A PlayArte, distribuição Brasileira do filme Diário Proibido foi púdica ao optar pela breguice desse título ao invés de irem direto ao ponto e dizer literalmente que é Diário de uma Ninfomaníaca. Há algum mal em falar aos quatro cantos do mundo que alguém é viciado em sexo? Não, principalmente nesse longa-metragem baseado na história verídica de Valérie Tasso, uma francesa ninfomaníaca para a qual o prazer sexual não tem limites, o sexo não tem hora de descanso. Ela gosta de comunicar-se com o seu corpo, de atingir o cosmos; segundo ela, o nome universal, cósmico do orgasmo feminino. Para interpretar Val, como é chamada gentilmente na película, escalaram a bela atriz Belén Fabra, talentosa o suficiente para harmonizar a elegância, a luxúria e a vulnerabilidade de seu personagem. No decorrer da projeção, Belén faz papel de amante, de namorada, de esposa, de amiga e de prostituta, e consegue sustentar a delicadeza e a sofisticação de sua beleza nas mais diversas, clicherizadas e libidinosas encenações. Parece ter nascido para interpretar uma puta chique e sensível.
No enredo, Val é uma mulher solteira, bem sucedida que vive sozinha em Barcelona e costuma visitar a avó na França (Geraldine Chaplin, em uma rápida e ótima aparição). No flashback fica evidente que, desde a primeira relação sexual na adolescência, Val percebeu sua insaciabilidade pelo sexo. Ela queria transar mais e mais, e os primeiros minutos de fita demonstram isso através de uma atrativa miscelânea de cenas eróticas bem realistas e excitantes que vão da cozinha até o banheiro, do evidente sexo oral ao aparente sexo anal. Com a perda de sua avó, que era também sua melhor amiga e a única capaz de compreendê-la, Val se envereda a buscar a felicidade amorosa pois ela tem aquele sentimento feminino comum pós-coitos casuais : a solidão, o vazio de ter sido só mais um corpinho dando prazer a um homem. O destino lhe presenteia com um empresário charmoso, apaixonado e endinheirado, Jaime (Leonardo Sbaraglia) que lhe provê uma nova casa, a possibilidade de ser feliz no amor e de ser a mulher de um homem só, no entanto a vida de Val mudará para sempre, para o pior e para o melhor, até um desfecho que se encaixa tão bem como um pênis e uma vagina. O filme é realista e narrado de forma prática dado o peso erótico da protagonista, combinando a fotografia do cotidiano de Val, entre suas narrativas em off no diário, suas investidas sexuais, seu sofrimento amoroso, seus momentos em casa e no trabalho, etc. O sexo não é de mal gosto, pelo contrário, é bem realista sem tomar o caminho do pornô escancarado, muito em função de que Belén Fabra encarna muito bem o papel com seu nu esguio e elegante e transa com espanhóis calientes que combinam muito bem com essa ambientação Andaluz.
A princípio, o título do filme não agrada; afinal se o diário é proibido porque ele teria que ser revelado? No entanto, traduções Brasileiras à parte, o diário não é o mais importante aqui, mesmo que Val o use para descrever sua própria jornada de redenção e comunicar seus sentimentos intimistas ao expectador. O mais relevante é perceber que Val gosta de sexo, mas o sexo em si não a define por completo, ela não é uma tarada sexual qualquer, ela tem alma e coração. Val tem uma vida solitária e não é diferente de tantas mulheres que transam muito ou não. Ela é carente e fantasia o homem amado. Ela deseja ser amada como qualquer mulher, mas não está dispensada de causar males a si mesma, buscando o prazer como forma de calar a própria dor do vazio existencial. Todos buscam a felicidade do amor, mas acima de tudo buscam a felicidade de estarem bem consigo mesmas, de se aceitarem como são. Nessa jornada, a busca pela felicidade é uma sucessão de erros e acertos, muitas vezes mais de erros do que de acertos, muito mais de desvirtudes do que virtudes, por isso, é perceptível que, seja no casamento seja na prostituição, Val obtém aprendizados fundamentais que são catárticos em um dado momento da película. Essa é a mensagem primordial de 'Diário Proibido', a da autoaceitação de uma mulher ninfomaníaca, afinal a busca de prazer sexual não deveria ser uma séria patologia, pelo menos, a busca do prazer sexual sadio e que preserva o amor próprio não é um mal patológico.
Título Original: Diario de una Ninfómana
Origem: Espanha
Gênero(s): Drama
Duração: 90 min
Diretor(a): Christina Molina
Roteirista(s): Cuca Canals, Valérie Tasso
Elenco: Belén Fabra, Leonardo Sbaraglia, Llum Barrera, Geraldine Chaplin, Ángela Molina, Pedro Gutiérrez, José Chaves, Jorge Yaman, Antonio Garrido, Jaume García Arija¹, David Vert, Xavi Corominas, Judith Diakhate, Natasha Yarovenko, Laura De Pedro
A história no mínimo é interessante, eu, pelo menos não conhecia este filme. Madame, vendo agora sua análise, o filme me parece ser um pouco "desprovido", afinal tudo se baseia na vida sexual dela ? Ou seja, ela tenta se entender através de suas loucas aventuras sexuais ?
ResponderExcluirBem, pelo visto o filme não é grande coisa, mais fiquei curioso, vou vê-lo e tentar tirar uma conclusão, hehehe
Abs.
Não conhecia e, sinceramente, não me interessou a ponto de eu querer assistir.
ResponderExcluirOi Alan querido,
ResponderExcluirNa verdade, o filme não é 'desprovido' dado que recortar o tema da vida sexual dela e mostrar alguns momentos de sua vida, como o casamento e a prostituição não deve ser avaliado só pelo sexo, há que ver que as fases da vida dela não ocorrem por conta do sexo em si, ela é uma mulher em busca de relacionamento afetivo, de ser uma mulher mais completa, como qualquer um de nós, sejam homens sejam mulheres, em algum momento da vida (ou sempre). Na verdade, ela tem uma jornada de vida que mesmo que use coloque o sexo em evidência, demonstra que ela tem muito mais a acrescentar que não seja o sexo. Esse é o 'bingo' da história.
abs.
Hmn, Madame. Entendo, bem... vou vê-lo, sim! Sua síntese agora me deixou mais interessado.
ResponderExcluirOs temas abordados neste filme é muito importante, eu acho que tem sido muito bom, especialmente para as apresentações bem executados. Sbarglia Leonardo fez um papel perfeito para ele e mereceu a liderança na O Hipnotizador, série dirigido Alex Gabassi e produzido pela HBO. É excelente.
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