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    Por Cristiane Costa A nova edição do Festival Varilux de Cinema Francês chegou com ritmo Brasileiro, pelo menos no título do...

Festival Varilux de Cinema Francês 2015: SAMBA , de Eric Toledano e Olivier Nakache

  




Por Cristiane Costa


A nova edição do Festival Varilux de Cinema Francês chegou com ritmo Brasileiro, pelo menos no título do filme de abertura do evento: SAMBA, de Eric Toledano e Olivier Nakache chegou com a simpatia dos diretores que conquistaram milhões de espectadores com o comovente "Intocáveis", além de ser encabeçado por um elenco de qualidade com Omar Sy ("Intocaveis"), Charlotte Gainsbourg (Ninfomaníaca I e II) e Tahar Rahim (O passado).  Porém, as  semelhanças com o nosso samba param no título  e em alguns ligeiros toques de brasilidade no roteiro, SAMBA é  nome do personagem de Omar Sy que interpreta um imigrante do Senegal que vive ilegal na França há 10 anos, luta com persistência para obter uma permissão de trabalho e dribla os obstáculos para sua sobrevivência realizando pequenos bicos. Samba conhece Alice (Charlotte Gainsbourg), uma executiva que se recupera de uma estafa e realiza um trabalho voluntário em uma ONG que apoia juridicamente os imigrantes ilegais. Unidos por problemas pessoais  mas sensibilizados pela incerteza de suas fases, Samba e Alice fazem amizade e se ajudam mutuamente.  O que lhe prepara o destino? Como diríamos no Brasil: Será que vai dar samba entre eles?






Eric Toledano e Olivier Nakache usam novamente o que tem como marca registrada e fizeram em "Intocáveis" : experiência, sensibilidade, leveza e tato para realizar comédia dramática que toca em temas sérios.  Assim como provocaram o riso com um bom equilíbrio entre o dramático e o cômico, tiveram um excelente protagonista com deficiência física e situações e diálogos hilários que nem todos os diretores de comédia - drama conseguem criar o mesmo efeito, em "Samba" eles continuam trabalhando com temas de Diversidade. Enfocam a  imigração na França, uma realidade recorrente nas cinematografias europeias e que pode ser facilmente aplicado como tema universal, considerando que, mais recentemente no Brasil, temos tido uma onda de imigração haitiana e senegalesa.  Neste sentido, os diretores são fieis ao seu método de fazer Cinema capaz de se comunicar com as massas de fora da França. Conforme afirmaram em entrevista, não se sentiram pressionados em repetir com Samba o mesmo sucesso de "Intocáveis". O mais importante foi a honestidade em trabalhar com um novo filme que também toca em um assunto relevante e  dramático.






Samba  não tem a bem articulada dramaturgia da relação entre os personagens em seu roteiro, isso é um fato. Ele é uma mistura de drama, comédia e romance no qual um homem e uma mulher se encontram em momentos de vida de vulnerabilidades, nos quais eles precisam superar as adversidades e contam um com o outro. Em "Intocáveis", a amizade entre os personagens de Omar Sy e  François Cluzet permitia criar um elo mais forte entre eles e um certo intimismo de quem aprende com a convivência um do outro. Em Samba, o roteiro é mais solto na relação entre Omar Sy e Charlotte Gainsbourg com vias a não criar um romance de intensidade e reviravoltas. Tudo é mais tênue, leve.  A prioridade é observar como o personagem de Samba "carrega a sua cruz" na busca por trabalho, fugas da polícia e tentativas de ser legalizado na França. Em uma destas situações, ele conhece Walid / Wilson (Tahar Rahim) que interpreta um "Brasileiro". A partir daí, o filme revela mais graça e diversão com o carisma dos atores. Com este personagem coadjuvante, Tahar Rahim exercita sua veia cômica, um pouco caricata em função do tipo de personagem, contudo, ainda charmoso e generoso em cena  e se destacando como um dos atores mais talentosos e queridos no Cinema Francês contemporâneo.





Samba é um filme que leva as coisas a sério sem se fazer de sério. Os diretores recorrem a códigos da comédia ligeiramente dramática e tira o riso de situações tristes. Neste apelo marcante de dramédia, o roteiro amplia mais a problemática da imigração ilegal nas cenas,  centralizando Omar Sy em várias situações desgastantes de quem é um estrangeiro na França mesmo após 10 anos no país.  10 anos é um tempo muito extenso para viver nestas condições de não ser cidadão de lugar algum! Em uma das cenas mais incômodas (e tratadas com mais seriedade pelo roteiro), percebemos como Samba tem que se ajustar a padrões sociais considerados "bem aceitos e dignos" para  disfarçar sua condição de ilegal. Não existe muita dignidade para ele e este aspecto é a maior comoção deste filme.  Ele vive se escondendo. Vive tentando convencer a justiça de que ele merece uma permissão de trabalho. Vive com medo de se envolver afetivamente com uma mulher. Vive sem grandes projetos. Vive constantemente em um clima de insegurança. 


Samba tem uma vida que não é precisamente cheia de vida, por mais boa pinta e gentil que ele seja. Ainda que dirigido de maneira descolada, o filme é uma denúncia de que um país não sabe muito bem o que fazer com os imigrantes ilegais a não ser mandá-los para seus países de origem. Para os imigrantes que optam por permanecer na ilegalidade, a escolha lhes dá uma via crucis. Algumas pessoas os ajudarão, outras não. Nessa incerteza de como viver um dia de cada vez com esperança, imigrantes como Samba precisam mentir e passar por vivências humilhantes. Vale a pena viver de mentiras? Vale a pena viver em um país sem nem ter uma permissão de trabalho? Vale a pena viver com a sensação de ser descoberto como ilegal a qualquer momento? Questões sérias que fazem parte da experiência com este comovente filme. Com um desfecho fácil, um dos pontos fracos de Samba, o filme é otimista. Os diretores continuam priorizando o entretenimento com risos.  Com Samba é possível perceber que pode haver esperança ainda que de forma politicamente incorreta, então vamos rir para não chorar.





Ficha técnica ImDB Samba



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