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MaDame Cult: Um culto aos cult movies Antes tarde do que nunca é um dito popular que se aplica bem à Death Proof , cult movi...

MaDame Cult: À Prova de Morte (Death Proof) - 2007


MaDame Cult:

Um culto aos cult movies




Antes tarde do que nunca
é um dito popular que se aplica bem à Death Proof, cult movie do diretor Quentin Tarantino, e parte integrante de um projeto entre o cineasta e seu amigo Robert Rodriguez no qual ambos dirigem seus respectivos longas-metragens inspirados no terror trash dos filmes B exibidos nas sessões Grindhouses nos EUA. Tarantino dirige À prova de Morte e Rodriguez entrega Planeta Terrror, ambos como uma ode ao talento e liberdade artística desses diretores que combinam bem a estética B: terror, sexo, violência e humor. Com uma baixa aceitação nos cinemas Americanos, ambos filmes foram exibidos como um só, sob o título Grindhouse e foram separados por questões meramente comerciais e de caratér objetivo já que a projeção inicial das duas películas é bastante extensa e foi um fiasco financeiro . Para esse ano, o filme de Tarantino demorou para chegar ao circuito nacional Brasileiro e foi muito mal divulgado; com isso, deu continuidade ao background de fracasso da fita e à sua característica de ser 'um filme ame ou odeie', longe de representar o exito de Bastardos Inglórios. Mesmo se tratando de uma produção de baixo orçamento e concebido para seguir um bom nível de estilística de produções B, À prova de Morte merecia uma prova de reconhecimento mais popular à homenagem que ele se empenha a prestar: uma celebração ao Cinema B e à Arte de fazê-lo, com o fascinante e autoral toque de Midas da câmera Tarantinesca.






Seu argumento cinematográfico é bem simples e previsível para o gênero. Um grupo de garotas gostosas e com um audacioso senso de liberdade viajam de carro pelos Texas pela diversão e comemoração de estarem juntas curtindo a vida, e fatalmente são perseguidas por um brutal assassino de passado desconhecido. Nos papéis das garotas, destaque para Zoe Bell (queridinha dublê de Tarantino, interpretando ela mesma em fodásticas cenas automobilísticas), Rosario Dawson, Vanessa Ferlino, Sydney Poitier e Tracy Thoms, cada uma com seu feminino estilo pessoal, umas mais masculinizadas e corajosas, outras mais femininas e sedutoras, o que não falta é uma miscelânea de mulheres diversas para todos os gostos e processos de identificações, inclusive até uma fetichista cheerleader que será usada como objeto de favores sexuais. Elas param para beber em bares, dançar, jogar conversa fora. Os diálogos são descontraídos, liberais, bem humorados e falam de sexo, amor, homens, carros, Cinema, etc. A combinação bombástica de unir mulheres bonitas e carros é um apelo certeiro para o bel-prazer da ala masculina, e o feminino espírito libertário, desbravador, corajoso e vingativo em questão é uma inspiração para mulheres de forte personalidade, amantes da Arte cinematográfica de Tarantino e do poder em cena que o cineasta lhes dá.





Tarantino sabe exatamente como dar o tom referencial e autoral à sua obra pois coloca em evidência a beleza, a coragem e a vingança das mulheres, faz um culto à sua tara por pés femininos e como um exímio adepto da podolatria investe em constantes close-ups deles, insere bastante violência com a potente ação adrenalítica de carros em altas velocidades, capricha nas inspirações estilísticas nos anos 70 e suas cores as mesclando com elementos mais contemporâneos como celulares e revistas de beleza, exerce seu ótimo bom gosto musical em uma imperdível trilha sonora que apresenta a sonora canção automobilística The Last Race (Jack Nitzche) as sexies Baby it's you (Smith), The Love you Save, may be your own (Joe Tex) e Good Love, Bad Love (Eddie Floyd), a aterrorizante Paranoia Prima (Ennio Morricone) e a contagiante Down in Mexico (The Coasters), e ainda utiliza várias referências a outros filmes como o modelo de carro Chevy (de Pulp Fiction), o longa-metragem Corrida contra o Destino, a crítica ao mediano 60 Segundos com Angelina Jolie, menções às lanchonetes Acuña Boys e Big Kahuna Burger, nomes advindos respectivamente de Kill Bill e Pulp Fiction, citação à John Hughes, famoso roteirista de filmes adolescentes da década de 80, entre outros. Toda essa atmosfera de liberdade cinematográfica é intensificada no plano e na sequência da película pois cria-se um mundo mais livre, pautado no sexo, nas drogas, na violência, no perigo, no prazer do 'aqui e agora' no qual não há qualquer obrigação rotineira, ou seja, as garotas entram no carro e se entregam às aventuras de uma estrada seduzidas pela velocidade e por um mundo de possibilidades, mesmo que corram o risco de serem perseguidas furiosamente por um carro 'À prova de morte' e terem seus lindos corpos dilacerados por Stutman Mike (Kurt Russell, em formidável atuação e com uma cicatriz 'fetiche' na face). No elenco, também há a honrosa presença de Quentin Tarantino (como Warren, o dono do Bar) e Eli Roth como Dov (ator que participou de Bastardos Inglórios como o 'ursão' Sargento Donowitz).








