Assim com a escola é uma instituição chave para a aquisição e o compartilhamento do conhecimento, a criação de valor educativo para a cidadania e o aprendizado e experiência das relações humanas, ela também é um local cruel, principalmente na conjuntura atual do Bullying, uma prática comum nas instituições de ensino na qual se pratica a violência física e psicológica em um grupo de alunos - que são humilhados nas mais diversas formas de agressão, intimidadas e ridicularizadas pelos bullies, os agressores que tentam chamar a atenção, criar um espaço de comando dentro da escola através da intimidação de suas ações, e encobertam transtornos psíquicos sérios de se divertirem com a humilhação alheia. Tal prática tem sido amplamente denunciada na mídia nos últimos anos, porém ainda é um problema comportamental e social que é silenciado e/ou desconhecido, seja pelas crianças e jovens que são agredidos, seja pelos professores, coordenadores e diretores de escola assim como pelos pais dos alunos. Para expor esse tema perverso de uma maneira prática e realista, o cineasta Josexto San Mateo dirigiou o longa-metragem Espanhol Bullying, um triste retrato da violência de desdobramentos traumáticos e irreversíveis para os agredidos e, para a sociedade que culmina em vergonha, culpa, depressão, baixoautoestima, suicídio, etc.
Bullying é construído a partir de uma câmera que projeta o expectador como testemunha e um roteiro que cria um contexto de adaptação e de crescentes humilhações para o agredido, apresentando Jordi (Albert Carbó, em uma madura atuação), um adolescente mais tímido, inteligente, que joga bem basquete e que acabou de se mudar com a mãe para Barcelona, Estela (Nadeska Abreo) uma mulher que acabara de perder o marido, faz tratamento psiquiátrico e trabalha como enfermeira em distintos turnos, o que evidencia que ela tem uma vida ocupada, está vulnerável psicologicamente e já tem problemas suficientes para lidar com mais um. Jordi é novo na escola, o que demonstra que ele precisa ser aceito e construir relacionamentos com os jovens daquela instituição, esse cenário no qual Jordi precisa se adaptar à uma nova realidade escolar faz com que ele seja tolerante com algumas brincadeiras que já evidenciam que são práticas sérias de bullying. Jordi é obrigado a fazer desde lições de casa para o agredido até desistir do basquete e ser ameaçado com armas de fogo. À medida que ele é cada vez mais agredido pello bully Nacho (Joan Carles Suau, insuportavelmente perverso, pueril, covarde e desequilibrado) e sua trupe, as violências se tornam mais grosseiras com chantagens que envolvem disponibilizar um vídeo de humilhação na internet, atingir o bem estar da família de Jordi e controlar até mesmo seu celular,entre outras. Não faltam crescentes humilhações que revoltam o expectador mais esclarecido levando ao desejo mais imediato de denunciar esses bullies, mentes doentias e muito perigosas.
Albert Carbó é um ator jovem bem talentoso e que demonstra bastante segurança na atuação sem torná-la demasiadamente e piegamente dramática, por isso o filme em si não se envereda a dramatizar ao extremo o psicológico de Jordi em boa parte da fita; há um certo controle comportamental nele como se, no silêncio, houvesse um fio de esperança de que tudo se resolveria com o tempo, tanto que ele continua levando a sua vida e até se apaixona por uma garota, Ania (Yohana Cobo, de Volver de Pedro Almodóvar). Mas essa falta de atitude no comportamento de Jordi não é gratuita. Ela tem uma intenção na película e é coerente com o Bullying. Na verdade, há vítimas que se comportam como se aquilo não estivesse seriamente acontecendo com eles. No entanto tal detalhe é como uma máscara, ou seja, muitas vezes o silêncio da vítima acumula-se 'silenciosamente' no sofrimento emocional e é desencadeado em uma irreversível tragédia final. O Bullying pode causar as mais diferentes atitudes em quem é vítima, e ainda que as agressões a Jordi são bem dirigidas e protagonizam a fita, Jordi é um garoto que silencia a violência não só por medo, culpa e/ou vergonha mas porque quer preservar também a vida de sua mãe, livrá-la de preocupações já que a família é só ele e ela apoiando um ao outro. Com isso, Carbó transmite bem a vulnerabilidade de seu sensível personagem mas ao mesmo tempo performa Jordi como um garoto que tem mais personalidade, mais maturidade, ainda que esteja sofrendo e permaneça em silêncio aceitando as diversas violências. O silêncio é um importante personagem no filme, não só em Jordi, mas nas atitudes dos colegas que não denunciam os bullies assim como a negação da escola que afirma que 'ali não há práticas de Bullying' , e os minutos finais de fita demonstram que Jordi precisou sentir a dor de quem ama para tomar uma dramática atitude. No geral, são os elementos atitudinais do roteiro e elenco que fazem a diferença no longa-metragem e transformam Bullying em um filme básico e de boa referência cinematográfica para educar a sociedade nesse tema, principalmente educar os jovens na escola, projetando a fita em sessões educativas, dessa forma, incentivando-os a não aceitar tal perversidade e denunciar mais esse câncer social.
Avaliação MaDame Lumière
Título Original: Bullying
Origem: Espanha
Gênero(s): Drama
Duração: 95 min
Diretor(a): Josexto San Mateo
Roteirista(s): Ángel García Roldán
Elenco: Albert Carbó, Yohana Cobo, Nadeska Abreo, Marcos Aguilera, Osvaldo Ayre, etc.
Infelizmente, o Bullying aumentou nos últimos tempos. È drastico isso. Gosto muito de filmes que retratam bem essa situção, abrir os olhos para a realidade. Agora, fiquei curiosa por esse filme.
ResponderExcluirBeijos, querida! ;)
Muito bacana o texto Madame, não conhecia o filme, claro, a história é muito interessante além de sempre atual, bullying é algo difícil e presente em todas as escolas é inevitávil, eu mesmo já fui vítima quando pequeno, mas isto é outra história.
ResponderExcluirVou ver se acho o filme para locação. Até mais Madame. Beijos =)
Gostei muito de seu post, e fiquei bem curioso pelo filme.
ResponderExcluirEsse filme torceu meu coração pelo avesso! Tive que parar algumas vezes porque não aguentava mais ver aquele menino sofrer. Mas é um alerta eficiente de um problema que é uma das maiores causas de fobia escolar. Ótima postagem!
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