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"Você achou que podia entrar na minha vida, virá-la do avesso sem pensar nos outros?" (Alex Forrest) O cineasta Britânico Adrian ...

Atração Fatal (Fatal Attraction) - 1987

"Você achou que podia entrar na minha vida,
virá-la do avesso sem pensar nos outros?"

(Alex Forrest)



O cineasta Britânico Adrian Lyne é mestre na arte de filmar o desejo, não a toa que seu background cinematográfico com filmes como Nove Semanas e 1/2 de amor, Proposta Indecente e Atração Fatal é digno de atiçar as mais loucas fantasias movidas a muita paixão e tesão, no qual a delícia é agir como um voyeur das cenas quentes e, ao mesmo tempo, dramáticas que se desdobram a partir do desejo incontrolável e a qualquer preço. Atração Fatal, o clássico e inesquecível thriller erótico dos anos 80 estrelado por Michael Douglas e Glenn Close, em papéis emblemáticos dentro do gênero, é uma prova de que muito mais do que filmar o desejo, o diretor acertou em cheio ao enfocar o passional desejo obsessivo, que culmina em rejeição, loucura e morte.







Em um dos mais realistas e melhores papéis de sua carreira, Glenn Close é Alex Forrest, uma mulher sedutora, misteriosa e psicologicamente instável que aparece na vida do advogado Dan Gallagher (Michael Douglas), casado com Beth (Anne Archer) e pai de Ellen (Ellen Hamilton Latzer). Seguindo o comportamento clichê e fantasia de alguns homens casados, Dan Gallagher conhece Alex em uma festa, puxa uma conversa flertante, e a partir desse momento, há uma atração irresistível entre eles que culmina em uma escapadinha conjugal de Dan durante a viagem de Beth. Com os amantes transando como coelhos, Adrian Lyne não perde a chance de seguir o gabarito do sexo casual, a incansável trepada com direito a cenas ardentes na pia, no elevador e uma esticadinha para movimentar os corpos com muita salsa e suor. Como o mundo das infidelidades conjugais não é perfeito, a traição de Dan não dá certo. Após o prazer, vem o desprazer: a vida dos Gallagher se torna em um inferninho básico em um enredo que transformou Glenn Close em uma mulher aterrorizante, desequilibrada e uma das melhores vilãs do Cinema; mas ao mesmo tempo, capaz de despertar no expectador a piedade pelos personagens trágicos, já que essa é a história de uma mulher rejeitada, mal amada, carente e bem vulnerável por trás de toda a pose de femme fatale.





Além de trazer temas como o desejo obsessivo, a violenta passionalidade, o erotismo, a infidelidade conjugal e a rejeição, há acertos relacionados como o roteiro foi desenvolvido por James Dearden e como Adrian Lyne dirige Atração Fatal, incluíndo aí o benefício do suspense e de um melhor apelo emocional e/ou sexual em cena, ou seja, são acertos que se estabelecem a partir dos detalhes em cena que fazem a diferença em como degustamos e sentimos o filme. Alguns exemplos: Sem pensar muito, os amantes tiram rapidamente suas próprias roupas íntimas, a torneira da pia é aberta quando Alex está transando com Dan. Enquanto a água caí, um close nos pratos e ela molha as mãos; a água faz o contraponto com o calor do coito, refresca o rosto de Dan e o corpo de Alex que umidifica seus seios logo mais beijados pelo amante em um misto de penumbra que oculta a transparência da camisa molhada de Alex; os closes no telefone que toca quando a amante persegue o homem casado e a esposa traída pode atendê-lo e descobrir a infidelidade repentinamente; o suspense em cena com uma chaleira que apita e a panela que ferve no fogão, e respectivamente, ocultam e revelam o perigo que coloca em risco a segurança familiar; a bela sequência na qual, ao som da ópera MaDame Butterfly, são alternadas cenas com Alex solitária em seu apartamento e Dan em estado de diversão com os amigos e a família; o contraponto entre uma família que está buscando uma nova casa para morar (construção da unidade familiar) e uma amante que está prestes a destruir tal harmonia (descontrução da unidade familiar); a violência passional em cenas como Alex chorando e se picando com uma faca, sendo agredida por Dan, enfim, são diversos detalhes no roteiro e como a câmera é dirigida que, embora acompanhados ou não de clichês, asseguram o status de um thriller psicológico que cumpre o que se propõe a dizer.