Como é comum na cinematografia do cineasta, essa liberdade não é só comportamental, intríseca na atuação do elenco, mas está na forma como o diretor conduz a direção, a qual reforça mais uma vez que o melhor do filme não é o enredo em si, mas como a estética B é orquestrada em cena, como ela é valorizada no Cinema e se torna um prazer aos olhos cinéfilos. Tarantino filma um trash movie autêntico, com todos os cortes rápidos, sequências descontinuadas, riscos em imagens, ruídos no áudio, montagem mal elaborada e a violenta carnificina Tarantinesca, logo o expectador adentra o mundo trash, com lugares cool que relembram os anos 70 e dá uma dimensão nostálgica de voltar no tempo e desejar vivê-lo agora, guiando um carro velozmente, transando muito e tomando uns drinks ao som de uma vitrola antiga no bar do Tarantino. Apesar dos erros necessariamente propositais das filmagens, há cenas emblematicamente bem dirigidas cujos recursos são uma homenagem ao bom Cinema; muitas vezes elas são bem-vindas através de pequenos detalhes como o ponto de vista da câmera, como por exemplo: quando Jungle Julia (Sidney Poitier) envia uma mensagem de celular ao seu misterioso flerte e o expectador é conduzido a ler a mensagem através da câmera atrás da atriz ao som da triste canção Sally and Jack de Pino Donaggio; as cenas do primeiro brutal assassinato na qual a narrativa é vista sob o ponto de vista de cada vítima dilacerada. A contemplação de cada corpo destroçado pelo carro é possibilitado pela divisão do tempo da narrativa na qual o diretor dirige quatro cenas do mesmo acidente com perspectivas distintas, os close-ups em elementos da época como a vitrola retrô e as bebidas assim como fetiches como pés e cicatriz, a cena da dança erótica com Vanessa Ferlito que vestida de shortinho bem curtinho, coloca o movimento de suas curvas sensuais dançando para seu futuro assassino e a vibrante cena automobilística com Zoe Bell no capô do carro, mais poderosa do que nunca. Mesmo que a fita tenha carecido de mais terror e sexo e perca um pouco do efeito apavorante, não faltam ótimas cenas que combinam o tesão do perigo e da sedução, o gozo da velocidade automobilística, o negro humor do terror trash e a sanguinária vingança feminina, bem a la Tarantino, colocando a mulher para viver, morrer, e principalmente matar.


Avaliação MaDame Lumière




Título Original: Death Proof
Origem: EUA
Gênero(s):
Ação, Crime, Drama, Terror
Duração:
114 min
Diretor(a): Quentin Tarantino
Roteirista(s):
Quentin Tarantino
Elenco: Kurt Russell, Zoe Bell, Rosario Dawson, Vanessa Ferlito, Sydney Poitier, Tracie Thoms, Rose McGowan, Jordan Ladd, Mary Elizabeth Winstead, Quentin Tarantino, Marcy Harriell, Eli Roth, Omar Doom, Michael Bacall, Monica Staggs





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Tarantino arrasou na escolha das músicas!

3 comentários:

  1. Darling...
    eu fico imaginando Marlene Dietrich fazendo umas das femme fatais so segundo ato.Pronta para pisar com salto no Stuntman Mike, rs!

    Sua construção de texto está perfeita, indagando a trilha sonora e detalhes pertinentes técnicos do filme. A cena do acidente em vários pontos de vista é um dos melhores momentos do filme (me lembrou artifícios de Jackie Brown numa sequência em um Shopping Center).

    O filme pode ter sido um fracasso, mas é um sucesso entre a nossa panelinha cinéfila de apreciadores Tarantinescos. Modestamente um grande filme!

    Bj.Bj.

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  2. Madame, preciso dizer algo ?
    Você já falou tudo!
    Eu, amei deliberadamente "Á Prova de Morte", divertido e completamente nostálgico, estou prestes a ver "Planeta Terror" para ver se é tão bom quanto este filme.

    Enfim, gostei muito do filme, principalmente a última cena. nunca tive tanto gosto em ver um cara mau caráter morrer! hehehehe

    Ótimo texto, Madame!
    Abs.

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  3. Perdi a chance de assistir a este filme quando ele passou aqui em Natal. E me arrependo profundamente disso...

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