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François Truffaut foi um dos grandes admiradores de Alfred Hitchcock. Em entrevistas de 1962 com o mestre do suspense, lançadas no recomend...

Disque M para Matar (Dial M for Murder) - 1954




François Truffaut foi um dos grandes admiradores de Alfred Hitchcock. Em entrevistas de 1962 com o mestre do suspense, lançadas no recomendado livro Hitchcock/Truffaut, o cineasta Francês lançou a seguinte afirmação: Estamos em 1953, com Disque M para Matar... A resposta de Hitchcock foi direta, simples e sincera - Sobre o qual podemos passar rapidamente pois não temos muito a dizer. Disque M para Matar é conhecido como um filme que não entusiasmou muito Alfred Hitchcock, ele não tinha tanto orgulho de tê-lo dirigido e não o achava uma de suas melhores obras, contudo, Disque M para Matar é mais um suspense perfeito, muito bem elaborado com o requinte, a maestria e a técnica do cineasta e está muito em linha com os principais códigos de linguagem que fazem parte do estilo único Hitchcockiano. A fita continua sendo um primor atemporal que ressalta o completo controle do processo cinematográfico do diretor, com destaque especial para a concentração de lugar, a extensão do tempo, os planos fechados, a composição do roteiro, a escolha e direção de elenco, a fotografia e trilha sonora.



Baseado na peça teatral, Dial M for Murder, de Frederick Knott, a gênese da realização do filme começou porque a Warner Bros havia comprado os direitos da peça. Hitchcock já tinha uma experiência significativa e uma relação íntima com o teatro desde o início da carreira no Cinema Mudo e resolveu dirigí-la. A película gira em torno de um triângulo amoroso formado por Margot Mary Wendice (Grace Kelly, esplêndida), seu marido Tony Wendice (Ray Milland, em magnifíca e sofisticada vilania) e o amante, o escritor Mark Halliday (Robert Cummings). Tony é ex-tenista e o vilão da história que vive muito mais às custas da mulher abastada. Ele elabora um plano maquiávelico para assassiná-la. Para isso, não sujará as próprias mãos de sangue e chantageia o ex colega de estudos, Capitão Lesgate (Anthony Dawson, excelente coadjuvante) para dar o golpe mortal em Margot Wendice. Nem tudo saí como o planejado e entra em ação o policial chefe Hubbard (John Williams) para investigar a trama. O espectador é convidado a adentrar o voyeurista mundo do suspense Hitchcockiano para acompanhar os desdobramentos de uma tensa narrativa, recheada de excelentes diálogos e uma direção impecável com excelente domínio cinematográfico.



O roteiro é construído com um toque argumentista bem característico do diretor: A descoberta do vilão. Hitchcock não engana o público e convida-o a observar a psicologia dos personagens, na maioria das vezes, lançada a partir de closes de câmera. No início da trama já sabemos de todas as más intenções de Tony, já sabemos que Mary é uma adultéra discreta e com ares de boa esposa, já sabemos que Lesgate é um mentiroso oportunista que topa qualquer má conduta por dinheiro, já sabemos que Mark é genuinamente apaixonado pela amante. O adultério é claramente mostrado e Mary age como se não estivesse traindo o marido, convivendo bem com ambos a ponto de conversarem e rirem juntos. Tony e Mark também interagem dissimuladamente e chegam a sair para um evento. Em uma cena Mary está beijando o amante trajada de figurino vermelho passional. Em outra, está à mesa com o marido trajada de figurino branco matrimonial, desfrutando de um momento conjugal no cotidiano casamento. Essa alternância de figurino, do vivo ao casto e, depois, ao sombrio é como um termômetro emocional e foi propositalmente planejada por Hitchcock.




Mais uma vez e, de forma magnífica em condução de direção, Hitchcock realiza um filme com raríssimas externas e com fascinantes posicionamentos de câmera meticulosamente colocados. Em grande parte da fita, a ação é realizada na sala do apartamento dos Wendice. É impressionante como Hitchcock consegue extrair o máximo de um lugar aproveitando de todos os recursos cenográficos: abajures,cortina, mesa, maçaneta da porta, chave, tesoura, meia, tapete, etc. Nada passa desapercebido e nada está gratuitamente colocado, assim, exercem uma função em cena. Mesmo com a concentração local e os característicos planos fechados, Hitchcock tem excepcional expertise em desenvolvimento e frescor narrativo. Suas sequências são arejadas com diálogos perspicazes e personagens muito críveis, bem selecionados e bem interpretados por esse fantástico elenco. O envolvimento com a trama é tão intensa que não há espaço para claustrofobia, somente para discar H, para mais um emblemático suspense de Hitchcock.


Avaliação MaDame Lumière










Título original: Dial M for Murder
Origem: EUA
Gênero: Suspense, Thriller, mistério, Crime
Duração: 105min
Diretor(a): Alfred Hitchcock
Roteirista(s): Frederick Knott, baseado na peça teatral Dial M for Murder
Elenco: Grace Kelly, Ray Millard, Robert Cummings, John Williams, Anthony Dawson

4 comentários:

  1. "Disque M Para Matar" é um filme irretocável! Em roteiro, atuações e direção. Acho uma obra contundente e lógica do início ao fim. Não existe crime perfeito!

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  2. Ainda não li o tão famoso livro de entrevistas de Truffaut com Hitchcock, e também não sabia desse desprezo dele por esse filme. DISQUE M PARA MATAR é um dos meus favoritos do diretor, vale dizer. Só tenho a reafirmar o uso metódico do espaço de cena, a trama interessante e o ótimo elenco. Hitchcock perscruta o ambiente sob todas as possibilidades. Genial, nunca menos que isso.

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  3. Kamila, exatamente, um filme perfeito para dizer que não existe filme perfeito.

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  4. Mateus,
    Esse filme era considerado menor, de momento, porém ainda sim é uma obra prima e esteticamente impecável. Acho que verdadeiramente Hitchcock sabia muito bem que o filme foi feito com o seu melhor e por isso é tão especial. O espaço é muito bem utilizado e, com isso, o mestre só demonstra que sabe usá-lo muito bem, extendendo criativamente o tempo cinematográfico com muita pouca movimentação. É definitivamente um gênio!

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