Amelia é um daqueles filmes biográficos difíceis de avaliar exatamente por faltar algo mais dramático, conflitivo, inspiracional em seus roteiros. É parte da gama dos mais contemplativos que ganham na atuação do protagonista, no figurino de época, na direção de arte e na fotografia, e deixam de desenvolver qualquer ação mais elaborada; tornam-se estranhamente medianos, permanecem como uma cinebiografia para poucos apreciadores, fãs e curiosos sobre a personalidade em evidência; no caso deste, a de Amelia Earhart, a mulher que revolucionou o mundo da aviação na década de 30, como aviadora, propagandista e militante dos direitos femininos e desapareceu misteriosamente nas águas do Pacífico em 1937. Estrelado por Hilary Swank no papel da pioneira aviadora americana, o filme tem no elenco Richard Gere no papel de George Putnam, editor, publicitário, grande incentivador e marido de Amelia, e Ewan McGregor como Gene Vidal, especialista em aviação e breve affair de Amelia.
"Todos têm oceanos para cruzar desde que tenham o coração para fazê-lo"
Amelia Earhart é uma mulher que simboliza paixão, pioneirismo, persistência, inteligência e audácia, qualidades que a tornam uma mulher-modelo em uma época machista e preconceituosa; consequentemente, ela é uma ótima personalidade para as cinebiografias Hollywoodianas que intencionam retratar indivíduos que superaram dificuldades, são inspiradores e tornaram-se mitos em suas áreas de atuação, além de ter uma singularidade: ser uma mulher na aviação, o que foi uma afronta em um universo bem masculino até hoje, basta ver a quantidade de mulheres que pilotam. Ainda são raras, por isso Amelia é uma boa idéia para elevar o reconhecimento das grandes mulheres da humanidade, principalmente daquelas que se arriscaram na aviação ou em profissões ditas 'masculinas'. Retratá-la com sua visão apaixonante foi a intenção e o foco de direção de Mira Nair, porém o roteiro não catalisa esta veia tão passional de uma forma tão emotiva, profunda, espontaneamente sublime. Apesar dos esforços de Hillary Swank, fisicamente bem caracterizada na masculinizada figura de Amelia Earhart e seu sotaque carregado, Amelia tem um viés caricato com um texto que apela para narrativas em off e citações inspiracionais que, se tivessem embutidas em um roteiro mais 'ativo, apaixonado e bem formatado', poderiam soar mais naturais e belas, menos prontas e evocativamente propositais. Mesmo as boas atuações do famoso trio de atores, sensível trilha sonora de Gabriel Yared, uma fotografia deleite de Stuart Dryburgh não fazem milagre para tornar Amelia uma cinebiografia diferenciada.
"Deixe eu partilhar minha vida com você. Me deixe tentar dar o que você quiser"
Este é o maior problema de Amelia. Ao mesmo tempo que ela é uma personalidade inspiracional, ela não o é por completo da forma que o filme a conduz. Este é o estranhamento da película. Mira Nair capricha em evocar a beleza imagética do mundo da aviação e dirige seu olhar para a paixão de Amelia Earhart, dado que desde o começo do filme, Amelia é decisiva no projeto de cruzar o Atlântico, e depois dar a volta ao mundo, nem que isso custe-lhe a vida. Ela diz "Eu quero ser livre, para ser uma desocupada do ar", citação que é um formidável exemplo do espírito da aviadora pois materializa o senso de liberdade e conquista de mulheres que têm sonhos desafiadores. Infelizmente, o roteiro não a ajuda. Ele trabalha nos desafios aéreos da aviadora com excelente reprodução da época, e fundamenta-se em um texto que aflora os sonhos de aviação de Amelia e o seu romance com George Putman.
"O que os sonhos sabem sobre limites"?
George a incentiva e sofre a cada vez que ela embarca sem a certeza de sua volta, o que transmite a emoção de que não é fácil amar alguém que vive voando nos céus e persegue este sonho continuamente, além disso é interessante notar que Amelia só aceita o casamento por amá-lo e pelo comprometimento de George em incentivá-la, mesmo que isso signifique perdê-la para sempre. Ele a ama tanto.É nessa relação de amor que Amelia tem os seus melhores momentos, entre o drama e o romance, entre a espera do ir e do vir de Amelia entre uma viagem e outra e, nem mesmo o affair dela com o charmoso Gene Vidal desanda a relação. Com isso, é perceptível observar que a película não tem a intenção de criar grandes conflitos (inter)pessoais, muito menos um sólido triângulo amoroso que renderia um apetitoso caldo McGregor-Swank; Amelia é uma respeitosa homenagem fílmica à aviadora, nada mais. Ainda assim, é bonito de ver que a história de uma grande mulher pode ser muito mais fascinante quando seu amado a compreende, a apoia e luta com ela para que os mais belos sonhos se transformem em realidade. Os minutos finais fazem a biografia crescer em qualidade cinematográfica, dada a tensa dramaticidade em um clímax de doer o coração, mas aí já é tarde demais, já é hora de aterrissar no final do filme.
