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  "com esse filme, filmei muitas cenas externas e em grandes espaços bem cinematográficos: uma propriedade na África do Sul, ...

Os olhos amarelos dos crocodilos (Les Yeux Jaunes Des Crocodiles - 2014), de Cécile Telerman




  "com esse filme, filmei muitas cenas externas e em grandes espaços bem cinematográficos: uma propriedade na África do Sul, o mar na Normandia, a montanha em Courchevel... Adorei o plano com o guindaste, na África do Sul, por cima a criação de crocodilos! Não sabia que podia sentir prazer em filmar esse tipo de cena. Isso abre muitas perspectivas para o futuro".
( Cécile Telerman )




Por Cristiane Costa

 

Os olhos amarelos dos crocodilos (les yeux jaunes de crocodiles) foi um dos destaques do Festival Varilux de Cinema Francês de 2015  e é uma adaptação de uma das obras da trilogia da escritora Katherine Pancol, também composta por "A valsa lenta das tartarugas" e "Os esquilos do Central Park estão tristes às segundas-feiras". O produtor do filme,  Manuel Munz, comprou os direitos da obra e convidou Cécile Telerman (de "Algo que você precisa saber") para a direção. Ao lado da filha de Pancol, a roteirista  Charlotte de Champleury, a cineasta adaptou uma boa história que mistura drama familiar com comédia e tem marcantes atuações de Julie Depardieu e Patrick Bruel.


Katherine Pancol escreve sobre relacionamentos, trabalha com muitos personagens e uma variedade de intrigas e peripécias em suas histórias que valorizam emoções verdadeiras com as quais o leitor se identifique. Nesta obra, a historia aborda a relação entre duas irmãs de personalidades bem diferentes e um conflito relacionado à escrita de um livro best-seller. Josephine, a Jo, (Julie Depardieu) é uma mulher de 40 anos, pesquisadora da Idade Média. Embora depressiva e insegura com relação à sua inteligência e potencial, ela é uma mãe amorosa, esforçada e trabalha intensamente para sustentar as duas filhas, principalmente após um casamento falido. Por outro lado, sua irmã Iris (Emmanuelle Beart) é uma burguesa de beleza estonteante e gosta de curtir as boas coisas que o dinheiro proporciona. Ociosa e com um casamento em decadência com Philippe Dupin (Patrick Bruel), Iris é uma mulher que não consegue mais levar à frente seus projetos de escrever um livro. Não tem inspiração e nem força de vontade. Em uma determinada situação e para se exibir à sociedade, ela tem a ideia de mencionar que escreverá um livro sobre a Idade Média, tema que sua irmã tanto domina. O conflito central do roteiro começa quando ela pede à Jo que escreva o livro em seu lugar.



  
Jo (Julie Depardieu) e Iris (Emmanuelle Beart): duas irmãs, dois opostos.

"E eu logo me apaixonei pela relação entre as duas irmãs que é, ao mesmo tempo, repleta de meiguice e de cumplicidade, mas também de injustiças e manipulação. Iris e Jo são os dois lados da mesma moeda: cada uma deve sacrificar a parte complementar da outra para existir. E quando uma delas rompe o pacto que fizeram, a relação de força se inverte: é emocionante a contar e a filmar.  - Cécile Telerman



Embora o roteiro do longa se mantenha fiel ao livro, e portanto, ligeiramente se estende além da conta, inclusive adicionando sem muita necessidade o núcleo da relação entre o padrastro de Jo e Iris, Marcel Grobz (Jacques Weber) e de sua amante Josiane Lambert ( Karole Rocher), a história mantém o ponto de integridade narrativa nas funções dramatúrgicas e atuações do trio de atores formados por Julie Depardieu, Emmanuelle Beart e Patrick Bruel. São eles que não transformam o filme em uma caricatura maniqueísta das relações, ainda que o filme marque bem a diferença de perfis entre irmãs e a frieza do casamento dos Dupin. Iris  é uma mulher atraente e rica. Em teoria, ela tem tudo: beleza, dinheiro, casa, marido, filho e viagens, no entanto, paradoxalmente, ela não tem nada. Ela carrega a frustração de não ter seguido a carreira de cineasta e não estabelece muito afeto com o marido e o filho. Ela está apática. Com um comportamento manipulador, ela influencia a bondosa Jo a ajudá-la, mas é possível perceber que o "contrato" não tem pobres vítimas. De alguma forma, elas se amam e se apoiam. Há uma boa energia entre as duas. Elas podem ser compreendidas em suas faltas e demonstram que a relação entre irmãos costuma ser dúbia, divididos entre o amor, a raiva, a mágoa, os ciúmes, a competição etc.




"achei o trabalho de Patrick Bruel formidável. Seu personagem, Philippe, tem mais lugar no filme do que no livro. No cinema, a história é quase contada do ponto de vista dele. Ele é, ao mesmo tempo, a grande testemunha do confronto da sua esposa com a realidade e suas mentiras, mas também da eclosão de Joséphine. Patrick Bruel dá a ele muitas nuanças e humanidade" - Katherine Pancol sobre Patric Bruel 


Com melhor performance e um personagem bem interessante está Julie Depardieu. Da maneira de se portar fisicamente, toda curvada e insegura, passando pela fragilidade emocional do fim do casamento e o conflito com sua insuportável filha adolescente Hortense ( Alice Isaaz), a atriz é a grande estrela do filme, e apresenta uma maturidade excepcional para  interpretar a personagem com bastante consistência em cena. Sua personagem é a que tem o arco dramático mais realista e em melhor evolução, desabrochando em meio ao drama de uma separação e a necessidade de pagar dívidas, trabalhar e sustentar a casa. No geral, o melhor aspecto desta personagem é que ela não é uma mulher fraca. Pelo contrário, existe uma força interior em JO, um talento para a escrita, uma atitude de afeto e apoio à família que a torna bastante humanizada para a história.  Dificilmente uma irmã escreveria o livro para outra pessoa fazer sucesso, até mesmo para um(a) irmã(irmão), logo, estamos lidando com uma ficção que entra no terreno das injustiças e manipulações nas relações humanas, e principalmente, na difícil arte de dizer não e no desafio de se valorizar e superar os fracassos e inseguranças pessoais.




Cécile Telerman se destaca na direção de atores, bem apoiada pela direção de elenco de Páscale Béraud e na trilha sonora  delicada e sentimental de Frédéric Parker Aliotti, e  peca em fazer questão de deixar as cenas do affair do padrastro de Jo e Iris e sua secretária. Do ponto de vista da coesão e coerência narrativas, cortá-los não faria falta alguma à história pois o foco central é a relação de cumplicidade entre as irmãs, e também, seus conflitos. Por outro lado, um ator coadjuvante que realiza um trabalho seguro, necessário e de qualidade é Patrick Bruel. Seu personagem Philippe tem consciência da sua dor no Amor e da sua frustração com a própria esposa. É um personagem maduro, que ama o filho e que evolui para uma decisão importante. Sob a perspectiva da sensibilidade masculina em ver um casamento em ruínas e ainda sustentado em aparências, Philippe é um papel interessante e adiciona humanidade a várias cenas sem cair no clichê. Certamente, ele e JO seriam o casal perfeito para o mundo ideal das relações afetivas.





Ficha técnica do filme no IMDB Os olhos amarelos dos crocodilos
Distribuição no Brasil : Mares Filmes




Citações entrevistas -  Mares Filmes

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