No elenco, o ponto alto é Juliette Binoche, ainda que Jeremy Irons e Miranda Richardson estejam magníficos em seus papéis de homem infiel e mulher traída, principalmente no trágico clímax da película. É o papel de Binoche que divide as águas de uma família. A talentosa diva Francesa encanta com sua sutil beleza, elegância e o mistério de uma mulher de passado questionável. Quem é Anna Barton? Muito pouco é revelado e o pouco que é relatado deixa a incógnita: Ela é confiável? Ela é previsível? Talvez não, talvez não. Só é evidente que Anna Barton, ainda que guarde uma aparente vulnerabilidade e delicadeza, é uma mulher liberal, não destinada a ter homens que a comandem e disposta a ter uma vida dupla levando dois homens para a sua cama. Ainda que ame Martyn, ela tem a ousadia de deixar o desejo possuí-la por completo, transa com o próprio sogro, dando início a um triângulo amoroso de irreparáveis desdobramentos. Esta paixão é tão intensa e tão realista, principalmente na interpretação de Jeremy Irons que o fime é uma obra prima do desejo obsessivo que faz perder a razão. Desde o início do filme, Stephen é o político do alto escalão Inglês que tem uma aparente vida perfeita: emprego estável, posição e status sociais, esposa dedicada e filho talentoso. Tudo isso passa a ser menos relevante a partir do momento que ele só tem olhos para Anna. O talento de Jeremy Irons é visceral em Stephen, na forma como ele olha para a amante, na forma como ele a possue sexualmente, na forma como ele se desespera sem sua presença, na forma que ele se deixa consumir por incontrolável paixão. Sendo assim, Perdas e Danos na interpretação do ator torna-se um filme de uma obsessiva dependência do outro, no qual o primeiro ministro deixa cair a máscara da fria aparência, e não sabe exatamente como lidar com o turbilhão de emoções que recae sobre ele.
Louis Malle é formado em Ciências Políticas, logo para o cineasta deve ter sido um bel-prazer adentrar o universo de um político e fazer desmoronar a hipocrisia burguesa, no entanto há outras referências da filmografia de Malle aqui: A liberação sexual e traição femininas em Binoche assim como em Jeanne Moreau de Os Amantes, há em Binoche o incesto com o irmão assim como em outro filme de Malle, Sopro do Coração, há uma direção que valoriza uma estética visual pautada na fotografia e na pintura, basta observar a cena em que Juliette Binoche está na cama, de costas para a câmera e com o corpo nu como uma pintura viva. Além disso por trás do drama, há um verdadeiro thriller erótico , que guarda a tensa surpresa do que virá na próxima sequência e a densa carga psicológica no qual a todo o momento tentamos entender o que sentem os amantes, qual o verdadeiro passado de Anna com seu irmão, porque Stephen é destinado a ter um desfecho como aquele. As cenas em família com todo o simpático formalismo revela a hipocrisia das aparências, afinal os amantes fingem não ser amantes naquele ambiente tão culto e sofisticado na casa do primeiro ministro Britânico. A grande ironia é que os amantes não são os vilões da história, na verdade não há vítimas porque não há como controlar o desejo, a paixão obsessiva simplesmente acontece e é avassaladora, como nas emblemáticas cenas eróticas de Binoche e Irons nas quais numa delas ele braveja "Quem é você?, rasga sua roupa e a possue ali mesmo no chão. Ele não pode resistí-la e deseja devorá-la, ela quer ser devorada. Logo, a paixão tem que ser vivida no mais arrebatador do desejo carnal, mesmo sob o risco de serem surpreendidos por aqueles que eles mais amam. Assim, Louis Malle é um ótimo diretor para uma temática como esta porque ele não vulgariza a relação infiel, ela é realisticamente visceral inclusive as perdas e danos advindas desta traição, basta observar a cena em que Miranda Richardson tira a própria roupa e diz ao marido: "Alguma vez se apaixonou por mim"? Amou isto? Não bastava isto?" e mostra o corpo nu, o rosto de deprimente decepção como se nada mais fizesse diferença, até mesmo o seu falido casamento. Em seu desfecho, Perdas e Danos confirma mais uma vez que não há explicação porque nos involvemos em nossas intensas paixões, mesmo que elas nos tragam perdas e danos irreparáveis, somos impulsionados a vivê-las até nas lembranças mais distantes, mais marcantes.
Origem: Alemanha, Inglaterra, França
Gênero(s): Ação
Duração: 111 min
Diretor(a): Louis Malle
Roteirista(s): David Hare, baseado no romance de Josephine Hart
Olha, história espetacular. Fiquei interessadíssimo em conferir o filme, ainda mais tendo a direção de Louis Malle, diretor que preciso conhecer melhor dua filmografia. Ótimo texto!
ResponderExcluirBjs.
Excelente crítica. Descreve tão bem o filme Madame, que cheguei a me arrepiar todos os pelinhos do meu plote (à la Alex DeLarge). Rs!
ResponderExcluir'Perdas e Danos' e um filme que não perdemos nada e tampouco não é danoso em conferir. Simplesmente uma lição da vida que fica com os personagens, lindamente interpretados. Irons com seu machismo delicioso e sedutor e Binoche com sua delicadeza, sutileza e safadeza na mais naturalidade possível. O perfeito exemplo de libertação sexual sim, mas ainda acho que tudo é conduzido no sexo da maneira mais primórdia homem e mulher. Domínio e passividade.
Sem dúvidas Malle é referência para diretores como Almodóvar, Phillip Kaufman e por ai vai. Inclusive Pedro Almodóvar já fez inúmeras referências à Malle nas suas fitas. Acho que uma delas: "a mulher foi devorada por crocodilos", uma metáfora usada num dos diálogos em Má Educação, por exemplo.
Descrição e filme à flor da pele.
Adorei. Bjs. Darling!
Rodrigo
Para mim, o filme mais sexy da história do cinema!
ResponderExcluirParabéns madame. Além da ótima crítica (falar o óbvio né?!), vc teoriza o filme esplendidamente. Permitindo o leitor uma intersescção com a obra de Malle que sendo muito franco nunca havia me ocorrido. Parabéns.
ResponderExcluirBeijos
Mt bom
ResponderExcluirObrigada pela visita, desconhecido rs.
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