Avaliação MaDame Lumière
Título Original: Amelia
Origem: EUA
Gênero(s): Biografia, Drama, Romance
Duração: 111 min
Diretor(a): Mira Nair
Roteirista(s): Ron Bass, Anna Hamilton Phelan, Susan Butler, Mary S. Lovell
Elenco: Hilary Swank, Richard Gere, Ewan McGregor,Christopher Eccleston, Joe Anderson, Cherry Jones, Mia Wasikowska, Aaron Abrams, Dylan Roberts, Scott Yaphe, Tom Fairfoot, Ryann Shane, William Cuddy, Elizabeth Shepherd,Richard Donat
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O filme não é ruim, é até agrdável. Mais a direção da Mira Nair deixa muito a desejar, deixou um filme insosso sem grandes atrativos, e olha que ela tinha uma puta história na mão..
ResponderExcluirHillary Swank esteve ótima, tivemos um Gere no automática e um Ewan que poderia ser melhor aproveitado!
Bjs =D
Oi, querido Alan
ResponderExcluirÉ um problema mais de roteiro e, depois, de como a diretora optou por fazer o filme, o que não é errado já que ela não quis dar gás nesta direção, concebeu uma película charmosa, contemplativa mas sem emoção à flor da pele. Foi uma escolha, era um risco tanto que Amelia não emplacou nas bilheterias americanas. Concordo com você que, com isso, ela perdeu a oportunidade de engrossar o caldo de uma desbravadora história.
A direção de Mira Nair é compreensível porque ela realmente não tinha a intenção de explorar a vida de Amelia como se fosse uma celebridade. É um filme bem mais visual, na minha opinião. Não prioriza ações.
Bjs!
É verdade Madame, o roteiro peca em não se aprofundar mais na vida de Amelia, ficou muito focado em " a primeira mulher a pilotar um avião..", acho que poderia ter mostrado mais quem era Amelia, ter tido uma melhor introdução de quando começou o seu amor pela aviação, e na minha oponião, o triângulo amoroso, este triangulo amoro poderia ter sido muito melhor aproveitado, principalmente o Ewan.
ResponderExcluirO visual do filme é incontestável, é mesmo lindo. E o final do filme ficou bacana também, mais o chato foi isso, justo na parte triste que teve mais emoção, e isso era algo que tinha que haver no filme inteiro! rs
Bjs =)
A história da Amélia parece ter sido facinante, mas no filme, aparenta que não foi muito bem trabalhado, uma pena. Mas, a trilha é muito boa. Assistirei, com expectativas moderadas.
ResponderExcluirBeijos, querida! ;)
Que pena que uma personagem com uma história tão inspiradora rendeu uma cinebiografia tão meia boca...
ResponderExcluirOi querida!!
ResponderExcluirGostei de sua análise quanto ao final do filme e obviamente você foi fiel ao abordar o filme e concordo com você quanto a direção de Nair aqui e ao roteiro. São falhas evidentes mas de fato o filme tem uma grande direção de arte e ótimo aspecto imagético.
Uma pena que o principal não tenha tido um resultado muito bom e com um elenco destes a diretora de ótimos filmes como: Kama Sutra e Mississippi Masala poderia ter tido mais audácia nesta cinebiografia. Algo como Martin Scorsese em O AVIADOR.
Eu gosto muito de outros filmes dela em especial: Casamento à Indiana e Cegueira Histérica com a Uma Thurman e a Gena Rowlands fazendo mãe e filha na fita!
A vida desta mulher é incrível mas não vi tudo isso em película. Na média é um filme bom.
Bjs!
Rô
Pra mim, o filme começa a ficar bom mesmo só no último ato, mas aí é tarde demais. Gostei da trilha e de alguns momentos de Swank. De resto, fraco, sem alma, monótono.
ResponderExcluirConcordo plenamente com você, principalmente em relação a falta de emoção e ao final tenso. Principalmente para mim que não conhecia a biografia de Amélia. É um filme curioso a se assistir, mas poderia ser muito melhor.
ResponderExcluirPena.
bjs