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MaDame Noir: O melhor do Film Noir por MaDame Lumière No preto e branco do Cinema Noir reluz o emblemático A Marca da Maldade de Or...

MaDame Noir: A Marca da Maldade (Touch of Evil) - 1958

MaDame Noir:
O melhor do Film Noir
por MaDame Lumière



No preto e branco do Cinema Noir reluz o emblemático A Marca da Maldade de Orson Welles, reconhecido como um dos últimos film noir da indústria cinematográfica das décadas de 40 e 50 e um dos melhores suspenses policiais da sétima Arte, o longa-metragem rendeu a controversa demissão do cineasta que não gostou da montagem final exibida nos Cinemas; mais tarde, a versão final finalmente chegaria aos admiradores do Noir e de Orson Welles, cravando a louvável experiência do consagrado cineasta do mais que perfeito Cidadão Kane. Baseado no romance Badge of Evil de Whit Masterson, A Marca da Maldade tem vários elementos da estética noir, a começar o seu enredo impregnado de cinismo, corrupção, criminalidade e perversidade que se inicia com o assassinato do magnata Linnekar acompanhado por uma loira anônima, dançarina de um cabaret na fronteira do México. Ambos estão no conversível do influente Linnekar e ambos vão pelos ares. O policial corrupto norte-americano Capitão Hank Quinlan (Orson Welles, deslumbante como sempre) está na investigação do crime ao lado do policial da anti-narcóticos, o mexicano Miguel Vargas (Charlton Heston) recém-casado com Susan Vargas (a blondie Hitchockiana Janet Leigh, de Psicose). O elenco também une os elementos mais estranhos e duais que se possa imaginar como a dona de um clube de striptease (Zsa Zsa Gabor, em aparição rápida), o tio Joe Grandi do narcotráfico (Akim Tamiroff), a deslumbrante Tanya (Marlene Dietrich, diva suprema até como guest e moreníssima),
um gangue de deliquentes juvenis e o estranho recepcionista noturno do Motel Mirador, entre outros. Como um excelente film noir com evocativa dualidade moral, em A Marca da Maldade todos são suspeitos até que se prove o contrário.






Seu início é um dos mais geniais da direção de Orson Welles. Em um plano sequencial preciso e de primor incontestável, somos conduzidos a esperar mais de 3 minutos para ver o que acontecerá no trágico destino do magnata. O suspense domina a nossa tensão porque o carro percorre o território mexicano e o norte-americano, e a câmera suspende ao máximo o
boom final, nos causando o desejo iminente de detonar a própria bomba. Como um formidável início de roteiro noir, há um crime que exige uma ação detetivesca. A película é tomada pela ambientação obscura da cenografia e a dubiedade das diversas personas do elenco apreende a nossa atenção. Quem é o assassino de Linnekar? É sua filha Marcia? É a loira fatal Susie? É o próprio Vargas? É o Tio Joe Grandi? Ou é qualquer outro anônimo? Não sabemos! Só há uma certeza no noir, estamos prestes a presenciar uma trama diabólica na qual alguém tentará acusar um bode expiatório de assassino, e no transcorrer da narrativa, a marca da maldade toma conta da película, de sequestro a outros assassinatos, este é o mundo noir contaminado pelo cinismo do homem, no qual imperam personagens sem qualquer moralidade, facilmente corruptíveis.





