódio e destruição pessoal após ser lesado por atos terroristas sejam reais, imaginários,emocionais, mentais, físicos ou de qualquer espécie não vale a pena, por mais que o coração diga "sim, eu preciso sofrer". A gente tem que encontrar vida para continuar vivendo, mesmo no meio da morte, a nossa e a do mundo.
Por Madame Lumière
Título Original: The Incendiary
Origem: Reino Unido
Gênero(s): Drama, Suspense
Duração: 100 min
Diretor(a): Sharon Maguire
Roteirista(s): Sharon Maguire
Elenco:Michelle Williams, Ewan McGregor, Matthew Macfadyen, Nicholas Gleaves, Sidney Johnston, Usman Khokhar.
Créditos fotos: The Incendiary movie.
Texto por Copyright Madame Lumière
"Minha inicial, incendiária e temporária taradice" Sensacional. Muito bom o seu artigo. Em que vc relata as suas expectativas, frustrações, o mote do filme e ainda faz uma análise sobre ele.
ResponderExcluirJá queria ver esse filme há algum tempo. O triangulo, confesso, não era ponto proeminente na minha vã curiosidade, mas isso foi transformado agora(rsrs).
Quanto a Michelle Willians, concordo com vc. Ela está se provando uma boa e despudorada atriz. Bem diferente do que sua personagem em Dawsons´s creek fazia supor.
Beijos madame!
Olá Reinado, luxuosíssimo seu comentário. Super obrigada pela sua visita! Se você quer disfrutar a atuação de Michelle Willians, o filme tem conteúdo para isso principalmente a performance do próprio drama de perder a família em uma condição como esta. O monólogo direcionado a Osama(rsrs), mesmo que meio forçado, vale a pena para reflexão. Beijos Monsieur Glioche!
ResponderExcluirAdorei mesmo este filme, vi no cinema ( em portugal) por acaso e vi em casa. É muito Dramático e tem de ser visto de uma maneiro menos critica em relação ao cinema, fiquei com dores de tanto chorar. Ela está òptima no filme, adorei a personagem e especialmente quando ela "falava" com Osama. Achei que o EwanMcGregor estava fraquinho e às vezes a perssonagem parecia um bocado perdida e sem sentido. Quanto ao trianglo... - no comments hehe. Gostei muito do review, vce é uma pessoa muito critica e consegue analisar os filmes de uma forma engraçada. Grande beijo *
ResponderExcluirOi,
ResponderExcluirObrigada pela sua visita. Que legal que tem um leitor que viu o filme em Portugal, tô ficando chique,rs!
Incendiário é um filme triste mesmo, deve ser uma dor tremenda interpretar o papel que coube a Michelle Williams e ela o fez bem,com todas aquelas alucinações que não ficaram piegas. Imagine eu se tivesse no lugar dela vendo o filho e o marido falecer enquanto ela está quase gozando, rs! Ai anônimo, eu fiquei sentida por ela mas eu ri também da situação.
Bjs!