Lucia de B é um filme holandês de Paula van der Oest e é baseado em uma história verídica sobre a enfermeira Lucia de Berk, que foi acusada de matar bebês e pessoas idosas e permaneceu quase 7 anos na prisão. O processo jurídico de seu caso perdurou por anos, com idas e voltas entre apelações e envolvimento da Suprema Corte, além da histeria coletiva da mídia e os irreparáveis traumas emocionais para ela e sua família.
Esse filme é um thriller psicológico que, devido à ingenuidade de como o roteiro foi escrito, tinha de tudo para ser bem superior ao resultado final e articular melhor o drama pessoal com as tomadas em tribunal. Mesmo com essa lacuna, tem o seu valor exatamente pelo benefício da dúvida e o senso de justiça: Ela é inocente ou culpada? É fácil identificar a resposta logo no início do roteiro, mas somos incentivados a acompanhar a sua história e como há interesses individuais, empresariais e midiáticos em criar certos monstros que, na verdade, tem o direito de provar que são inocentes. Como a boa atriz Ariane Schluter carrega um semblante pesado e uma atuação de uma mulher deprimida e isolada, a caracterização de Lucia de Berk incentiva o público a achá-la esquisita, uma bruxa má.
As provas da acusação não são tão claras, nem desenvolvidas em profundidade e indicam que, ou o roteirista não conseguiu explorar melhor o plot do julgamento ou era a intenção expô-las superficialmente para evidenciar a fragilidade dos equívocos legais em um processo. Nesse aspecto das tomadas em tribunal, falta tensão e mais argumentação e, portanto, talvez o filme poderia ter trabalhado melhor essa representação na mise en scene. Outro aspecto é que personagens coadjuvantes como Sally Harmsen, que interpreta a assistente da advogada de acusação, replicam a fragilidade de seus próprios argumentos e o comportamento arrogante de alguns profissionais do sistema jurídico. Ela e sua chefe Ernestine (Annet Malherbe) são advogadas vaidosas que querem somente ganhar. Em uma das reviravoltas, fica evidente que é preciso olhar mais atentamente todos os aspectos legais. Dada a sua importância na história, Sally é um atriz muito júnior em cena e poderia ter sido melhor dirigida.
O diferencial de Lucia de B é o de "não julgar o livro só pela capa". Abra o livro e leia algumas páginas, tome as devidas referências, escute diferentes pontos de vistas e analise - o melhor. É um filme que faz o público pensar sobre as vulnerabilidades do sistema jurídico criminal e quantos condenados são injustamente julgados. É um tema bastante contundente em uma história que emociona pelo seu trágico impacto na vida de Lucia de Berk.
Ficha técnica do filme ImDB Lucia de B


0 comments:
Caro(a) leitor(a)
Obrigada por seu interesse em comentar no MaDame Lumière. Sua participação é essencial para trocarmos percepções sobre a fascinante Sétima Arte.
Este é um espaço democrático e aberto ao diálogo. Você é livre para elogiar, criticar e compartilhar opiniões sobre cinema e audiovisual.
Não serão aprovados comentários com insultos, difamações, ataques pessoais, linguagem ofensiva, conteúdo racista, obsceno, propagandista ou persecutório, seja à autora ou aos demais leitores.
Discordar faz parte do debate, desde que com respeito. Opiniões diferentes são bem-vindas e enriquecem a conversa.
Saudações cinéfilas
Cristiane Costa, MaDame Lumière