Embora Atração Fatal tenha conquistado milhares de fãs, que ora se horrorizaram com a psicopatia de Alex Forrester, ora se divertiram e se encantaram com suas insanas atitudes, ora se sensibilizaram com seu infortúnio afetivo, há um ponto de concordância com relação a essa película: Glenn Close é uma excelente atriz e transformou Alex Forrester em um papel memorável no gênero, colocando Atração Fatal como um filme obrigatório pelo argumento que apresenta. A forma como ela interage com a câmera é fascinante porque ela se move com a tragédia de seu personagem, definha junto com a sua obsessão e, como uma autêntica personagem trágica, alcança o ápice de uma tragédia em cena causando na platéia um sentimento de misericórdia por ela. Ela começa agindo de forma bem segura, sensual e liberal o suficiente para atrair Michael Douglas para a alcova, afinal são delas as palavras 'Somos adultos'. Aos poucos revela que é perigosa, descontrolada e intencionalmente capaz de provocar um estrago na família de Dan, porém mesmo com suas atitudes (auto)destrutivas, é uma mulher vulnerável, que enlouquece em sua paixão, obsessão e solidão; dá pena dela pois ela é uma mulher que chora como criança ao ver o seu ex-amante feliz com a família em uma nova casa. Como a própria semântica do vocábulo paixão, Alex sofre, e por sofrer com a rejeição, sua reação imediata é conseguir a todo o custo ter o homem que deseja, por bem ou por mal, seguindo à risca aquele ditado que diz: "se ele não ficar comigo, ele não fica com mais ninguém". Nesse processo, há bastante autenticidade emotiva pois os sentimentos são ambíguos, transitam entre o desejo e a raiva daquele que é jogado para escanteio, tanto que Alex age com comportamentos previsíveis: o desespero de pedir para que ele fique com ela mais uma noite, os palavrões que o xingam em uma fita cassette, o ciúme exacerbado, a perseguição à família do amante na qual Alex se serve de chantagens, sequestro, invasões a domicílio, etc.






O uso da dramática música clássica de Madame Butterfly de Puccini, ópera que relata a história da gueixa Cio-Cio-San 'A Butterfly' que renuncia sua vida, sua nação, sua família, tudo para dedicar-se ao amor pelo tenente americano Pinkerton, o qual não quer nenhum compromisso sério com ela é um ótimo recurso metalinguístico e dramático para desenvolver a tragédia dessa relação casual. Assim como Pinkerton, Dan não tem intenção de manter Alex em sua vida. Como o final original que foi cortado, Alex se suicidou ao som da dramática ópera, assim como a desesperada gueixa o fez, porém aqui o desfecho foi alterado. O infortúnio de Alex Forrest, além de sua insanidade homicida-suicida, é saber que Dan não ficará com ela, e o pior, quanto mais ela o deseja e o persegue, mais ele a rechaza, a odeia. Alex Forrest não é somente uma psicopata, mas também é um exemplo legítimo das cotidianas amantes rejeitadas e vitimadas por momentos de intensa paixão, seguidos de humilhante rejeição e um inevitável descontrole psíquico que, juntos, fazem côro à 'paixão, ciúme, obsessão cegam'. Amantes que deveriam seguir a receita clássica pós coito casual com homens casados: 'Não se apaixonem', porque como o próprio Adrian Lyne fez em Infidelidade e faz aqui de novo: os amantes se dão mal, a harmonia familiar é restaurada.




Avaliação MaDame Lumière





Título Original: Fatal Attraction
Origem: EUA
Gênero(s): Thriller Erótico, Thriller psicológico, Drama
Duração: 119 min
Diretor(a): Adrian Lyne
Roteirista(s): James Dearden
Elenco: Glenn Close, Michael Douglas, Anne Archer, etc.



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3 comentários:

  1. Madame, ótima análise, acho que já fazia um tempo que não te via tão inspirada com um filme, você gosta mesmo de "Atração Fatal", hahaha, se bem que, não é para menos o filme é realmente uma delícia. Glenn Close, está INCRÍVEL, acho que esta é a única palavra que a define neste filme, as atitudes de Alex são muitas vezes inimagináveis, ela realmente enlouquece. Eu gostaria muito de ver o final original, mas gosto do 'outro final', acho que teve mais a ver com o enredo do filme.
    Enfim, ótima análise.

    Abs.

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  2. Este filme é sensacional. Mostra como a atração, a paixão, a chama é levada às últimas consequências. Gosto pra caramba das performances da Glenn Close e do Michael Douglas. Os homens, aliás, deveriam aprender com o Michael Douglas.... Se traírem, podem cruzar com uma Alex Forrester da vida. rsrsrsrsrsrsrsrsrs

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  3. Excelente resgate de um tema que vc já tinha abordado aqui no Madame Lumière. Atração fatal é dessa riqueza que vc aventa mesmo. Um belo filme. Marcante e que influenciou demais a produção contemporânea.
    Bjs

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