O fascinante personagem aqui é Orson Welles e o policial alcóolatra e de seco humor que ele encarna estupendamente. Quinlan é o retrato de uma existência falida, desde a morte de sua esposa que fora estrangulada, ele não supera tal fatalidade de não haver descoberto o assassino dela. Ao invés de lutar pela justiça coletiva, corrompeu-se como um policial que só pensa no próprio umbigo. Planta provas falsas e faz o trabajo sujo. A arrogância o consumiu por completo, e até o fim ele acredita que ninguém jamais descobrirá sua canalhice. Se por um lado, Quinlan tem a marca da maldade como um tatoo na sua perversa e doentia alma, somos levados a nos sensibilizar com o infortúnio do personagem mesmo que o mundo noir no qual ele viva não tem piedade dele. Quinlan trabalhou mais de 30 anos e não conseguiu ir a lugar algum, não enriquecera e nem mesmo a bela Tayna quer saber dele. Ele é um homem solitário e decadente, como dito muito bem pela diva Dietrich, ele não tem qualquer futuro. Definitivamente, Quinlan será consumido por seu trágico destino. De forma belíssima, Orson Welles enfoca o rico petróleo enquanto Quinlan confessa que nem dinheiro conseguiu na vida, demonstrando o fatalismo do destino do policial assim como o seu fracasso financeiro, além do moral. Por outro lado, o seu contraponto moral é Vargas, que é capaz de deixar a esposa sozinha em um motel de beira de estrada na mira de uma gangue de deliquentes do narcotráfico, a fim de que ele cumpra com as obrigações da 'justiça social'. Vargas é provado quando a criminalidade invade a intimidade do seu casamento e Quinlan o confronta, neste contexto, Janet Leigh tem um papel fundamental já que ela é usada em um plano de vingança da família de um criminoso preso por Vargas, além de brilhar com sua beleza, ousadia e emblemática face de assustada quando está em perigo. Desde essa época, ela já estava predestinada a ser uma diva de Hitchcock.







A direção de Orson Welles é suprema, da iluminação contrastante do preto e branco até os enquadramentos divinamente bem colocados como na climática cena final entre Vargas e Quinlan e os conflitos detetivescos que mudam o rumo do suspense com toda a sorte de traições, mentiras e armadilhas, Welles faz um trabalho minuciosamente estético em uma vibrante homenagem ao visual noir apoiado pela hipnotizante e realista fotografia de
Russell Metty e pela tensa e amedontradora trilha sonora de Henry Mancini, um deleite musical que imponhe mais suspense em bem selecionadas sequências. Somos impulsionados a entrar nessa atmosfera psicologicamente pertubadora na qual vemos a ruína existencial do homem como um momento fatal, a qual não há saída. Embora falte a figura da femme fatale de índole questionável, a Arte noir construída pela direção de Orson Welles e seu decadente Quinlan levam A Marca da Maldade à meca dos célebres filmes Noir. Inquestionavelmente se não fosse Quinlan, o filme não teria o mesmo impacto niilista de seu personagem. O policial corrupto seguiu o caminho da destruição moral e está jogado no vazio existencial, já de perna manca e voltando a se embebedar, nem mesmo o delicioso Chilli de Tayna ele pode saborear, o que lhe resta é a inevitável morte, a escuridão da maldade, o sombrio noir.




Avaliação MaDame Lumière




Título original: Touch of Evil

Origem: EUA
Gênero: Crime, Film Noir, Suspense, Clássico, Policial
Duração: 95 min
Diretor(a): Orson Welles
Roteirista(s): Whit Masterson, Orson Welles, Paul Monash, Franklin Coen
Elenco: Charlton Heston, Janet Leigh, Orson Welles, Joseph Calleia, Akim Tamiroff, Joanna Moore¹, Ray Collins, Dennis Weaver, Valentin de Vargas, Mort Mills, Victor Millan, Lalo Rios, Michael Sargent, Phil Harvey, Joi Lansing

2 comentários:

  1. Madame ótima análise sobre o filme. Fiquei muito curioso em conferir, gosto de filmes noir [mesmo tendo conferido poucos...]. Não tenho sombras de dúvida que este bom, ainda mais sendo do magistral Orson Welles!

    Abs.

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  2. O noir e cult por excelência my darling!

    Perco o fôlego e as palavras...e a sequência contínua? Nossa! Quando Welles estava interessado num projeto ele era Kane!

    E a Janet aqui. Ela sempre ficou melhor em preto e branco no cinema!


    Bjs

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